INTRODUÇÃO
A obesidade é um grande problema de saúde pública global. O excesso de peso está
presente em dois terços da população mundial. É uma doença de origem crônica e
multifatorial que pode desencadear várias afecções como diabetes, doenças
cardiovasculares, osteoartrite, apneia obstrutiva do sono, hipertensão, refluxo
gastroesofágico. O início do tratamento deve ser conservador, por meio de dieta,
psicoterapia, uso de medicamentos e exercícios físicos, sendo acompanhado por
equipe
multiprofissional por pelo menos dois anos1,2.
Pacientes com falha inicial do tratamento que apresentam índice de massa corporal
(IMC) acima de 35kg/m2 e comorbidades associadas ou pacientes com
IMC>40kg/m2 são candidatos a cirurgia bariátrica (CB). Os efeitos
da CB na saúde estão bem estabelecidos, melhorando condições de saúde relacionadas
às comorbidades, impactando positivamente na qualidade de vida3,4.
A perda de peso após a CB causa deformidades que podem incomodar o paciente,
incluindo excesso de pele, comprometendo sua imagem corporal. O desejo pela cirurgia
de contorno corporal (CCC) em pacientes pós-bariátricos se deve não apenas a queixas
estéticas, mas também a problemas funcionais como dificuldade para andar e
dermatite5.
Qualidade de vida (QV) é um conceito amplo que engloba a percepção de um indivíduo
sobre sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores em que vive
e
em relação a seus objetivos, expectativas e preocupações padrão. Instrumentos
foram
criados medir diretamente a qualidade de vida, capaz de reconhecer os estados
de
bem-estar físico, mental e social6.
Um procedimento cirúrgico que melhora a aparência ou funcionalidade pode produzir
mudanças que podem afetar várias esferas relacionadas à QV, como comportamento
físico, imagem corporal, aspecto psicológico, vida sexual e saúde social. A imagem
corporal é um construto multidimensional pelo qual os indivíduos entendem sua
representação pessoal da estrutura corporal e da aparência física em relação a
si
mesmas e aos outros. Podemos avaliá-la dimensionando e comparando-a com medidas
objetivas de imagem corporal. Alguns pacientes são incapazes de se reconhecer
adequadamente, apresentando dismorfismo corporal7.
Estudos mostram que pacientes pós-bariátricos que realizam CCC após estabilidade de
peso melhoraram o controle de peso em longo prazo8. Alguns estudos mostraram melhora na autoimagem, mas não
melhoria significativa na QV, o que pode ser atribuído a um pós-operatório com
mais
complicações. No entanto, poucos estudos avaliaram o efeito da CCC na qualidade
de
vida e imagem corporal em pacientes pós-bariátricos, principalmente em países
em
desenvolvimento.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo avaliar e comparar a qualidade de vida e a percepção
da
imagem corporal de pacientes obesos mórbidos antes da cirurgia bariátrica (CB),
após
a CB, antes da cirurgia de contorno corporal (CCC) e após a CCC.
MÉTODO
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Franciscana com o número de protocolo 2.591.856.
Os pacientes incluídos forem maiores de 18 anos, os quais assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos pacientes que não conseguiam
ler,
interpretar e responder aos questionários e pacientes que não apresentavam
correspondência adequada entre os grupos.
Os critérios de inclusão para o Grupo A consistiram em pacientes obesos mórbidos
imediatamente antes da cirurgia bariátrica (CB) em uma clínica privada, o Grupo
B
consistiu em pacientes 6 meses após a CB na mesma clínica, o Grupo C consistiu
em
pacientes após a CB com estabilidade de peso que procuraram uma clínica privada
de
cirurgia plástica para cirurgia de contorno corporal (CCC) de abril de 2018 a
abril
de 2019 e o Grupo D foi constituído de pós-CB e com pelo menos um ano de
pós-operatório de CCC da mesma clínica. Os pacientes do Grupo D tinham uma ou
mais
CCC prévias. Esses pacientes foram pareados por IMC (± 2 Kg/m2) e idade
(± 2 anos) antes de realizarem a CB.
Para avaliação da qualidade de vida (QV), foi utilizado o questionário
autoadministrado SF-36, traduzido e validado no Brasil por Ciconelli et
al.9. É composto por 36
itens, divididos em 8 domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, saúde
geral, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais, e saúde mental. Avalia
tantos aspectos negativos (doenças) quanto positivos (bem-estar). A pontuação
é
calculada em uma escala de 0 a 100 pontos, sendo que os maiores valores correspondem
à melhor percepção da QV. As pontuações são ponderadas individualmente e combinadas
para calcular os componentes de saúde física (CSF), que incluem capacidade
funcional, aspectos físicos, limitação por dor e saúde geral e componentes de
saúde
mental (CSM) que inclui vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde
mental.
Para avaliação da imagem corporal, foi utilizada a Escala Brasileira de Silhueta
Adaptada para Adultos, proposta por Kakeshita et al.10, em que o paciente é solicitado a escolher entre
as silhuetas disponíveis aquela que melhor o representa. A diferença entre o IMC
atual (da figura escolhida) e o IMC real (medido) é considerada uma discrepância
na
imagem corporal, no sentido de sua superestimação, subestimação ou ausência de
distorção.
Os dados foram analisados para normalidade usando o teste de Shapiro-Wilk. Para os
casos após normalidade, foi realizado o teste ANOVA de medidas repetidas, seguido
do
teste post hoc Tukey HSD. Para os dados não paramétricos, foi
utilizado o teste de Friedman, seguido do teste post hoc de
Wilcoxon com correção de Bonferroni. O software IBM SPSS Versão 25
foi usado como ferramenta computacional para análise estatística de dados. Para
nível de significância estatística, foi utilizado p<0,05.
RESULTADOS
Características da amostra
Foram incluídos 21 pacientes em cada grupo (Tabela 1). Foi realizado teste de homogeneidade, sem diferença entre
os grupos pareados. Pacientes procuram a cirurgia de contorno corporal (CCC)
em
média 3,4 anos após cirurgia bariátrica (CB). Pacientes do grupo após a CCC
tinham em média 2,6 anos (± 16 meses) de pós-operatório.
Tabela 1 - Características dos grupos A (n=21), B (n=21) C (n=21) e D
(n=21).
|
A |
B |
C |
D |
Idade antes da
CB (anos- média DP)
|
37,6 (11,4) |
37,6 (11,4) |
36,3 (9,7) |
37,1 (12,0) |
Idade Atual (anos- média DP)
|
37,6
(11,4)
|
38,0
(11,4)
|
39,3
(11,3)
|
39,6
(11,6)
|
IMC antes da CB
(Kg/m2 média DP)
|
42,7 (3,5) |
42,7 (3,5) |
42,7 (3,1) |
43,6 (4,5) |
IMC atual (Kg/m2 média
DP)
|
42,7 (3,5) |
29,2
(4,3)
|
26,9 (3,9) |
25,2 (2,9) |
Sexo
Feminino Masculino
|
20 1
|
20 1
|
20 1
|
20 1
|
Estado Civil (%) Casado/UE
Solteiro/div.
|
70 30
|
70 30
|
33 67
|
38 62
|
Tempo da CB
(mesesmédia DP)
|
0 |
6 (1) |
41,1 (38,3) |
80,0 (52,7) |
Tabela 1 - Características dos grupos A (n=21), B (n=21) C (n=21) e D
(n=21).
Qualidade de vida
A QV foi medida e apresentada como valores de média e desvio padrão (Tabela 2). São apresentados os valores de
cada um dos 8 domínios e os domínios agrupados em CS, M e CSF.
Tabela 2 - Descrição dos escores em média e desvio padrão dos domínios do SF-36
nos grupos A, B, C e D.
|
A
(n=21)
|
B
(n=21)
|
C
(n=21)
|
D
(n=21)
|
Capacidade Funcional |
38,0 (18,2)** |
90,7 (12,5) |
91,1 (9,0) |
86,1 (13,2) |
Limitações Aspectos físicos |
29,7 (42,2)** |
96,4 (11,9) |
95,2 (16,9) |
91,6 (24,1) |
Limitação por dor |
39,4 (22,1)** |
80,4 (17,5) |
71,1 (24,6) |
70,3 (20,6) |
Estado geral de saúde |
37,0 (18,2)** |
77,8 (11,3) |
83,8 (12,3) |
79,0 (16,6) |
Vitalidade |
38,3 (21,8)** |
83,3 (11,8) |
70,4 (19,9) |
64,0 (20,1) |
Aspectos Sociais |
49,4 (32,9)** |
87,5 (23,0)** |
82,3 (24,8)* |
81,5 (21,1)* |
Aspectos Emocionais |
25,3 (43,3)** |
88,8 (28,5) |
74,2 (17,5)* |
76,1 (35,1) |
Saúde Mental |
53,1 (24,9)** |
80,7 (16,2) |
84,1 (29,0) |
71,2 (16,1) |
Componente Saúde Física |
36,1 (18,7)** |
86,3 (8,5) |
84,3 (14,0) |
81,8 (15,6) |
Componente Saúde Mental |
41,5 (25,0)** |
85,1 (17,2) |
77,9 (19,9) |
73,2 (19,1) |
Tempo de CB (meses) |
0 |
6 (1) |
41 (38,3) |
80,0 (52,7) |
N
válido (de lista)
|
21 |
21 |
21 |
21 |
Tabela 2 - Descrição dos escores em média e desvio padrão dos domínios do SF-36
nos grupos A, B, C e D.
Nos domínios dos componentes da saúde física (CSF), como capacidade funcional,
aspectos físicos, limitação da dor e estado geral de saúde, todos apresentaram
diferença significativa entre o Grupo A e os demais B, C e D.
(p<0,001). Não foram detectadas diferenças
significativas entre os grupos B, C e D (Figura 1).
Figura 1 - Gráfico dos componentes da Saúde Física do SF-36.
**p<0,001.
Figura 1 - Gráfico dos componentes da Saúde Física do SF-36.
**p<0,001.
Em relação aos domínios dos componentes da saúde mental (CSM), encontramos
diferenças significativas nos domínios vitalidade, aspectos sociais entre o
Grupo A e os grupos B, C e D. No domínio aspectos emocionais, o Grupo A foi
significativamente diferente de B e D, mas não diferiu do Grupo C (Figura 2). No domínio saúde mental,
encontramos o Grupo A diferindo significativamente dos grupos B e C, mas sem
diferença significativa do Grupo D.
Figura 2 - Gráfico dos componentes da Saúde Mental do SF-36.
*p<0,05;
**p<0,001.
Figura 2 - Gráfico dos componentes da Saúde Mental do SF-36.
*p<0,05;
**p<0,001.
Os domínios do SF-36 foram agrupados em Componentes de Saúde Física (CSF) e
Componentes de Saúde Mental (CSM), apresentando diferença significativa entre
o
grupo antes da CB e os demais (Figura 3).
Figura 3 - Gráfico dos componentes da Saúde Física e Mental agrupados.
**p<0,001.
Figura 3 - Gráfico dos componentes da Saúde Física e Mental agrupados.
**p<0,001.
Imagem Corporal
Em relação à imagem corporal, a média do IMC no Grupo A foi de
42,7kg/m2, Grupo B 29,2kg/m2, Grupo C
26,98kg/m2 e Grupo D 25,27 kg/m2. A diferença entre o
Grupo A e os demais foi significativa (Tabela 3).
Tabela 3 - Tabela descritiva do IMC Real, Silhueta e Distorção na Imagem
Corporal nos grupos A, B, C e D. E o tempo de CB em meses.
|
A |
B |
C |
D |
|
Média (DP) |
Média (DP) |
Média (DP) |
Média(DP) |
IMC
Real (kg/m2)
|
42,7 (3,4)** |
29,2 (4,3) |
26,9 (3,9) |
25,2 (2,9) |
IMC Silhueta (kg/m2)
|
44,2 (3,9)** |
28,7 (3,8) |
30,1 (6,9) |
30,4 (6,2) |
Distorção média (kg/m2)
|
1,5 (5,1) |
-0,5 (4,3) |
3,2 (4,4)* |
5,2 (5,3)* |
Tempo de CB (meses) |
0 |
6 (1,0) |
41,12 (38,3) |
80,0 (52,7) |
Tabela 3 - Tabela descritiva do IMC Real, Silhueta e Distorção na Imagem
Corporal nos grupos A, B, C e D. E o tempo de CB em meses.
Em relação ao IMC da silhueta percebida, a média do Grupo A foi de 44,28
kg/m2, Grupo B 28,75 kg/m2, Grupo C 30,10
kg/m2, Grupo D 30,47 kg/m2, sendo significativa a
diferença escolhida entre o grupo A e os demais (Figura 4). A distorção média é a diferença entre o IMC real e o IMC
da silhueta percebida.
Figura 4 - Gráfico da média do IMC (Kg/m2) e silhuetas dos grupos
A, B, C e D. **p<0,001. IMC - índice de massa
corporal.
Figura 4 - Gráfico da média do IMC (Kg/m2) e silhuetas dos grupos
A, B, C e D. **p<0,001. IMC - índice de massa
corporal.
Uma distorção média de 1,53 kg/m2 foi identificada no Grupo A, no
Grupo B foi de -0,47 kg/m2, no Grupo C 3,11 kg/m2 e no
Grupo D 5,20 kg/m2, o que significa que os pacientes superestimaram
sua imagem real nos grupos A, C e D, com diferenças significativas entre o Grupo
B com C e D. No Grupo A, apenas um paciente foi considerado sem distorção,
enquanto no Grupo B 6 (28%), C 1 (4,8) e D 3 (14,4%). O Grupo B teve 10 (48%)
subestimados, enquanto os grupos A, C e D principalmente superestimaram, 13
(62%), 15 (72%) e 16 (76%), respectivamente (Figura 5).
Figura 5 - Gráfico da distorção média da imagem corporal (Kg/m2)
nos grupos A, B, C e D. **p<0,001.
Figura 5 - Gráfico da distorção média da imagem corporal (Kg/m2)
nos grupos A, B, C e D. **p<0,001.
DISCUSSÃO
A cirurgia bariátrica (CB) já está bem estabelecida no tratamento da obesidade
mórbida, reduzindo a mortalidade e sendo eficaz no tratamento das
comorbidades4,11. Os pacientes relatam melhora
substancial nas queixas relacionadas à obesidade, mas a duração dessas alterações
e
a manutenção ou recuperação do peso são desconhecidos12.
Neste estudo, foram avaliadas a qualidade de vida (QV) e a imagem corporal (IC) de
obesos mórbidos submetidos a CB e cirurgia de contorno corporal (CCC) em clínica
privada, sendo encontrada uma melhora significativa nos domínios físicos da QV
após
a CB, sem diferenças significativas ao longo do tempo. O mesmo achado descrito
por
Driscoll et al.13. No entanto,
houve piora nos escores de QV dos domínios relacionados à saúde mental,
provavelmente devido a problemas relacionados ao excesso de pele e flacidez. A
QV é
um construto que inclui vários domínios relacionados à saúde física e psicológica,
como a imagem corporal. Pacientes que procuram a CCC sentem um desconforto em
relação à imagem corporal e piora da QV. Estudos a respeito da QV após a CCC são
inconsistentes14.
Song et al.5 encontraram taxas de
qualidade de vida do SF-36 mais baixas em pacientes que procuraram CCC do que
em
pacientes que nunca procuraram, sugerindo que os pacientes pós-bariátricos que
não
desejavam a CCC já haviam alcançado os objetivos da CB e que a flacidez não
ocasionou nenhum prejuízo funcional ou psicológico.
Os pacientes submetidos a CCC continuaram a apresentar escores de QV mais baixos do
que os demais, com escores semelhantes aos anteriores à CB. Fato que pode ser
explicado por algum descontentamento ou frustração após o procedimento. Domínios
como vitalidade e aspectos sociais permaneceram estáveis independentemente do
CCC.
Os aspectos emocionais melhoraram após o CCC.
Ao avaliarmos a imagem corporal escolhida pelos pacientes, notou-se uma tendência
dos
grupos a se superestimarem, optando por silhuetas maiores, exceto para o grupo
com 6
meses após a CB, em que a escolha da silhueta foi menor do que a real. Pacientes
com
melhor qualidade de vida e melhor saúde mental tendem a ter uma autoimagem mais
positiva. Esses pacientes aos 6 meses de CB ainda estavam em processo de perda
de
peso e percebendo os benefícios da CB. A distorção da imagem corporal não se alterou
após a CB e os pacientes que procuraram a CCC mostraram uma superestimação da
imagem, sendo ainda maior nos pacientes que fizeram a CCC. Eles retornaram às
pontuações em escalas de saúde mental semelhantes às anteriores à CB.
Ressalta-se que muitos pacientes após um procedimento de contorno corporal desejam
realizar outros, mudando apenas o foco de suas queixas. Mudanças na percepção
da
imagem corporal podem ser evidências de transtorno dismórfico corporal, que pode
estar relacionado à piora dos componentes da saúde mental após a CCC15-17.
Em 2016, foi realizado um estudo qualitativo sobre a qualidade de vida em pacientes
pós-bariátricos, constatando-se que suas expectativas em relação à CCC eram muito
altas e isso gerou frustração tardia. Questionários específicos para a população
bariátrica apresentam domínios sobre aparência e expectativas, que podem captar
as
principais mudanças promovidas pelo CCC18.
As amostras foram pareadas por IMC e idade antes da realização da CB. Apenas 30% dos
pacientes que se submetem a CB procuram a CCC posteriormente. O custo pode ser
considerado uma barreira, uma vez que 80% relatam a vontade de realizar cirurgias
de
contorno corporal após perda significativa de peso. A comparação feita entre os
pacientes antes da CB, independentemente da vontade de realizar cirurgia corporal
ou
não, pode ser um viés do estudo, visto que os pacientes que apresentam algum
desconforto em relação à imagem são justamente aqueles que procuram a CCC com
maior
incidência de distúrbio de imagem nesta população.
O questionário de 36 itens Medical Outcome Short Form Heath Study
(SF-36) é um questionário genérico de autoadministração, fácil de interpretar
e com
boa reprodutibilidade. Ele foi capaz de capturar as mudanças nos padrões de saúde
mental ao longo do tratamento da obesidade mórbida. As descobertas desses estudos
estão de acordo com a literatura, que identifica os benefícios inequívocos da
CB na
QV nos aspectos físicos, mas não tão claros nos aspectos da saúde mental. Quando
combinado com o SF-36 e a escala de silhuetas, foi possível identificar a associação
entre saúde mental e distorção da percepção corporal nesses pacientes.
O preparo para a CB deve levar em consideração a presença de transtornos dismórficos
corporais nesta população, visto que as alterações corporais decorrentes da
expressiva perda de peso podem ser fonte de grande ansiedade e que, para ter sucesso
na CCC, as expectativas desses pacientes devem ser adequadas e preparadas antes
mesmo do CB.
Paul et al.19 descrevem resultados
de melhora física e mental em pacientes operados na Polônia, utilizando o
National Health Fund, em que o preparo de pacientes com grupos
de apoio e internações mais longas tiveram maiores efeitos positivos em pacientes
com piores escores antes da CB. A melhora foi uniforme na percepção das demais
áreas
e nenhum paciente ficou insatisfeito com o resultado do procedimento.
No Brasil, nem todos os procedimentos de CCC são cobertos por planos de saúde e, em
alguns casos, os pacientes até ganham peso para atingir os critérios de IMC e
realizar a CB.
Este estudo teve limitações devido ao pequeno tamanho da amostra, que não detectou
outras diferenças. As comparações foram feitas com diferentes pacientes que, apesar
do pareamento, apresentavam variáveis socioeconômicas que podem interferir na
saúde
geral e na QV, impossibilitando a análise multivariada. Além disso, foi utilizado
um
questionário de QV genérico, que pode não captar pequenas mudanças específicas
nessa
população. Mais estudos são necessários para compreender a relação entre imagem
corporal e qualidade de vida em pacientes pós-bariátricos.
CONCLUSÃO
Pacientes pós-bariátricos procuram cirurgias de contorno corporal por apresentarem
uma piora na qualidade de vida após estabilidade ponderal e aparecimento de
flacidez. Com os procedimentos corporais, ocorre uma melhora nos aspectos
emocionais, mas uma piora nos componentes da saúde mental associada a um aumento
na
distorção corporal, sugerindo um maior dismorfismo nesses pacientes. Melhor
preparação pré-operatória e adaptação às expectativas podem melhorar a satisfação
desses pacientes.
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1. Universidade Franciscana, Programa de
Pós-graduação em Ciências da Saúde e da Vida, Santa Maria, RS,
Brasil
2. Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Cirurgia, Santa Maria, RS, Brasil
3. Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Estomatologia, Santa Maria, RS, Brasil
Autor correspondente: Giancarlo Cervo Rechia Rua
Pinheiro Machado, 2494 Sala 402, Santa Maria, RS, Brasil., CEP: 97050-600,
E-mail: giancarlorechia@hotmail.com
Artigo submetido: 19/04/2022.
Artigo aceito: 13/09/2022.
Conflitos de interesse: não há.