INTRODUÇÃO
Os lábios possuem participação fundamental no cotidiano das pessoas exercendo funções
motoras (mímica facial, articulação da fala e deglutição) e importância estética,
pois representam um dos centros dinâmicos da face e impactam significativamente a
autoestima e a qualidade de vida do indivíduo1.
As principais causas de deformidades nos lábios decorrem de malformações congênitas
(lábio leporino), traumas ou perdas de substância após ressecção de tumores nesta
região2.
O carcinoma de células escamosas (CEC) é o tumor maligno mais frequente dos lábios,
sendo mais diagnosticado no lábio inferior3 (Figura 1) e totaliza cerca de 25% a 30% de todos os tipos de câncer oral. As manifestações
clínicas iniciais são atrofia, ressecamento e fissuras do vermelhão do lábio com margem
indefinida entre o vermelhão e a pele.
Figura 1 - Carcinoma de células escamosas em lábio inferior.
Figura 1 - Carcinoma de células escamosas em lábio inferior.
Acometem, sobretudo, pacientes entre 50 e 70 anos de idade, sendo o sexo masculino
preferencial quando comparado ao sexo feminino4. Tal fato pode ser explicado pelo fato de os homens exercerem atividades ao ar livre
(trabalhadores ao relento, principalmente) e estarem mais expostos aos fatores predisponentes
ao câncer labial. Sabe-se que grande parte do público masculino, em relação ao feminino,
tende a não ter preocupação em se proteger contra a radiação solar, a exemplo do protetor
labial5,6. O CEC dos lábios tem como principais fatores de risco algumas práticas nocivas como:
exposição solar por longos períodos, consumo de álcool, tabagismo e predisposição
genética5.
O tratamento adequado desta neoplasia deve ser precoce e radical, pois metástases
podem ocorrer. O médico deve estar sempre preparado para realizar um meticuloso exame
intra e extraoral, avaliando qualquer alteração de normalidade. Uma vez diagnosticada
e tratada no seu estágio inicial pode-se impedir a progressão da lesão, estabelecendo
o tratamento imediato e buscando melhoria na qualidade de vida7. Os métodos tradicionais de tratamento oncológico são cirurgia, radioterapia e a
quimioterapia. O tratamento a ser estabelecido estará na dependência da localização,
grau de malignidade, estadiamento do tumor e da condição de saúde do indivíduo8.
A reconstrução labial visa à recuperação do aspecto funcional com manutenção do componente
esfincteriano, buscando o máximo de preservação da sensibilidade e abertura oral com
resultado estético satisfatório. Com intuito de se obter um bom resultado na reconstrução,
os seguintes princípios devem ser respeitados: priorizar a função em relação à estética,
ter como primeira opção um tecido local, reconstituir todos os planos lesados e respeitar
unidades estéticas1.
A ressecção cirúrgica com margens seguras é o tratamento de escolha, sempre que possível,
na abordagem inicial do CEC de lábio inferior. Neste contexto, Gillies foi um dos
primeiros a descrever uma técnica, em 1920, com um método de transposição de pele
e mucosa nasolabial para o lábio inferior, por meio do que denominou retalho em leque8,9.
Tal técnica foi posteriormente aprimorada por Gillies e Millard, em 195710, e novamente em 1974, com a descrição da técnica de Karapandzic11, que se trata de um retalho miocutâneo neurovascular que preserva a vascularização
e inervação labiais exigindo uma dissecção cuidadosa que não seccione as estruturas
vasculares e nervosas, preservando a sensação e a motricidade do lábio reconstruído.
A vantagem desta técnica é a de ser uma cirurgia realizada em tempo único, diferentemente
do retalho de Abbe12, com a capacidade de preservar tanto a funcionalidade quanto a estética labial.
O retalho de Karapandzic é uma técnica de fácil execução e que fornece resultados
excelentes: um lábio com sensação e função orbicular preservadas desde o primeiro
dia pós-operatório. A redução do estoma oral raramente causa problema significativo
e o resultado estético é excelente no sentido de que as cicatrizes ficam bem posicionadas,
a boca é simétrica e as dobras nasolabiais não se alteram. Não há evidência de abaulamento
dos retalhos e os resultados a longo prazo revelam pouca chance de reintervenção cirúrgica
e é aí que reside o ponto alto desse procedimento, seguido de perto pela facilidade
com que é realizado7.
A microstomia possui certo destaque dentre as principais desvantagens da técnica de
Karapandzic, principalmente quando utilizada para reconstrução de defeitos maiores13,14. Qualquer lesão que atinja, direta ou indiretamente as comissuras labiais pode originar
as microstomias (redução da abertura da boca), por vezes graves, com prejuízos estéticos
e funcionais (alimentação, fala e higiene oral). Dependendo da gravidade, exigem tratamento
cirúrgico e ou multidisciplinar (odontólogo, fonoaudiólogo)15.
Considerações anatômicas
O conhecimento da anatomia do lábio foi necessário para se indicar a técnica adequada
para reconstrução. O componente esfincteriano (fechamento) labial é representado pelas
fibras circulares ou semicirculares do músculo orbicular da boca e músculo mentual.
O componente dilatador (abertura) é formado pelas fibras radiais dos músculos faciais:
levantador do lábio superior e asa do nariz, levantador do lábio superior, zigomático
maior, bucinador, depressor do ângulo da boca, depressor do lábio inferior, levantador
do ângulo da boca. A irrigação é feita pelas artérias labial superior e inferior,
ramos da artéria facial. A linfa é drenada para os linfonodos submandibulares e submentais.
A inervação sensitiva do lábio superior é fornecida pelo nervo infraorbital; a do
lábio inferior, pelo nervo mentual e a motora pelo nervo facial16.
Técnica cirúrgica
Os pacientes foram posicionados em decúbito dorsal. Realizadas marcações da área tumoral
a ser ressecada, das linhas do retalho e da localização do pedículo vasculonervoso
com auxílio de ecoDoppler portátil (Figura 2). Submetidos a anestesia geral e intubação nasotraqueal, antissepsia com digliconato
de clorexidina a 4% e assepsia. A infiltração anestésica local foi feita com solução
de bupivacaína a 0,5% contendo vasoconstritor - adrenalina a 1:200.000. Procedeu-se
à ressecção do carcinoma espinocelular com margens cirúrgicas mínimas de 4mm e hemostasia
(Figura 3).
Figura 2 - Marcação pré-operatória na pele (em vermelho) dos pedículos vasculares.
Figura 2 - Marcação pré-operatória na pele (em vermelho) dos pedículos vasculares.
Figura 3 - A: Marcações das linhas do retalho e da área de ressecção labial. B: Defeito após ressecção do tumor.
Figura 3 - A: Marcações das linhas do retalho e da área de ressecção labial. B: Defeito após ressecção do tumor.
A confecção dos retalhos foi o passo seguinte: incisão na linha nasolabial direita
e esquerda, dissecção cuidadosa do músculo orbicular, identificação e preservação
dos ramos arteriais e venosos (labiais superiores e inferiores) e nervosos obtendo-se
dois retalhos miocutâneos: direito e esquerdo. Revisão da hemostasia com bisturi elétrico
bipolar e rotação dos retalhos em direção à linha média. Síntese da musculatura e
mucosa com pontos simples, separados e invertidos com fio absorvível de poliglecaprone
4.0 e sutura da pele com fios de nylon monofilamentado 5.0 e 6.0 (Figura 4). Curativo adesivo estéril (Opsite®) aplicado sobre a ferida nas primeiras 48 horas. Não foram usados drenos.
Figura 4 - A e B: Confecção e rotação dos retalhos miocutâneos. C e D: Síntese e aspecto ao final da cirurgia.
Figura 4 - A e B: Confecção e rotação dos retalhos miocutâneos. C e D: Síntese e aspecto ao final da cirurgia.
OBJETIVO
Demonstrar uma opção confiável e segura de reconstrução de lábio inferior após excisão
de carcinoma de células escamosas utilizando-se a técnica de Karapandzic.
MÉTODO
Realizado estudo transversal, retrospectivo, do tipo descritivo e observacional, em
pacientes avaliados e operados pelo autor principal na cidade de Barbacena-MG durante
o período de junho de 2013 a janeiro de 2022.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Médica do serviço onde foi realizado (nº
de aprovação do CEP: 0001-2022) e os pacientes assinaram Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, incluindo autorização para divulgação de imagens com fins acadêmicos.
A coleta de dados foi realizada a partir da análise dos prontuários eletrônicos dos
pacientes operados pelo mesmo cirurgião plástico e no mesmo serviço. Foram levantados
os prontuários que tivessem os registros “Reconstrução de Lábio Inferior” ou “Retalho
de Karapandzic”.
Os critérios de inclusão para este estudo foram prontuários completos, registros fotográficos
de boa qualidade e pacientes que fizeram o acompanhamento pós-operatório mínimo de
3 meses. Já entre os critérios de exclusão estão prontuários incompletos, fotografias
de má qualidade ou ausentes, pacientes que não deram o seguimento pós-operatório devidamente
e ou pacientes operados por outro cirurgião.
No período citado foram operados 4 pacientes. Todos do sexo masculino e avaliados
no pré-operatório com exames físico e laboratoriais, associados à realização de ecoDoppler
labial. Para a identificação dos pedículos arteriovenosos labiais superiores e inferiores,
foi utilizado ecoDoppler colorido portátil Mindray M7 pelo imaginologista (Figura 5).
Figura 5 - Aparelho ecoDoppler colorido portátil Mindray M7.
Figura 5 - Aparelho ecoDoppler colorido portátil Mindray M7.
As imagens analisadas na tela do aparelho no período pré-operatório imediato, na sala
de cirurgia, atestam a viabilidade do pedículo bilateralmente, bem como a localização
deste pedículo (Figura 6). Além de verificar a viabilidade do pedículo, a marcação da correspondência do feixe
arteriovenoso na pele reduz as chances de lesão perioperatória parcial ou total deste
pedículo.
Figura 6 - Visualização do pedículo vascular através do aparelho ecoDoppler colorido.
Figura 6 - Visualização do pedículo vascular através do aparelho ecoDoppler colorido.
Pacientes que apresentaram microstomia pós-operatória foram encaminhados para o ortodontista,
que confeccionou órtese estática para uso noturno e de tamanho individualizado e específico
para expansão tecidual. A órtese utilizada foi produzida a partir de molde em alginato,
depois vazada em gesso pedra tipo 2 e encaminhada ao laboratório de odontologia, que
confecciona a órtese em placa de acrílico e base metálica apoiada na região vestibular
dos dentes anteriores inferiores (Figura 7). As sessões de expansão iniciam-se 60 dias após a cirurgia e são feitas a cada 21
ou 30 dias, acrescentando-se mais acrílico polimerizável na placa de acrílico (Figura 8).
Figura 7 - A: Molde da órtese em placa de alginato. B: Órtese de acrílico. C e D: Posicionamento da órtese.
Figura 7 - A: Molde da órtese em placa de alginato. B: Órtese de acrílico. C e D: Posicionamento da órtese.
Figura 8 - Microstomia pós-operatória. A: Antes da expansão. B: Após expansão.
Figura 8 - Microstomia pós-operatória. A: Antes da expansão. B: Após expansão.
A evolução e os resultados foram analisados através de consultas regulares de acompanhamento
pós-operatório.
RESULTADOS
Quatro pacientes estudados, todos do sexo masculino, com idades entre 35 e 77 anos,
foram submetidos a reconstrução de lábio inferior pela técnica de Karapandzic, conforme
descrito na sessão anterior, após excisão de CEC. Operados no período entre 2013 e
2022. Foram excluídos do estudo três pacientes que não atenderam os critérios de inclusão.
Os fatores de risco para CEC mais frequentes foram tabagismo, etilismo, pele clara
e exposição solar crônica. A biópsia pré-operatória (anatomopatológico em parafina)
constatou diagnóstico de CEC bem ou moderadamente diferenciado, obviamente com margens
comprometidas. Já a análise histopatológica (em parafina) da peça removida após a
cirurgia, constatou CEC infiltrante, com profundidade variando de 3 a 7mm e margens
cirúrgicas livres mínimas de 4mm para todos os casos (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição da série de casos conforme os aspectos tumorais, cirúrgicos e de seguimento.
Nome |
JPPH |
JCQ |
SPF |
MDS |
Idade (anos) |
69 |
39 |
77 |
35 |
Sexo |
Masculino |
Masculino |
Masculino |
Masculino |
Fatores de risco |
Tabagismo e etilismo |
Pele fototipo I de Fitzpatrick17 |
Tabagismo, etilismo e exposição solar crônica |
Exposição solar crônica e pele fototipo I de Fitzpatrick17 |
Biópsia pré-operatória (em parafina)
|
CEC bem diferenciado infiltrante |
CEC moderadamente diferenciado e invasor
|
CEC |
CEC |
Margens cirúrgicas pós-operatórias
|
Livres |
Livres e amplas |
Livres |
Livres |
Profundidade |
3mm |
7mm |
6mm |
5mm |
Anatomopatológico pós-operatório (em parafina) |
CEC bem diferenciado e infiltrante
|
CEC bem diferenciado e infiltrante
|
CEC bem diferenciado e infiltrante
|
CEC bem diferenciado e infiltrante
|
Complicações pós-operatórias
|
- |
Cicatriz hipertrófica |
Deiscência parcial e microstomia
|
Microstomia |
Tempo de follow-up |
3 meses e 6 dias |
3 meses e 14 dias |
7 meses e 23 dias |
6 meses e 18 dias |
Tabela 1 - Distribuição da série de casos conforme os aspectos tumorais, cirúrgicos e de seguimento.
Não foram realizadas biópsias de congelação em nenhum destes casos.
As intercorrências e complicações detectadas neste estudo foram consideradas leves.
Constatamos um caso de cicatriz hipertrófica leve e outro caso de pequena deiscência
em vermelhão de lábio. A microstomia ocorreu em dois dos quatro casos operados. Complicações
severas e graves como infecção, necrose, fenômenos tromboembólicos, entre outras,
não ocorreram neste estudo.
DISCUSSÃO
Na casuística de nosso estudo, poucas foram as complicações dos pacientes submetidos
ao retalho de Karapandzic corroborando a ideia de que esta técnica atende às necessidades
para a reconstrução de lábio mediante grandes ressecções, trazendo bons resultados
tanto funcionais quanto estéticos (Figuras 9 e 10).
Figura 9 - Pré e pós-operatório.
Figura 9 - Pré e pós-operatório.
Figura 10 - Pré e pós-operatório.
Figura 10 - Pré e pós-operatório.
Azevedo et al.13 publicaram o relato de caso de dois pacientes submetidos a reconstrução de lábio
inferior pela técnica de Karapandzic. Um dos pacientes apresentou deiscência labial
na junção dos retalhos e necessitou de procedimento complementar para refinamento
do resultado estético, e o outro paciente teve bom resultado estético e funcional,
sem complicações.
Matos da Fonseca & Gómez García3 e Guimarães et al.1 publicaram relatos sobre tal técnica e descreveram o relato de caso de um paciente
submetido a reconstrução do lábio inferior pela técnica de Karapandzic com boa evolução,
preservando-se a mímica facial e sensibilidade labial, sem déficit funcional.
Outro estudo, publicado por Mendes-Abreu et al.16, relatou o caso de um paciente submetido ao retalho de Karapandzic devido a carcinoma
espinocelular avançado de lábio inferior, cujo resultado evidenciou cicatrizes a preencherem
os sulcos fisiológicos, a manutenção da continência oral, da sensibilidade e da mobilidade
labiais, embora com discreta assimetria e microstomia sem impacto funcional.
As eventuais intercorrências e ou complicações que relatamos estão em concordância
com a literatura disponível. Os estudos publicados não trazem uma casuística com grande
número de casos e se detêm a relatar a técnica de confecção do retalho e suas intercorrências
ou complicações pós-operatórias. Embora seja importante ressaltar que a maioria destes
autores consideraram o resultado final satisfatório, as intercorrências mais comumente
citadas foram deiscência labial na junção dos retalhos14, ligeira assimetria e microstomia (redução da fenda labial) sem impacto funcional7.
O retalho descrito por Karapandzic em 1974 é uma das opções para a reconstrução de
grandes defeitos labiais e se baseia na preservação anatômica dos pedículos vasculonervosos
faciais, que mantêm a futura irrigação e funcionalidade do lábio, com a vantagem de
ser em tempo único18,19. Conseguimos confirmar com nosso estudo de casos todas estas características e constatamos
que este retalho é realmente adequado para corrigir defeitos que ocupam de 40 a 75%
de extensão do lábio inferior, podendo ser aplicado de forma invertida na reconstrução
do lábio superior.
O retalho de Karapandzic preserva a mobilidade e sensibilidade do lábio inferior,
bem como da continência oral. Seu maior inconveniente é a microstomia, descrita por
vários autores e que ocorre também com outras técnicas de retalhos miocutâneos, em
maior ou menor grau, utilizados na reconstrução de defeitos cirúrgicos de espessura
total13,20.
Quanto à microstomia, observamos que não houve relatos de casos graves, inclusive
em nosso estudo, e devemos considerar que a microstomia é inerente a esta técnica
e poderá ser descrita em graus variados. Optamos por melhorar os resultados pós-operatórios
complementando o tratamento com expansão dos tecidos buscando a obtenção de pele de
mesma cor, textura e sensibilidade, sem causar dano à área doadora21.
Uma prótese ou órtese de expansão para alongar comissuras e músculos fibróticos pode
ser essencial para pacientes que se recuperam de ressecções labiais extensas. Prótese
de resina Triad e parafuso regulador de pressão já foi descrita e com bons resultados22. A microstomia referida no presente estudo (Figura 6) foi corrigida parcialmente com tratamentos conservadores através do uso de órteses
odontológicas especialmente confeccionadas para cada caso. Aparelhos feitos de metal
e acrílico de uso temporário, noturno e que promoveram a expansão tecidual do lábio
inferior.
O advento da expansão controlada teve sua primeira utilização clínica por Neumann23 em 1957 na reconstrução do polo superior da orelha e depois, na década de 1970, com
Radovan24 em um trabalho sobre reconstrução mamária, posteriormente respaldado por Austad &
Rose25 em 1982, dando início a uma nova era na cirurgia reparadora. A expansão dos tecidos
possibilita a obtenção de pele de mesma cor, textura e sensibilidade, sem causar dano
à área doadora26.
Outra colaboração deste trabalho refere-se à utilização do ecoDoppler colorido pré-operatório,
que permite o planejamento do retalho verificando a viabilidade do pedículo vascular
e o real posicionamento deste pedículo, reduzindo as chances de lesão inadvertida
dos vasos durante a cirurgia, o que poderia acarretar perda total ou parcial de um
retalho em uma área muito nobre da face. Além disso, sabe-se que tabagismo é um frequente
fator de risco para CEC e tem significativa influência nas alterações do fluxo da
circulação dérmica regional da face21.
Portanto, mesmo não sendo absolutamente necessária, a marcação prévia do pedículo
vascular com ecoDoppler é um complemento que pode aumentar a segurança do retalho.
Na eventualidade de não se identificar a viabilidade unilateral ou bilateral do feixe
vascular, como nos casos de traumas prévios, deve-se considerar a possibilidade de
isquemia deste retalho e outras técnicas cirúrgicas devem ser consideradas.
CONCLUSÃO
A reconstrução do lábio inferior após resseções de extenso carcinoma de células escamosas
utilizando a técnica de Karapandzic demonstrou ser um procedimento confiável, seguro,
de execução acessível, podendo ser realizada em tempo único e de forma rápida. Além
disso, a técnica mantém o pedículo vasculonervoso íntegro, proporcionando bons resultados
funcionais e estéticos. Seu maior inconveniente é a produção de microstomia nas etapas
precoces, mas que melhora gradualmente com o passar do tempo e/ou adoção de medidas
especiais de expansão tecidual.
REFERÊNCIAS
1. Guimarães JAM, Roma Júnior AC, Amaral RF, Gasques JAL, Bozola AR. Utilização do retalho
de Karapandzic para reconstrução de lábio inferior após trauma. Rev Bras Cir Plást.
2015;30(4):661-3. DOI: 10.5935/2177-1235.2015RBCP0209
2. Reis Filho GC, Arruda AM, Oliveira CL, Santos L, Anbar RA. Tratamento cirúrgico de
sequela de lábio leporino bilateral com emprego de retalho de Abbé. Rev Bras Cir Plást.
2010;25(2):398-400.
3. Matos da Fonseca A, Gómez García F. Reconstrucción de lábio con Técnica de Karapandzic.
Cir Plást Iberolatinoam. 2007;33(1):57-62.
4. Regezi JA, Sciubba JJ, Jordan RCK. Patologia oral correlações clinicopatológicas.
6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2012.
5. Souza GT, Fonseca LG, Araújo AMB, Freitas DA, Sousa Árlen AD. Conhecimento de estudantes
de Odontologia sobre os fatores de risco para o câncer bucal. Arq Odontol (Belo Horizonte).
2017;53:e12.
6. Vasconcelos ECFA, Silva MNC, Amâncio Filha MBG, Araújo KTD, Leite RB. Carcinoma epidermoide
de lábio inferior: análise da incidência e mortalidade no Brasil. Rev Odontol (Araçatuba).
2019;40(3):34-7.
7. Jackson IT. Reconstrução dos lábios. In: Jackson IT. Retalhos locais na reconstrução
de cabeça e pescoço. Rio de Janeiro: Di Livros; 2002. p. 327-412.
8. Jackson IT. Retalhos locais na reconstrução de cabeça e pescoço. Rio de Janeiro: Di
Livros; 2002.
9. Gillies HD. Plastic surgery of the face. London: Frowde, Hodder & Stoughton, Oxford
University Press; 1920.
10. Gillies H, Millard Jr RC. Principles and art of plastic surgery. Boston: Little, Brown
& Co; 1957. p. 507-8.
11. Karapandzic M. Reconstruction of lip defects by local arterial flaps. Br J Plast Surg.
1974;27(1):93-7. DOI: 10.1016/0007-1226(74)90068-x
12. Aggarwal B, Kumar H, Sharma P, Kaushik M, Saurabh. Gillies fan flap repair for near
total, full thickness defect of lower lip. Int Surg J. 2018;5(11):3781-4. DOI: 10.18203/2349-2902.isj20184666
13. Azevedo DM, Nagassaki E, Carvalho AS, Lafayette KAS, Cação EG, Inforzato HCB, et al.
Reconstrução do lábio inferior pela técnica de Karapandzic. Rev Bras Cir Plást. 2013;28(1):168-71.
14. Mendes-Abreu M, Pinto-Gouveia M, Brinca A, Vieira R. Retalho de Karapandzic, uma Possível
Solução para um Caso de Carcinoma Espinhocelular Avançado do Lábio. Rev SPDV. 2016;74(2):175-8.
15. Mordjikian E. Microstomia Grave Decorrente de Queimadura por Soda Cáustica: Relato
de Caso. Rev Bras Cir Plást. 2002;17(1):37-50.
16. Boisson VAR, Muiniz LS, Leite AB, Jesus BMA, Barbosa LCA, Guimarães DRR. Algoritmo
para reconstrução dos lábios. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(3 Suppl.1):44.
17. Roberts WE. Skin type classification systems old and new. Dermatol Clin. 2009;27(4):529-33.
DOI: 10.1016/j.det.2009.08.006
18. Brinca A, Andrade P, Vieira R, Figueiredo A. Retalho de Karapandzic e retalho de Bernard-Burrow-Webster
na reconstrução do lábio inferior. An Bras Dermatol. 2011;86(4 Supl 1):156-9.
19. Conti LA, Carvalho MM, Machado Filho CDS, Hayashida ME, Ferraz TS, Gonçalves Jr. BF.
Reconstrução do lábio inferior com retalhos de Karapandzic e Gilles após excisão de
carcinoma espinocelular. Surg Cosmet Dermatol. 2012;4(2):195-9.
20. Stocco PL, Fonseca G, Azevedo LEL, Teles TBG, Reis CMS. Utilidade do retalho de Karapandzic
na reconstrução de grandes defeitos do lábio inferior. Surg Cosmet Dermatol. 2013;5(3):277-9.
21. Jacobovicz J. Ecodoppler colorido das artérias transversas da face e infraorbitais:
influência da idade e do tabagismo [Tese de doutorado]. Curitiba: Universidade Federal
do Paraná; 2003. 60 p.
22. Khan Z, Banis JC Jr. Oral commissure expansion prosthesis. J Prosthet Dent. 1992;67(3):383-5.
23. Neumann C. The expansion of an area of skin by progressive distention of a subcutaneous
balloon; use of the method for securing skin for subtotal reconstruction of the ear.
Plast Reconstr Surg (1946). 1957;19(2):124-30. DOI: 10.1097/00006534-195702000-00004
24. Radovan C. Breast reconstruction after mastectomy using the temporary expander. Plast
Reconstr Surg. 1982;69(2):195-208. DOI: 10.1097/00006534-198202000-00001
25. Austad ED, Rose GL. A self-inflating tissue expander. Plast Reconst Surg.1982;70(5):588-94.
DOI: 10.1097/00006534-198211000-00011
26. Tavares Filho JM, Cláudio-da-Silva CS, Souza FZ. The use of tissue expanders in lower
extremity. Rev Col Bras Cir. 2005;32(6):290-6. DOI: 10.1590/S0100-69912005000600002
1. Hospital São Francisco de Barbacena, Barbacena, MG, Brasil
2. Hospital Universitário Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
3. Hospital Municipal Odilon Behrens,Belo Horizonte, MG, Brasil
Autor correspondente: Marcelo Lima Pupo Nogueira Rua Capitão Aviador Corteleti , 351, Centro, Barbacena, MG, Brasil, CEP: 36200-720,
E-mail: marcelolimapn@hotmail.com
Artigo submetido: 14/11/2022.
Artigo aceito: 13/06/2023.
Conflitos de interesse: não há.