INTRODUÇÃO
Desde a introdução há duas décadas1,2, a terapia de pressão negativa (TPN)
tem se estabelecido pela eficácia em manejo de feridas agudas e crônicas3-7. No entanto, a alta tecnologia torna a TPN de elevado custo e
reduz o uso em instituições com recursos escassos8. Para resolver o problema, têm sido propostos curativos a
vácuo simplificados (CVS)8-12, uma vez que a TPN não exige
obrigatoriamente aparato especial e é capaz de preparar feridas para tratamento
cirúrgico8,12-14. A
despeito de usar componentes elétricos e mecânicos mais simples, CVS conservam
atributos de segurança indispensáveis, como sucção controlada e vedação de
feridas1,8,10,15,16.
Características operacionais de CVS têm sido pouco avaliadas e, ocasionalmente,
seriamente criticadas3,16. A maioria de estudos disponíveis
não são controlados e utilizam metodologias limitadas, merecendo, assim, avaliações
adicionais8,10,11,15,17,18. As principais
deficiências apontadas são o uso de insumos rudimentares, dificuldade de selamento
de lesões e incapacidade de manter pressões subatmosféricas8,15,16,19. As deficiências resultam em acúmulos de
exsudatos, trocas de curativos e manipulação repetida de feridas. Além de
enfadonhas, manipulações aumentam riscos de agravar lesões. Em feridas pouco
exsudativas, selamentos inadequados podem ocasionar circulação perilesional de
ar,
resultando em ressecamentos, hemorragias e necrose progressiva de tecidos1,19-21.
A decisão de usar um curativo específico deve ser guiada não apenas por eficácia
potencial, ocorrência de efeitos adversos, localização e sintomas de lesões (dor,
exsudato etc.), mas também por experiência clínica, preferência de pacientes,
frequência de trocas e custos22-24. Mesmo quando o valor econômico
não é problema, o melhor tratamento pode ser difícil de implementar ou pode não
estar disponível, de modo que se torna importante conhecer alternativas eficientes
de segunda linha22.
OBJETIVO
O objetivo do estudo foi avaliar a viabilidade (operacional e financeira) de um
modelo de CVS (MCVS).
MÉTODO
Estudo viabilidade feito a partir de ensaio clínico randomizado de superioridade,
cego, com dois braços paralelos, realizado entre 1º de janeiro de 2017 e 1º de
maio
de 2020 no Hospital Roberto Santos (HRS; hospital-escola, multidisciplinar, 640
leitos - Salvador, BA). O ensaio foi cadastrado no Registro Brasileiro de Ensaios
Clínicos (RBR-5c8y6v) e seguiu recomendações CONSORT 201025. A pesquisa foi aprovada pelo Conselho de Ética em
Pesquisa do HRS (CAAE 55556816.7.0000.5028) e realizada de acordo com a Declaração
de Helsinque. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi obtido dos pacientes
participantes.
Uma amostra de 50 pacientes foi calculada com uso de programa estatístico R (R Core
Team, 2018) admitindo para o grupo MCVS proporção esperada média de sucesso de
98% e
para o grupo controle de 72% e com margem de superioridade de 25%. Assumiu-se
poder
de teste de 80% e nível de significância de 5%. Os pacientes foram admitidos
sequencialmente nos grupos tratamento (MCVS) e controle (hidrofibra prata - HFP,
Aquacel Ag+ Extra™ - Convatec Inc., ER Squibb & Sons, North Caroline - USA)
seguindo lista de números aleatórios gerados no programa estatístico citado. A
análise estatística utilizada foi por protocolo de tratamento.
Foram incluídos pacientes adultos hospitalizados em decorrência de feridas agudas
(< 3 meses) ou crônicas (≥ 3 meses). Não foram incluídos indivíduos com desordens
sistêmicas descompensadas (cardíaca, tireoideana, renal, pulmonar, hepática,
hipertensão arterial, anemia grave, desnutrição severa e coagulopatias). Feridas
dolorosas ou infectadas, feridas associadas a dermatoses perilesionais, reações
alérgicas, neoplasias, exposição de vasos, nervos ou vísceras também não foram
incluídas. Desenvolvimento de complicações graves (por exemplo, hemorragia, reações
alérgicas, sepse, necrose extensa, dor intensa), descompensação de distúrbios
sistêmicos previamente controlados e óbitos não atribuíveis ao uso de curativos
foram critérios de exclusão utilizados.
Áreas feridas foram calculadas com uso do aplicativo SketchandCalc (www.sketchandcalc.com - Figura 1). Instalação, MCVS e exemplos clínicos estão representados nas
Figuras 2 a 4. MCVS foi regulado com pressão - 125mmHg. O primeiro curativo era
usado em sucção contínua e os demais, em sucção intermitente (5 minutos de vácuo
e 2
minutos sem vácuo)2,26.
Figura 1 - Cálculo de áreas feridas. 1: demarcação de contornos de lesão com uso
de filme de acetato transparente, 2: recorte de área demarcada, com
obtenção de decalque bidimensional (molde), 3: digitalização, 4: cálculo
computadorizado de área lesada.
Figura 1 - Cálculo de áreas feridas. 1: demarcação de contornos de lesão com uso
de filme de acetato transparente, 2: recorte de área demarcada, com
obtenção de decalque bidimensional (molde), 3: digitalização, 4: cálculo
computadorizado de área lesada.
Figura 2 - Instalação do MCVS. 1: Recorte e colocação de esponja sobre lesão, 2:
selamento de esponja com uso de filme adesivo transparente de
poliuretano, 3: colocação de ventosas de sucção sobre um ou dois
orifícios (2 cm) feitos na película, sobre a espuma, 4: conexão do tubo
das ventosas ao frasco coletor de líquidos, 5: conexão do frasco com a
unidade de controle, 6: acionamento da TPN e ajuste da pressão
subatmosférica.
Figura 2 - Instalação do MCVS. 1: Recorte e colocação de esponja sobre lesão, 2:
selamento de esponja com uso de filme adesivo transparente de
poliuretano, 3: colocação de ventosas de sucção sobre um ou dois
orifícios (2 cm) feitos na película, sobre a espuma, 4: conexão do tubo
das ventosas ao frasco coletor de líquidos, 5: conexão do frasco com a
unidade de controle, 6: acionamento da TPN e ajuste da pressão
subatmosférica.
Figura 3 - MCVS. 1: esponja, 2: película adesiva (poliuretano); 3: ventosa, 4:
presilha corta fluxo, 5: tubo de drenagem, 6: filtro, 7 e 10: tubos de
conexão, 8: entrada, 9: saída de ar, 11: temporizador (digital), 12:
botão liga/desliga, 13: manômetro (pneumático), 14: botão de ajuste de
pressão subatmosférica.MCVS: modelo de curativo a vácuo
simplificado.
Figura 3 - MCVS. 1: esponja, 2: película adesiva (poliuretano); 3: ventosa, 4:
presilha corta fluxo, 5: tubo de drenagem, 6: filtro, 7 e 10: tubos de
conexão, 8: entrada, 9: saída de ar, 11: temporizador (digital), 12:
botão liga/desliga, 13: manômetro (pneumático), 14: botão de ajuste de
pressão subatmosférica.MCVS: modelo de curativo a vácuo
simplificado.
Figura 4 - Exemplo de resultados de curativos utilizados no tratamento de
feridas contaminadas. MCVS: (1) antes e (2) após 10 dias de
vacuoterapia, (3) MCVS instalado; hidrofibra: (4) antes e (5) após 10
dias de hidrofibra. Notar menor tempo de tratamento e tecido de
granulação de melhor qualidade com uso do MCVS (limpeza, desenvolvimento
e coloração).
Figura 4 - Exemplo de resultados de curativos utilizados no tratamento de
feridas contaminadas. MCVS: (1) antes e (2) após 10 dias de
vacuoterapia, (3) MCVS instalado; hidrofibra: (4) antes e (5) após 10
dias de hidrofibra. Notar menor tempo de tratamento e tecido de
granulação de melhor qualidade com uso do MCVS (limpeza, desenvolvimento
e coloração).
Em ambos os grupos, desbridamentos foram realizados para remoção de tecidos
desvitalizados ocasionalmente presentes em feridas. Trocas foram feitas diante
de ≥
50% de saturação de curativos para evitar odor desagradável27. Pacientes foram seguidos por
período de 14 dias ou até a ferida granular (≥ 75% do leito cruento coberto por
tecido de granulação de aspecto saudável).
Foram avaliadas viabilidades operacional (facilidade de instalação e de uso) e
financeira (custos de trocas de curativos) do MCVS. Para viabilidade operacional,
desfechos analisados foram tempo de instalação e quantidade de curativos; para
viabilidade financeira, custos econômicos totais e custo de trocas de curativos.
Devido à assimetria de variáveis de estudo, análises estatísticas descritivas
de
viabilidade foram efetivadas com uso de mediana, intervalo interquartílico e
diferença padronizada bivariada em comparação de tipos de curativos.
Critérios de qualificação de diferenças padronizada (Dp) foram: [0-0,2]: ausente;
(0,2-0,5]: pequena; (0,5-0,8]: moderada; [> 0,8]: grande (Cohen, 1988). Valores
de p calculados a partir do mesmo teste foram ajustados para quatro
comparações múltiplas sob condição de dependência pelo método de Benjamini &
Yekutieli28. Para
estimativas de custo ajustadas por tempo de instalação de curativo, número de
curativos e tempo de tratamento, empregou-se o modelo de regressão robusta com
τ =
0,5 (mediana)29. Assumiu-se o erro
α global de 0,05 para todo o estudo.
RESULTADOS
De 74 pacientes avaliados, 24 não foram incluídos por não atender a critérios de
inclusão (Figura 5). Pacientes estudados foram,
sobretudo, homens MCVS: 52% x HFP: 68%), mestiços (MCVS: 72% x HFP: 84%), não
obesos
(88%, ambos os grupos) e com idade média na faixa de 6ª década (MCVS: 55 anos
x HFP:
50 anos - Tabela 1). Somando resultados de
ambos os grupos, foram aplicados 270 curativos durante um período de 589 dias
de
tratamento.
Tabela 1 - Caracterização demográfica de amostras de acordo com grupos.
Variável |
MCVS
(n=25)
|
HFP
(n=25)
|
Média (DP)
(CV%)
|
Mín/Máx |
Média (DP)
(CV%)
|
Mín/Máx |
Idade (anos) |
55 (14) (25) |
29/85 |
50 (16) (32) |
15/79 |
Peso
(Kg) |
67 (16) (23,9) |
47/108 |
68 (15) (21,8) |
43/103 |
Altura (cm) |
164 (11) (6,9) |
145/184 |
166 (12) (6,9) |
154/180 |
|
n |
% |
n |
% |
Sexo |
|
|
|
|
Masculino |
13 |
52 |
17 |
68 |
Feminino |
12 |
48 |
8 |
32 |
Pele |
|
|
|
|
Parda |
18 |
72 |
21 |
84 |
Negra |
5 |
20 |
2 |
8 |
Branca |
2 |
8 |
2 |
8 |
IMC |
|
|
|
|
Baixo peso |
2 |
8 |
3 |
12 |
Normal |
10 |
40 |
11 |
44 |
Sobrepeso |
10 |
40 |
8 |
32 |
Obesidade |
3 |
12 |
3 |
12 |
Tabela 1 - Caracterização demográfica de amostras de acordo com grupos.
Figura 5 - Diagrama de fluxo.
Figura 5 - Diagrama de fluxo.
O tempo mediano de instalação do MCVS foi cerca de 6 vezes maior do que o de HFP
(22,7 min x 4,0 min; Dp = 0,84; p=0,0008). O MCVS apresentou, para
menos, uma diferença de 4 dias de tratamento (3 dias x 7 dias; Dp=0,57;
p=0,0028) e de trocas de curativos (3 curativos x 7 curativos;
Dp=0,85; p<0,0027) (Tabela 2).
Tabela 2 - Viabilidade operacional de acordo com tipo de curativo.
Variável |
MCVS (n
= 25)
|
HFP (n=
25)
|
Md(IIQ) |
Mín/Máx |
CVMd% |
Md(IIQ) |
Mín/Máx |
CVMd% |
Dp |
p* |
Tempo de instalação do curativo
(min)
|
22,71 (10,0) |
16,5/38,7 |
44,0 |
4,0(3,0) |
2,2/10,4 |
75,6 |
0,84 |
0,0008 |
Tempo
de tratamento (dias)
|
10(5) |
3/15 |
50,0 |
14(0) |
7/15 |
0,0 |
0,57 |
0,0028 |
Curativos/paciente |
3(1) |
1/4 |
33,3 |
7(2) |
6/14 |
28,6 |
0,85 |
0,0027 |
Tabela 2 - Viabilidade operacional de acordo com tipo de curativo.
A Tabela 3 (viabilidade financeira) apresenta
estimativas de custos ajustadas por tempo de instalação por curativo, número de
curativos e tempo de tratamento através de modelo de regressão robusta com τ =
0,5
(mediana). No modelo bruto (que contém apenas tipo do curativo como variável
independente), a diferença em custo predito de MCVS em relação à HFP foi de apenas
R$ 31,19, porém, ao acrescentar demais variáveis citadas (covariáveis), a diferença
passou a ser R$ 1.112,96 (modelo ajustado 1). Houve, assim, grande alteração ao
se
levar em conta todas covariáveis e, assim, o modelo bruto se mostrou insatisfatório
para predição de diferença de custo entre curativos.
Tabela 3 - Estimativa de custo mediano ajustado por tempo de instalação de curativo,
número de curativos e tempo de tratamento por meio de uso de regressão
robusta com τ = 0,5 (mediana).
Variável |
Modelo bruto
|
Modelo ajustado 1
|
Modelo ajustado 2
|
Modelo saturado
|
Modelo ajustado final
|
Custo (R$) |
pB |
Custo (R$) |
pAj1 |
VIF |
Custo (R$) |
pAj2 |
Custo (R$) |
pS |
Custo (R$) |
pAjf |
Intercepto (β0)
|
931,26 |
< 0,0001
|
-1139,05 |
< 0,0001 |
- |
-1269,37 |
< 0,0001 |
-894,75 |
0,1960 |
-1270,55 |
< 0,0001 |
MCVS
(β1)
|
-31,19 |
0,8470 |
1112,96 |
0,0001 |
2,10 |
1275,15 |
< 0,0001 |
890,53 |
0,1978 |
1282,82 |
< 0,0001 |
Tempo de instalação por - curativo (min)
(β2)
|
- |
- |
0,74 |
0,7080 |
2,52 |
0,31 |
0,9138 |
- |
- |
- |
- |
Número de curativos
(β3)
|
- |
- |
246,00 |
0,0017 |
55,89 |
297,17 |
< 0,0001 |
245,92 |
0,0137 |
297,48 |
< 0,0001 |
Tempo de tratamento
(dias) (β4)
|
- |
- |
17,03 |
0,4032 |
47,72 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
MCVS
(β1) x número de curativos
(β3)
|
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
58,20 |
0,5462 |
- |
- |
Tabela 3 - Estimativa de custo mediano ajustado por tempo de instalação de curativo,
número de curativos e tempo de tratamento por meio de uso de regressão
robusta com τ = 0,5 (mediana).
O modelo ajustado 1 mostrou forte correlação (multicolinearidade) entre
número de curativos e tempo de tratamento, com
valores de fator de inflação de variância (VIF) superiores a dez31. Por conseguinte, estas
covariáveis não podem permanecer juntas no modelo para evitar vieses. Como
número de curativos foi a covariável que apresentou maior
diferença em custo, a covariável tempo de tratamento foi excluída
do modelo.
No modelo ajustado 2, a covariável tempo de instalação não
contribuiu para o custo predito (R$ 0,31; p=0,9138), sendo retirada
do modelo.
No modelo ajustado 2, covariáveis que contribuíram para estimativas de custo mediano
foram tipo do curativo e número de curativos e,
após avaliação de possível interação entre estas covariáveis em modelo saturado
com
termo de interação, evidenciou-se sua provável ausência
(p=0,5462).
O modelo final ajustado mostra que a diferença estimada de custo entre MCVS e HFP
foi
de R$ 1.282,82 (p<0,0001). Em outras palavras, custos seriam bem
maiores para MCVS se o grupo exigisse mesmo número de curativos que HFP. Uma vez
que
foram trocados mais curativos HFP (HFP = 7 x MCVS: 3), foi representado na Figura 6 tanto a diferença de custo encontrada
diretamente no estudo (retas contínuas) como a diferença se os grupos apresentassem
mesmo número de curativos (reta tracejada).
Figura 6 - Custo predito a partir de modelo de regressão robusta com τ = 0,5
(mediana) em função de número de curativos de acordo com tipo de
curativo.
Figura 6 - Custo predito a partir de modelo de regressão robusta com τ = 0,5
(mediana) em função de número de curativos de acordo com tipo de
curativo.
A figura mostra, por exemplo, que custos estimados para 6 curativos (número mínimo
de
curativos realizados no grupo HFP) foram: MCVS: R$ 1.797,20 x HFP: R$ 514,33;
custos
estimados para número mediano de curativos realizados em cada grupo foram MCVS
(3
curativos): R$ 904,71 x HFP (7 curativos): R$ 811,81 (correspondente a R$
92,91/paciente); por fim, o custo estimado para 1 MCVS foi de R$ 309,75, o que
corresponde a custo estimado para 5,31 HFP. Por conseguinte, o custo estimado
MCVS
foi superior ao custo estimado HFP em todos os itens avaliados.
DISCUSSÃO
CVS reduzem recursos tecnológicos para facilitar manuseio e minimizar custos, porém,
a simplificação não deve comprometer a confiabilidade do produto8,11,16. Para garantir a
segurança, recomenda-se que os dispositivos disponham de mecanismos de controle
de
pressão para evitar variações de pressão subatmosférica e, em casos de pressões
intensas, prevenir exsanguinação através das feridas3.
MCVS, além de conter esses elementos de segurança, incluindo manômetro pneumático,
foi dotado de filtro especializado (polietileno de alto peso molecular - Figura 3) que, ao entrar em contato com
exsudatos, bloqueia efluxos além do frasco coletor. Por fim, foram utilizadas
esponjas de coloração clara para facilitar observação de seu grau de saturação
e de
retenção de debris. TPN convencional utiliza esponjas pretas, que impossibilitam
observações. A transparência de um curativo possibilita monitorização contínua
de
leitos feridos e de pele perilesional sem necessidade de violar o curativo,
reduzindo trocas e custos32.
Poucos dados estão disponíveis sobre operacionalidade de curativos a vácuo, o que
dificulta discussões detalhadas. Em uma revisão sistemática, o modo de instalação
foi descrito sumariamente sem ilustrações26. Em concordância com a corrente pesquisa, um estudo
comparativo de tratamento de feridas crônicas usando um CVS de sucção hospitalar
também descreveu seis etapas para instalação do curativo a vácuo13. Exceto por esses trabalhos e
daquilo que está registrado no manual de fabricação de TPN convencionais, descrições
sobre etapas de colocação não têm sido feitas em revisões sobre o assunto3,4,33.
O maior tempo de instalação para MCVS (22,71 min x 3,98 min) foi atribuído à maior
complexidade de uso do dispositivo e, desse modo, de necessidade de treinamento
para
domínio do procedimento. A complexidade se deveu a múltiplas etapas necessárias
para
colocação do MCVS (6 etapas x 2 etapas), ao maior cuidado exigido para selamento
de
curativos (Figura 2, etapa 2) e ao tempo extra
necessário para remoção de esponjas aderidas a feridas.
Em referências pesquisadas, apenas um ensaio randomizado utilizando um modelo de CVS
(também suprido por vácuo hospitalar) forneceu resultados, com tempo médio de
instalação de 19 minutos34.
Comparado com o presente estudo, a diferença de pouco menos de quatro minutos
por
troca de curativo (22,71 min x 19 min) foi considerada pouco importante. Os dados
sugerem que a complexidade de instalação do MCVS pode ser similar à de outros
modelos de curativos simplificados.
A complexidade de instalação também é problema relacionado à TPN
convencional1,3,6, sobretudo em feridas situadas em zonas contornadas (exemplo:
pescoço, mãos e pés), em locais com reentrâncias (exemplo: entre dedos, sulco
interglúteo), em regiões próximas a orifícios naturais (exemplo: períneo) ou quando
pele perilesional estiver continuamente úmida (exemplo, dermatoses)1,3,6,13,35. A
complexidade é tão significativa que TPN convencional é feita por equipes de
enfermagem treinadas e não pertencentes à unidade hospitalar, o que gera dificuldade
de acesso dessas equipes, especialmente em períodos noturnos, finais de semana,
unidades de terapia intensiva e centros cirúrgicos. Além disso, obter e manter
a
vedação da ferida pode ser um exercício frustrante, diminuindo ainda mais a
popularidade dos curativos a vácuo36. Em contraste, curativos oclusivos como HFP são simples,
diretos e rápidos de aplicar24.
Ademais, TPN requerer o trabalho adicional de monitorização diária para evitar
vazamentos13,14.
MCVS foram capazes de manter selamentos em feridas, controlar pressão subatmosférica
e drenar exsudatos sem necessidade de trocas precoces. Como resultado, a manutenção
do MCVS (3 dias) foi similar à descrita para TPN padrão ou CVS (2 a 3
dias)6,14,37.
Curativos a vácuo podem ser plenamente funcionantes por até 10 dias se a película
adesiva for mantida intacta13,38. Houve redução de número de
curativos no grupo MCVS (3 x 7), o que foi atribuído à drenagem contínua de fluidos,
o que manteve curativos insaturados e operando por mais tempo8. Esponjas usadas em TPN, graças a
suas propriedades absortivas, permitem menos trocas. Para não as tornar fétidas
ou
aderidas, os curativos devem ser trocadas a cada dois a três dias39,40.
Acúmulos de líquido durante intermitência podem romper a película e resultar em
vazamentos; consequentemente, TPN intermitente tem sido substituída por uma “TPN
variável”, caracterizada por um ciclo de variação suave entre pressões menos
intensas (-80 mmHg e -10 mmHg) de modo a manter ambiente subatmosférico
contínuo41,42. CVS alimentado por sucção de parede, como o MCVS,
pode ser desejável, pois variações pressóricas de rede hospitalar (e que são
transmitidas para o equipamento) mimetizam efeitos de TPN variável.
Análises de custos são desafiadoras, pois dados disponíveis são escassos26 e, ao contrário do realizado no
presente ensaio, descritos sem ajustes relativamente a covariáveis. Custos MCVS
dependeram de três fatores: preço médio de comercialização (unidade MCVS: R$ 299,90
x unidade HFP 15 cm x 15 cm: R$ 108,90), número de trocas e tipo de curativo.
Resultados indicam que MCVS implica em aumento de custos tanto por paciente (R$ 92,90
a mais) quanto por troca de curativo, com uma única troca de MCVS (R$ 309,80)
equivalendo ao custo aproximado de 5 trocas de HFP. No entanto, são economizados
4
curativos ao se optar por MCVS. Se o número de trocas de MCVS for semelhante ao
número de trocas de HFP, a diferença de custo aumenta ainda mais (R$ 1.282,82
-
Tabela 3, Figura 6). Portanto, cuidados para garantir a qualidade operacional são
essenciais para que não se exceda o número mediano de trocas de curativos MCVS
(três
trocas), pois o resultado elevaria consideravelmente o custo final.
Custos diretos obtidos para MCVS parecem ser bem inferiores aos de TPN padrão. O
custo de TPN convencional tem sido estimado entre US$ 1.750,00 a US$ 3.450,00
semanalmente, e US$ 1.286,00 e US$ 5.452,00 por paciente10,12,26,43. Em crianças, o custo mensal de vacuoterapia foi
recentemente estimado em US$ 1.677/paciente44. O tratamento pode tornar-se até 20 vezes mais econômica
com uso de CVS10,45. Custos de CVS podem chegar a valores tão
reduzidos quanto US$ 6,40/curativo39, US$ 15,00/dia14 ou 2% do custo médio de uso do VAC System12.
Uma razão para menores custos é que CVS são supridos por sistemas de vácuo
hospitalar, dispensando maquinaria especializada10. Outras razão é uso de materiais simples, de menor custo e
fabricados localmente (esponjas, filmes de poliuretano, frascos, tubos feitos
de
plástico PVC, etc.)11. Por fim, o
corrente estudo evidenciou que o custo do MCVS pode se tornar ainda menor se o
número de curativos for minimizado. A diminuição de trocas é possível, pois
curativos de TPN plenamente funcionantes por até dez dias têm sido
descritos13,38.
CONCLUSÃO
MCVS apresentou maior complexidade operacional e custo do que o curativo convencional
utilizado, mas pode ser viável desde que profissionais para instalação estejam
capacitados e que não haja mais que três trocas de curativos por paciente.
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1. Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA,
Brasil
2. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia,
Salvador, BA, Brasil
Autor correspondente: Sandro Cilindro de Souza Av.
Reitor Miguel Calmon, sala 110, 1º andar, Vale do Canela, Salvador, BA, Brasil.,
CEP: 40110-902, E-mail: sandrocilin@gmail.com
Artigo submetido: 01/06/2022.
Artigo aceito: 16/11/2022.
Conflitos de interesse: não há.