INTRODUÇÃO
O comprometimento da integridade anatômica e funcional da parede musculoaponeurótica
do abdômen é uma ocorrência relativamente frequente, com graus variados de
manifestação clínica, complexidade e agente causal, sendo representado
principalmente pelas hérnias nas suas diferentes formas, pela frouxidão ou
complacência exagerada do plano abdominal anterior secundários à obesidade ou
gravidezes e por sequelas pós-infecções, traumas ou ressecções tumorais.
Dados da rede pública do Brasil mostram uma média anual de 242 mil herniorrafias,
com
54% correspondendo às hérnias inguinais, sendo 99,4% por via aberta e apenas 0,6%
por laparoscopia, com 22% relatados como operados em situação de
emergência1. Acrescentam-se
a isso os pacientes operados nas redes privadas e as reparações secundárias a
demais
causas, indicando a magnitude do problema e exigindo um algoritmo na seleção
apropriada da técnica a ser adotada nas diferentes correções2.
Além disso, abaulamentos difusos por frouxidão de toda parede abdominal, com
comprometimento funcional e/ou estético, são também ocorrência comum e não
devidamente estimada em pacientes pós-cirurgia bariátrica, em gravidez de repetição
ou em mulheres de biótipo androide, afetando em graus variados a qualidade de
vida e
capacidades laborais em uma parcela bem maior da população, com grande procura
aos
cirurgiões plásticos para tratamento. Embora completas em sua integridade,
geralmente essas reparações exigem um reforço com telas após plicatura da parede
muscular em função do adelgaçamento das estruturas, prevenindo uma recidiva da
protrusão com comprometimento funcional e cosmético do resultado3.
Embora fatores de comorbidade como obesidade, diabetes e tabagismo possam afetar os
índices de recidiva4, a associação
de biomateriais permitiu reparar diferentes defeitos da parede abdominal com
importante alívio da tensão concomitante ao aumento da resistência local, reduzindo
esses índices em mais de 50% e evidenciando o fator mecânico como preponderante
no
sucesso das reparações5, tornando
rotina obrigatória o uso das “telas de reforço” nessas situações.
Após décadas utilizando telas sintéticas6, a partir dos anos 1990 houve a introdução de membranas
biológicas de origem animal ou humana - denominadas matrizes
extracelulares (MECs) - iniciando-se assim uma nova era na reparação
dos defeitos da parede abdominal7,
com resultados que estimularam sua adoção crescente em várias partes do mundo
nas
últimas duas décadas.
Diferentes tipos de membranas acelularizadas vêm sendo desenvolvidas a partir de
tecidos biológicos variados - como derme humana8 ou animal9,
mucosa intestinal10, tecido fetal
bovino11 e pericárdio
bovino12 - cada uma com
características relativamente distintas em termos de aplicações clínicas e
terapêuticas, descritas em inúmeras publicações científicas, de maneira geral
estabelecendo um novo padrão de indicações na reparação de defeitos da parede
abdominal, assim como em diversas outras áreas (Tabela 1).
Tabela 1 - Lista parcial de diferentes matrizes acelulares de origem humana e
animal. Todos esses produtos estão aprovados em diversos países e
disponíveis no mercado mundial para suas diferentes aplicações, com centenas
de publicações científicas, demonstrando a evolução e importância crescente
da aplicação terapêutica das biopróteses de matrizes extracelulares.
Espécie de
Origem
|
Tecido de
Origem
|
Aplicação |
Nome/Fabricante |
Humana |
Derme |
Partes Moles /
Mama Partes Moles /
Mama Mama/Tendão Mama Partes
Moles Prolapso Orgãos Pélvicos Feridas Crônicas
|
AlloDerm /
Lifecell AlloMax / Bard Davol AlloPatch / Musculosk
Foundation Neoform / Mentor Worldwide GraftJacket /
Kinetc Concepts Axis / Coloplast DermaPure / Regenix
Group
|
Fascia Lata |
Oftalmologia Prolapso Orgãos Pélvicos
|
Tutoplast
FL/IOP Suspend / Coloplast
|
Pericárdio |
Oftalmologia |
IO Patch /
IOP
|
Bovina |
Derme |
Partes Moles |
TissueMend / Stryker |
Pericárdio |
Mama, Vascular, Duramáter,
Fascia Odontologia Duramáter Válvula
Cardíaca
|
Veritas, Dura-Guard, PeriGuard, Vascu-Guard /
BAXTER CopiOs / Zimmer Lyoplant / B. Braun
Melsungen Perimount / Edwards Lifesciences
|
Porcina |
Derme |
Partes
Moles/Fascia/ Mamas Partes Moles Partes Moles, Mamas,
Fascia
|
Strattice /
LifeCell ColaMend, XenMatrix / Bard Davol Permacol /
Tissue Science Lab
|
Mucosa
Intestinal
|
Mamas, Fascia,
Duramáter Reparação Nervos Pericárdio / Tec.
Cardíaco
|
Surgisis, Durasis,
Oasis / Cook Biotech AxoGuard / AxoGen CorMatrixECM /
CorMatrix Cardiov
|
Bexiga Urinária |
Partes Moles |
MatriStem/ACell |
Equina |
Pericárdio |
P. Moles / Feridas Crônicas |
Unite / Synovis Ort. Wound Care |
Duramáter |
DurAdapt / Pegasus Biologic |
Tabela 1 - Lista parcial de diferentes matrizes acelulares de origem humana e
animal. Todos esses produtos estão aprovados em diversos países e
disponíveis no mercado mundial para suas diferentes aplicações, com centenas
de publicações científicas, demonstrando a evolução e importância crescente
da aplicação terapêutica das biopróteses de matrizes extracelulares.
Utilizando MECs produzidas por empresa com expertise na produção de
biopróteses de pericárdio bovino há 40 anos13, este protocolo analisou a aplicação de membranas
biológicas - Denominada Periwall® - em cirurgia reparadora da parede
abdominal, com aspectos ainda não descritos em humanos sob condições de normalidade
e não se identificando publicações sobre o tema na literatura científica
nacional.
OBJETIVO
O objetivo principal do estudo foi observar a funcionalidade de membranas acelulares
de pericárdio bovino na reparação da parede abdominal, assim como avaliar sua
similaridade com as demais biopróteses descritas na literatura.
MÉTODO
No período de Abril de 2018 a Janeiro de 2022, trinta pacientes foram submetidos a
reparação da parede abdominal utilizando a membrana acelular de pericárdio bovino,
14 homens e 16 mulheres, com idades entre 29 e 77 anos (média=48 anos), por
diferentes indicações e localizações, perfazendo um total de 40 implantes
anatomicamente individualizados, resumidos na Tabela 2. O seguimento mínimo foi de 10 meses e o máximo de 46 meses, com média
de 31 meses.
Tabela 2 - Relação das diferentes deformidades da parede abdominal reparadas com
biopróteses de membrana acelular de pericárdio bovino, totalizando 30
pacientes e 40 implantes anatomicamente individualizados.
Diagnóstico |
Número
de Casos
|
Número
de Implantes
|
Hérnias |
|
|
Inguinal Unilateral |
10 |
10 |
Inguinal Bilateral |
03 |
06 |
Incisional |
04 |
04 |
Umbilical/Paraumbilical |
02 |
02 |
Epigástrica |
01 |
01 |
Pós Bariatrica / Complacência Parede
Abdominal
|
06 |
09 |
Endometrioma De Parede Infra Umbilical |
01 |
01 |
Deformidades Associadas |
|
|
Hérnia Inguinal + Hérnia Supra
Umbilical
|
01 |
02 |
Pós Bariátrica + Hérnia Supra
Umbilical
|
01 |
02 |
Complacência Parede + Hérnia Inguinal
Bilateral
|
01 |
03 |
Total |
30 |
40 |
Tabela 2 - Relação das diferentes deformidades da parede abdominal reparadas com
biopróteses de membrana acelular de pericárdio bovino, totalizando 30
pacientes e 40 implantes anatomicamente individualizados.
Em caráter multicêntrico e devidamente aprovado pelo CONEP e pelos Comitês de Ética
em Pesquisa, os pacientes foram selecionados e operados em conjunto pelo autor
principal e pelas equipes de cirurgia geral com expertise na área
em três hospitais de referência de São José do Rio Preto - Beneficência Portuguesa,
Hospital do Coração e Hospital Estadual João Paulo II. Todos os pacientes receberam
termo de consentimento informado sobre a natureza do procedimento, descrevendo
a
necessidade obrigatória da tela de reforço para a correção do problema e as opções
existentes entre o composto sintético e o biológico.
Além da patologia principal e da classificação da natureza das feridas operatórias,
foram registradas as variáveis idade, Índice de Massa Corporal e eventuais
patologias associadas, importantes para os critérios de inclusão/exclusão do estudo.
Foram utilizados somente dois critérios de inclusão a saber - 1.
Foram admitidas somente cirurgias classificadas como “Limpas” e 2. Nos casos em
que
a indicação correspondeu ao padrão convencional descrito na literatura para o
uso de
telas sintéticas, ou seja, nas cirurgias em que a implantação de reforço da parede
abdominal foi obrigatória. Foram excluídos pré-operatoriamente pacientes obesos,
portadores de feridas operatórias contaminadas ou infectadas e portadores de
comorbidades associadas importantes (hipertensão arterial, diabetes tipo 1, enfisema
e/ou doença pulmonar obstrutiva), com relação risco-benefício considerada
desfavorável pela equipe médica.
Todos os pacientes foram operados sob anestesia geral, com média de internação de
1
dia, tendo recebido antibioticoterapia com cefalosporina 1g por dia por 7 dias.
Foi
recomendado o uso de cinta abdominal compressiva por um período de 120 dias, assim
como proibição de atividades físicas de esforço nesse período.
Além do acompanhamento clínico mensal, foram feitos exames radiológicos por
ultrassonografia em diferentes períodos do pós-operatório e, em 4 casos, ressonância
eletromagnética da parede abdominal aos 9, 11, 17 e 26 meses.
Em 3 pacientes foi possível fazer biópsias das áreas implantadas aos 13, 22 e 23
meses de pós-operatório. As lâminas foram coradas em hematoxilina-eosina, tricrômio
de Gomori e Picro-Sírius Red e submetidas a análises morfométricas.
Preparo das membranas
As membranas foram fornecidas estéreis em frascos contendo formaldeído a 4%
requerendo uma lavagem pré-implantação, conforme recomendação do fabricante.
Assim, a membrana foi colocada em uma cuba contendo soro fisiológico 0,9% e
manualmente agitada, desprezando-se a solução a cada 5 minutos e repetindo-se
o
procedimento por 3 ciclos, exigindo-se então 15 minutos para o material estar
em
condições de uso. Foram seguidos os princípios de “no touch” na
manipulação dos implantes e no preparo da loja, com troca e lavagem das luvas
para remoção de resíduos de talco e nova antissepsia do sítio cirúrgico
previamente à sua implantação, favorecendo assim sua mínima manipulação. Foi
preparada uma solução contendo 1000ml de soro fisiológico a 0,9% associado a
2g
de cefalosporina e 80mg de gentamicina, deixando-se a membrana já lavada em
imersão nessa solução até o momento de seu uso. Durante o processo de fixação,
a
mesma solução foi utilizada para irrigar toda área de implantação em períodos
aleatórios.
Técnica cirúrgica
A fixação das membranas foi feita com pontos separados e/ ou contínuos de fios
não absorvíveis de polipropileno (Prolene®) 2-0 ou 3-0 em sua periferia,
complementados com múltiplos pontos de adesão “em colchoeiro” em sua superfície,
evitando dobras do implante. De rotina, pontos absorvíveis de ácido
poliglicólico 2/0 (Vicryl®) ou Polidioxanona (PDS®) 2/0 foram aplicados
plicando-se o subcutâneo às membranas e aponeurose muscular em toda extensão
da
área descolada, para imobilização do retalho e redução máxima de espaços mortos,
prevenindo seromas e promovendo a maior superfície de contato possível da
interface membrana-tecido. Não foram utilizados drenos aspirativos em nenhum
dos
casos nesta série.
Nos casos de hérnias inguinais (19 casos) a membrana de reforço foi fixada ao
canal inguinal com pontos de Prolene 2/0 e mantida sepultada em posição
subfascial (Figura 1A). No fechamento da aponeurose foram dados pontos de Vicryl® 2/0
plicando-se a membrana como descrito. O tamanho médio dos implantes foi de 10
x
6cm.
Figura 1 - A: Intraoperatório de reparação de hérnia inguinal.
Visão da membrana fixada no canal inguinal, abaixo da fáscia
muscular (setas pretas) que será suturada, "sepultando" o
implante em posição subfascial. B: Implante de membrana
acelular em posição suprafascial, suturada diretamente sobre a
parede muscular após aproximação primária da musculatura.
C: Aspecto intraoperatório de hérnia incisional com
"anel" de abertura da parede com cerca de 10cm de
diâmetro, impossibilitando o fechamento por aproximação direta das
camadas musculares. D: Correção do defeito relatado em
C com implante "em ponte", fixando-se a membrana sob
tensão em toda borda do anel herniário, recobrindo diretamente o
peritônio.
Figura 1 - A: Intraoperatório de reparação de hérnia inguinal.
Visão da membrana fixada no canal inguinal, abaixo da fáscia
muscular (setas pretas) que será suturada, "sepultando" o
implante em posição subfascial. B: Implante de membrana
acelular em posição suprafascial, suturada diretamente sobre a
parede muscular após aproximação primária da musculatura.
C: Aspecto intraoperatório de hérnia incisional com
"anel" de abertura da parede com cerca de 10cm de
diâmetro, impossibilitando o fechamento por aproximação direta das
camadas musculares. D: Correção do defeito relatado em
C com implante "em ponte", fixando-se a membrana sob
tensão em toda borda do anel herniário, recobrindo diretamente o
peritônio.
Nas hérnias umbilicais e epigástricas (5 casos) foi possível fazer a aproximação
primária direta da musculatura e aponeurose, com pontos separados de
poliglecaprone 1/0 (Caprofyl®), sendo a membrana afixada em posição
suprafascial, suturada recobrindo a área tratada com fios
separados de Prolene 3/0 (Figura 1B). O
tamanho médio dos implantes foi de 6 x 6cm.
Em 3 hérnias incisionais o mesmo procedimento foi utilizado, com as membranas em
posição suprafascial e dimensão média de 10 x 10cm. Em um caso não foi possível
a aproximação primária da musculatura, sendo a membrana posicionada
excepcionalmente em ponte, diretamente suturada sob tensão
externamente aos bordos do anel herniário e sobre o peritônio (Figuras 1C e D).
Nas reparações por complacência exagerada da parede (8 casos) e reconstrução
pós-ressecção tumoral (1 caso), após plicatura muscular horizontal e vertical
com fios absorvíveis 1-0 de Caprofyl® ou polidioxanona (PDS®), as membranas
foram suturadas em posição suprafascial com pontos de Prolene 3/0. Estes casos
exigiram as maiores membranas - 15 x 10cm - como também houve a necessidade do
uso de mais de uma membrana, com posicionamento supra e infraumbilical em 3
casos.
RESULTADOS
Avaliações clínicas
Os pacientes apresentaram bons resultados, não se evidenciando recidiva das
herniações em nenhum dos casos, tanto clinica como radiologicamente. Também não
houve registro de hematomas, infecções ou qualquer fenômeno de natureza
reacional local ou sistêmica. Em 1 caso o paciente apresentou seroma
infraumbilical, tratado por punção aspirativa com retirada de 60ml de secreção,
sem demais recidivas.
Três pacientes foram reoperadas tardiamente, 2 para revisão de cicatriz aos 13 e
22 meses de pós-operatório e 1 para revisão pós-ressecção de endometrioma aos
23
meses. Em todas não foi possível a identificação visual da membrana previamente
implantada, então incorporada ao leito receptor de aspecto normal, sem áreas
reacionais e com leve fibrose cirúrgica da região. Em todas foram feitas as
biópsias na região correspondente à anterior implantação da membrana.
Avaliações radiológicas
As ultrassonografias, realizadas em diferentes períodos, não possibilitaram
qualquer identificação das membranas implantadas, mesmo precocemente. Nos
primeiros 30 dias de pós-operatório pôde-se observar pequenos seromas esparsos
na área dos implantes, sem relevância clínica, desaparecendo depois desse
período. Não foram observadas recidivas locais a longo prazo, assim como
alterações anatômicas da região operada (Figuras 2A-D).
Figura 2 - A, B, C e D: Imagens por
ultrassonografia de parede abdominal, pós-reparação associada a
implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes
períodos de pós-operatório. Imagens em A, aos 15 dias
pós-herniorrafia inguinal, e B, aos 30 dias pós-herniorrafia
incisional, mostrando pequenos seromas isolados, sem repercussão
clínica ou necessidade de drenagem. Em C e D, imagens aos 45 e 150
dias mostrando aspecto normal pós-reparação de hérnias incisionais,
com ausência de recidiva ou alterações anatômicas. As setas
identificam a interface subcutâneo/aponeurose muscular, com aspecto
anatômico habitual. Em nenhum dos casos a técnica permitiu a
visualização das membranas implantadas.
Figura 2 - A, B, C e D: Imagens por
ultrassonografia de parede abdominal, pós-reparação associada a
implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes
períodos de pós-operatório. Imagens em A, aos 15 dias
pós-herniorrafia inguinal, e B, aos 30 dias pós-herniorrafia
incisional, mostrando pequenos seromas isolados, sem repercussão
clínica ou necessidade de drenagem. Em C e D, imagens aos 45 e 150
dias mostrando aspecto normal pós-reparação de hérnias incisionais,
com ausência de recidiva ou alterações anatômicas. As setas
identificam a interface subcutâneo/aponeurose muscular, com aspecto
anatômico habitual. Em nenhum dos casos a técnica permitiu a
visualização das membranas implantadas.
Nas ressonâncias eletromagnéticas, realizadas aos 9, 11, 17 e 26 meses de
pósoperatório, também não foi possível identificar as membranas na região de
implantação, assim como sinais indiretos de sua presença. Não foram
identificadas recidivas locais ou alterações anatômicas importantes das áreas
operadas (Figuras 3A-D).
Figura 3 - A, B, C e D: Imagens por ressonância
eletromagnética de parede abdominal, pós-reparação associada a
implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes
períodos de pós-operatório. Em A, 9 meses de pós-operatório de
abdominoplastia pós-bariátrica; em B, 11 meses pós-reparação por
ressecção de endometrioma de parede infraumbilical; em C e D, aos 17
e 26 meses pós-correção de hérnia incisional. Em todos os casos as
membranas foram fixadas em posição suprafascial e os cortes
correspondem às áreas de implantação. Em A, C e D observa-se uma
anatomia normal da parede abdominal, com ausência de diástase dos
músculos retos abdominais (setas vermelhas), seromas, herniações ou
outras alterações. Em B, C e D observa-se nitidamente a interface
subcutâneo/aponeurose, apresentando aspecto normal, não sendo
possível identificar a presença das membranas implantadas.
Figura 3 - A, B, C e D: Imagens por ressonância
eletromagnética de parede abdominal, pós-reparação associada a
implante de membrana acelular de pericárdio bovino, em diferentes
períodos de pós-operatório. Em A, 9 meses de pós-operatório de
abdominoplastia pós-bariátrica; em B, 11 meses pós-reparação por
ressecção de endometrioma de parede infraumbilical; em C e D, aos 17
e 26 meses pós-correção de hérnia incisional. Em todos os casos as
membranas foram fixadas em posição suprafascial e os cortes
correspondem às áreas de implantação. Em A, C e D observa-se uma
anatomia normal da parede abdominal, com ausência de diástase dos
músculos retos abdominais (setas vermelhas), seromas, herniações ou
outras alterações. Em B, C e D observa-se nitidamente a interface
subcutâneo/aponeurose, apresentando aspecto normal, não sendo
possível identificar a presença das membranas implantadas.
Avaliações histológicas
Em todas as amostras as biópsias mostraram neoformação tecidual em substituição
às membranas implantadas, com importante deposição de colágeno e tecido
celularizado de aspecto normal, não sendo observados aspectos reacionais
importantes. Os achados e as análises morfométricas e estatísticas estão
descritas detalhadamente em publicação paralela a esta (parte II).
DISCUSSÃO
Matrizes biológicas acelulares têm sido cada vez mais utilizadas não somente na
reconstrução da parede abdominal, mas também de forma crescente em diversas
aplicações terapêuticas, revelando uma evolução conceitual na aplicação de
biomateriais. A natureza da organização molecular tridimensional distingue os
moldes
biológicos de matriz extracelular dos materiais sintéticos pela possibilidade
de
reparação por remodelação tecidual ao invés de fibrose cicatricial, estratégias
perseguidas pelos conceitos da engenharia de tecidos e medicina
regenerativa14.
O pericárdio bovino tem sido adotado com sucesso para essa finalidade com relativa
vantagem sobre os materiais sintéticos pela capacidade de ser incorporado aos
tecidos circundantes, demonstrando resistência à infecção, extrusão, erosão e
formação de adesões viscerais15-17. As membranas acelulares têm sido
particularmente indicadas na presença de feridas contaminadas e nas situações
de
contato direto do implante com as vísceras18,19.
Os resultados observados permitem afirmar que a matriz de pericárdio utilizada teve
comportamento similar ao documentado na literatura, apresentando funcionalidade
na
correção dos defeitos, sem registro de recidivas ou eventos reacionais e integração
aos tecidos adjacentes, com o neotecido oferecendo resistência mecânica satisfatória
a longo prazo. Foi possível observar diretamente a incorporação total das membranas
nas reoperações, além dos resultados descritos nas avaliações radiológicas. Neste
aspecto, embora atestando a integridade anatômica dos locais operados, as matrizes
não foram visualizadas ao ultrassom já a partir de 15 dias de pós-operatório,
assim
como por ressonância eletromagnética a partir de 9 meses, revelando assim a
ineficácia dos métodos como ferramenta de avaliação de MECs em pós-operatório.
O protocolo adotado não permitiu avaliar comparativamente as membranas em reparações
mais complexas e em feridas contaminadas, mas, pela similaridade apresentada com
as
características gerais das MECs descritas na literatura disponível, sua indicação
pode ser considerada sem restrições em futuras reparações da parede abdominal
naquelas condições. Deliberadamente, o protocolo limitou as indicações para casos
de
menor risco, classificados como de Grau I20, limitando comorbidades que pudessem interferir na
avaliação do implante em si na eventualidade de complicações.
Estima-se que até 75% das complicações são devidas a infecção, seromas e fixação
inadequada do implante21,22, justificando a metodologia
preventiva adotada. A rotina na prevenção da formação de biofilmes23, causa comum de eventos adversos
no uso de implantes, justifica a adoção rigorosa do conceito “no
touch” no intraoperatório24,25. O mesmo se
aplica na prevenção de seromas e fixação dos implantes, com pontos de adesão
“subcutâneo/implante/aponeurose” cumprindo vários objetivos de forma eficiente.
Com a imediata imobilização do retalho e implante, previne-se deslizamentos e
promove-se o maior contato possível da interface membrana/tecido, favorecendo
os
processos biológicos de reparação e incorporação da membrana. Além disso, reduz-se
ao máximo a presença de “espaço morto” no plano de descolamento, prevenindo seromas
e simultaneamente dispensando o uso de drenos.
Não foram utilizados drenos aspirativos em nenhum dos casos desta série e em somente
um caso houve a necessidade de punção aspirativa para tratamento de pequeno seroma.
As ultrassonografias realizadas em diferentes períodos do pós-operatório mostram
pequenos seromas esparsos presentes nos primeiros 30 dias, não sendo observados
nos
casos tardios, com interface subcutâneo/aponeurose de aspecto normal, sem a
visualização das membranas.
Além de ser mais confortável para o paciente a ausência de drenos, seu uso pode
favorecer a contaminação do sítio cirúrgico e não é devidamente demonstrada sua
eficácia na prevenção de seromas26,27, com uso restrito a indicações
excepcionais. Os resultados obtidos confirmam que a fixação rigorosa da interface
subcutâneo/aponeurose/implante, com suturas de adesão progressivas de toda área
descolada28, pode
dispensar o uso de drenos aspirativos nas reparações da parede abdominal na presença
de implantes.
Aspectos técnicos na colocação e posicionamento dos implantes em relação ao plano
muscular - subfascial, suprafascial, submuscular ou “em ponte” - são fatores
descritos que também podem aumentar o risco de complicações29,30. Nos casos operados nesta série as membranas foram
implantadas no espaço subfascial para as hérnias inguinais e suprafasciais nas
protrusões e reparações de hérnias incisionais com aproximação primária da
musculatura, sendo mantida em ponte excepcionalmente em apenas 1 caso. Auxiliados
pelos métodos de fixação, os resultados mostram que a fixação suprafascial de
biopróteses é um método simples e eficaz na correção de hérnias ventrais de menor
complexidade, como descrito em outras publicações31, assim como nos casos comuns por complacência
exagerada da parede abdominal (Vídeo
1ttp://rbcp.org.br/Content/imagebank/video/REPARA%C3%87%C3%83O DA PAREDE
ABDOMINAL.mp4).
As próteses biológicas devem ser biodegradadas por ação de metaloproteases32 e substituídas pelos tecidos
nativos ao longo do tempo, servindo como uma estrutura temporária para o crescimento
das células do hospedeiro. Se o implante for absorvido antes de adequados processos
de neovascularização, crescimento tecidual e diferenciação/deposição de colágeno,
a
qualidade do neotecido irá comprometer o resultado esperado, conceito que determina
a funcionalidade dos implantes.
Neste contexto se focam as discussões sobre a reticulação ou não de MECs para
reparações da parede abdominal33,34, em função de comportamento
biológico diverso. Matrizes não reticuladas apresentam incorporação
e reabsorção mais rápida35,
enquanto a reticulação (cross-linking) prolonga o tempo de
degradação e aumenta a resistência mecânica36,37.
Estudos demonstraram que MECs reticuladas com glutaraldeído apresentam maior
resistência à colagenase, com degradação mais lenta particularmente em ambientes
contaminados38,39, sendo por isso a primeira escolha
a ser considerada nessas situações já há mais de uma década21,40. Estudos com pericárdio bovino acelularizado demonstraram
relação direta entre grau de reticulação e resistência à degradação, sendo isso
determinante na cinética de degradação e no padrão de regeneração tecidual41,42, parecendo lógico adotar biopróteses reticuladas em regiões
de maior stress mecânico como na parede abdominal.
A matriz reticulada em glutaraldeído empregada neste estudo mostrou propriedades
similares às demais biopróteses relatadas no que se refere aos requisitos de
degradação progressiva do material versus resistência mecânica do
tecido neoformado. Além dos achados clínicos e radiológicos, a visualização direta
dos sítios reoperados mostrou a parede íntegra com tecido cicatricial de boa
qualidade, sem aderências ou processos inflamatórios importantes, com as membranas
implantadas totalmente incorporadas.
Matrizes extracelulares representam um nicho microambiental com atividades biológicas
importantes nos processos de regeneração tecidual43, indo além da questão apenas estrutural de suporte
mecânico. Com a implantação, iniciam-se processos de impacto na atividade biológica
local com recrutamento celular e resposta imune44-46, favorecendo um
ambiente de remodelação funcional ao invés fibrose cicatricial ou processos
inflamatórios crônicos.
Diferentemente do papel exclusivamente mecânico dos implantes sintéticos, as
biopróteses desempenham um papel ativo nos eventos biológicos in
situ, apontando na direção de processos regenerativos que devem ser
devidamente conhecidos e experimentados pelos cirurgiões, cuja experiência é
estimada como um dos fatores prognósticos mais importantes na correção de hérnias
da
parede abdominal47.
CONCLUSÃO
A matriz acelular de pericárdio bovino apresentou eficácia na correção dos defeitos
da parede abdominal, atestando sua funcionalidade e similaridade às demais
biopróteses descritas na literatura.
Os exames por ultrassonografia e ressonância eletromagnética se mostraram métodos
ineficazes como ferramenta de avaliação de MECs em pós-operatório.
Pontos de fixação “subcutâneo/implante/aponeurose” em toda área descolada podem
dispensar o uso de drenos aspirativos na presença de biopróteses de pericárdio
bovino implantadas em posição suprafascial.
O emprego de matrizes extracelulares traz importantes evoluções conceituais que devem
ser incorporadas pelos cirurgiões, com a escolha das biopróteses devendo ser
considerada por fatores que vão além da relação custo-benefício dos procedimentos.
Séries com maior número de casos e diante de reconstruções complexas poderão definir
melhor os critérios para sua indicação.
REFERÊNCIAS
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Grezzana-Filho TJM. Open vs laparoscopic hernia repair in the Brazilian public
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2020;57(4):484-90.
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for abdominal wall reconstruction. Plast Reconstr Surg.
2000;105(1):202-16.
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Rio Preto, SP, Brasil
Autor correspondente: Luiz Fernando Frascino, Av.
Juscelino Kubitscheck de Oliveira, 3700, São José do Rio Preto, SP, Brasil, CEP:
15093-225, E-mail: drfrascino@gmail.com
Artigo submetido: 14/03/2023.
Artigo aceito: 23/10/2023.
Conflitos de interesse: não há.