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Case Report - Year2024 - Volume39 - Issue 1

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2023RBCP0761-PT

RESUMO

Cútis laxa é uma rara doença do tecido conectivo caracterizada pela disfunção das fibras elásticas. Indivíduos acometidos por essa enfermidade queixam-se de sua aparência envelhecida. Os tratamentos se baseiam no uso de cosméticos ou em técnicas cirúrgicas, sendo a cirurgia plástica uma ferramenta de extrema relevância. A blefaroplastia tem o objetivo de melhorar a aparência senil e proporcionar rejuvenescimento na área ao redor dos olhos, fazendo com que o olhar pareça mais descansado e alerta. Trata-se de um estudo observacional retrospectivo utilizando os dados do prontuário.
Relato do Caso: Paciente do sexo feminino, 17 anos, encaminhada ao serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza- CE, para tratamento devido à insatisfação com a sua aparência. Submetida a uma blefaroplastia superior e inferior associada a cantopexia sem cantotomia. No período pós-operatório, foi observado resultado satisfatório para a cirurgia proposta e adequada correção das alterações existentes.
Conclusão: Observa-se a importância da correção cirúrgica facial nos casos de cútis laxa, ressaltando a relevância da aplicação de técnicas cirúrgicas adequadas e o aprimoramento das mesmas nesse perfil de paciente.

Palavras-chave: Cútis laxa; Blefaroplastia; Relatos de casos; Pálpebras; Procedimentos de cirúrgia plástica

ABSTRACT

Cutis laxa is a rare connective tissue disease characterized by dysfunction of elastic fibers. Individuals affected by this disease complain about their aged appearance. Treatments are based on the use of cosmetics or surgical techniques, with plastic surgery being an extremely relevant tool. Blepharoplasty aims to improve the senile appearance and provide rejuvenation in the area around the eyes, making the look appear more rested and alert. This is a retrospective observational study using medical record data.
Case Report: A female patient, 17 years old, was referred to the Plastic Surgery Service of the Walter Cantídio University Hospital, Fortaleza-CE, for treatment due to dissatisfaction with her appearance. She underwent upper and lower blepharoplasty associated with canthopexy without canthotomy. In the postoperative period, a satisfactory result was observed for the proposed surgery and adequate correction of existing changes.
Conclusion: The importance of facial surgical correction in cases of lax skin is observed, highlighting the relevance of applying appropriate surgical techniques and improving them in this patient profile.

Keywords: Cutis laxa; Blepharoplasty; Case reports; Eyelids; Plastic surgery procedures


INTRODUÇÃO

Cútis laxa é uma doença multissistêmica rara do tecido conectivo, caracterizada pela disfunção das fibras elásticas gerando uma pele inflexível, com dobras redundantes e aspecto enrugado. Assim, os indivíduos acometidos por essa enfermidade queixam-se de sua aparência envelhecida, além de apresentar em maior frequência aneurismas de aorta e problemas pulmonares1-3. Este distúrbio pode ser adquirido ou hereditário - de caráter dominante ou recessivo, este último apresentando acometimento simétrico e normalmente de pior prognóstico.

As fibras elásticas são compostas principalmente de elastina, proteína da família dos colágenos que possibilita a flexibilidade dos tecidos e resistência à tensão. Na cútis laxa, foi detectada a perda de elastina, com fragmentação das fibras elásticas na derme reticular, acarretando frouxidão de pele, vasos, pulmões e demais tecidos2.

Os tratamentos baseiam-se no uso de cosméticos ou em técnicas cirúrgicas, como uma forma de amenização ou correção, sendo a cirurgia plástica uma ferramenta de extrema relevância para a terapêutica desses pacientes4.

Diante das alterações da aparência, mais notadamente na região da face, pescoço, axila e virilha, surge grande desejo por parte dos pacientes por correções cirúrgicas, principalmente aquelas relacionadas às alterações faciais5.

Dos possíveis procedimentos cirúrgicos, a cirurgia de blefaroplastia, tanto inferior quanto superior, tem o objetivo de melhorar a aparência senil e proporcionar rejuvenescimento na área ao redor dos olhos, fazendo assim com que o olhar pareça mais descansado e alerta6.

A tradicional blefaroplastia inferior é um procedimento que, na maioria das vezes, traz bons resultados, obtendo-se uma cicatriz subciliar pouco perceptível7.

A cantopexia é um procedimento cirúrgico realizado após a blefaroplastia superior clássica e a inferior por via conjuntival. No segmento anterior, é retirado uma elipse de tecido, além de uma faixa do músculo orbicular pré-septal. Na parte inferior, é empregado um acesso conjuntival para a excisão dos bolsões de gordura. A técnica cirúrgica é iniciada fazendo-se uma incisão no tecido com diâmetro aproximado de 2mm, localizada instantaneamente abaixo do canto palpebral lateral6,8.

OBJETIVO

Este artigo tem por objetivo relatar o caso de uma paciente jovem submetida a blefaroplastia superoinferior com cantopexia para correção das alterações periorbitárias anatômicas e estéticas decorrentes da cútis laxa.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 17 anos, encaminhada ao serviço de cirurgia plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio, Fortaleza-CE, procurando ajuda médica para tratamento devido à insatisfação com a sua aparência, principalmente na região orbitária, além de dificuldade de inserção social por estigmatização.

Ao exame físico, foi evidenciada exuberante dermatocálase superior, com abaulamento devido à herniação de bolsas de gordura e à ptose bilateral das glândulas lacrimais, contribuindo para o efeito de pseudoptose palpebral, associado a herniação de bolsas palpebrais inferiores e a canto arredondado com ângulo cantal negativo (Figura 1). Além disso, identificou-se ptose do tecido malar com proeminência do sulco nasogeniano, aumento do jowl fat e um retrognatismo. Percebeu-se ainda uma hipertrofia de polo superior das orelhas, com leve apagamento da fossa escafoide, associado a hipertrofia de concha.

Figura 1 - Paciente portadora de cútis laxa no pré-operatório.

Durante avaliação pré-operatória, foram realizados exames complementares buscando alterações cardiopulmonares, respiratórias ou de grandes vasos relevantes para a investigação, que não demonstraram nenhuma alteração. Ainda no préoperatório a paciente assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Walter Cantídio (CAAE: 50728421.5.0000.5045).

O procedimento foi realizado em 15 de dezembro de 2021. Devido à queixa principal da paciente em relação às pálpebras, iniciamos seu tratamento com blefaroplastia superior e inferior, sendo retiradas elipses de pele e de bolsões gordurosos, reposicionamento das glândulas lacrimais associado à cantopexia, sem cantotomia e sem cantólise, para melhor posicionamento do ângulo cantal, refixando o seguimento inferior do tendão cantal lateral mais internamente no rebordo orbitário próximo de sua inserção.

No período pós-operatório, paciente retornou ao ambulatório de cirurgia plástica do serviço no 7° dia para retirada de pontos da síntese da pele. Manteve-se o acompanhamento periódico desde então. Foi observado resultado satisfatório para a cirurgia proposta, identificando-se adequada correção das alterações existentes, a saber: dermatocálase importante associada a prolapso das glândulas lacrimais, bem como do ângulo cantal negativo (Figura 2).

Figura 2 - Pós-operatório de blefaroplastia superior com cantopexia.

A paciente evoluiu sem complicações pós-operatórias, mostrando-se bastante satisfeita com o resultado obtido. A mesma segue em acompanhamento no serviço de cirurgia plástica do Hospital Universitário Walter Cantídio com propostas futuras de ritidoplastia, avanço de mento ou prótese mentual e otoplastia.

DISCUSSÃO

Cútis laxa é uma doença genética que causa flacidez e redundância da pele, deixando um aspecto envelhecido nesses pacientes. As alterações ocasionadas pela doença podem levar a isolamento social, à dificuldade de interação e ao agravamento de doenças psíquicas.

O planejamento terapêutico para correção das lesões deve ser individualizado e executado por cirurgiões que reconheçam as diferenças dermatológicas desses pacientes. São escassos os relatos na literatura sobre a abordagem cirúrgica das pálpebras em pacientes com cútis laxa9,10.

Ozsoy et al.11 descreveram um caso de uma paciente de 20 anos com diagnóstico de cútis laxa, a qual apresentou resultado estético satisfatório com blefaroplastia superior bilateral sem excisão do tecido adiposo.

Banks et al.12 relataram dois casos de pacientes portadores de cútis laxa, um de 44 anos e outro de 5 anos de idade, que foram submetidos a ritidoplastia com blefaroplastia para correção dos defeitos estéticos causados pela doença. Observouse um resultado aceitável no pós-operatório imediato, com boa cicatrização, porém que apresentaram recorrência da doença meses após a abordagem cirúrgica, devido ao defeito crônico no metabolismo do colágeno.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, observa-se a importância da correção cirúrgica facial nos casos de cútis laxa, ressaltando a importância da aplicação de técnicas cirúrgicas adequadas e o aprimoramento das mesmas neste perfil de paciente.

Devido à multiplicidade de alterações, faz-se ainda necessário firmar para os pacientes que o tratamento nem sempre é finalizado com apenas um procedimento cirúrgico, sendo, muitas vezes, indicada abordagem dos demais defeitos em outras etapas operatórias, como proposto para a paciente do caso.

REFERÊNCIAS

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3. Dantas SG, Trope BM, de Magalhães TC, Azulay DR, Quintella DC, Ramos-E-Silva M. Blepharochalasis: A rare presentation of cutis laxa. Actas Dermosifiliogr (Engl Ed). 2019;110(4):327-9. DOI: 10.1016/j.ad.2018.04.006

4. Beighton P, Bull JC, Edgerton MT. Plastic surgery in cutis laxa. Br J Plast Surg. 1970;23(3):285-90. DOI: 10.1016/S0007-1226(70)80057-1

5. Jones AP, Janis JE. Essentials of Plastic Surgery. Q&A Companion. New York: Thieme Medical Publishers; 2016.

6. Lessa S, Sebastiá R, Flores E. Uma Cantopexia Simples. Rev Bras Cir Plást. 1999;14(1):59-70.

7. Cardim VLN, Bazzi K, Silva AS, Silva MG, Santos FM, Salomons RL, et al. Cantopexia e reforço tarsal com retalho de periósteo. Rev Bras Cir Plást. 2013;28(1):36-40.

8. Game J, Morlet N. Lateral canthal fixation using an oblique vertically orientated asymmetric periosteal transposition flap. Clin Exp Ophthalmol. 2007;35(3):204-7. DOI: 10.1111/j.1442-9071.2007.01454.x

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10. Xue Y, Chen H, Zeng X, Jiang Y, Sun J. Generalized acquired cutis laxa treated with facial plastic surgery. Eur J Dermatol. 2011;21(1):141-2. DOI: 10.1684/ejd.2011.1206

11. Ozsoy Z, Gozu A, Dayicioglu D, Mete O, Buyukbabani N. Localized cutis laxa and blepharoplasty. Dermatol Surg. 2007;33(12):1510-2; discussion 1512. DOI: 10.1111/j.1524-4725.2007.33326.x

12. Banks ND, Redett RJ, Mofid MZ, Manson PN. Cutis laxa: clinical experience and outcomes. Plast Reconstr Surg. 2003;111(7):2434-42; discussion 2443-4. DOI: 10.1097/01.PRS.0000060800.54979.0C











1. Residente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Dr. Walter Cantidio - HUWC
2. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil
3. Membro Titular SBCP - Staff Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Dr. Walter Cantidio - HUWC
4. Membro Titular SBCP - Regente e Chefe do Servico de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Dr. Walter Cantidio - HUWC

Autor correspondente: José Isnack Ponte de Alencar Filho, Rua Pastor Samuel Munguba, 1290, Rodolfo Teófilo, Fortaleza, CE, Brasil, CEP: 60430-372, E-mail: isnack_alencar@yahoo.com

Artigo submetido: 12/10/2022.
Artigo aceito: 23/10/2023.

Conflitos de interesse: não há.



 

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