INTRODUÇÃO
A cicatrização é uma sequência de eventos reparatórios da ferida, seguidos por inflamação,
proliferação celular, remodelação, contração da ferida e, por fim, a epitelização.
A ferida cirúrgica apresenta níveis crescentes de radicais livres em resposta ao dano
cutâneo. Estas moléculas são liberadas pelos neutrófilos e em altos níveis podem prejudicar
o processo de cicatrização. Devido a este processo fisiológico, existe a hipótese
de que os antioxidantes possam auxiliar no reparo da ferida por reduzir os danos causados
pelos radicais livres1,2.
O ácido ascórbico (AA) - ou vitamina C - é um potente antioxidante e cofator na biossíntese
de colágeno, atuando na transcrição, estabilização do RNA, tradução, hidroxilação
e na secreção. Portanto, a aplicação tópica deste produto teria o potencial de promover
melhora na cicatrização cutânea por meio de suas propriedades antioxidantes, participação
na síntese de colágeno, e/ou da sua capacidade de estimular a proliferação de fibroblastos
durante o processo de cicatrização de feridas3,4.
Apesar de alguns resultados positivos do uso do AA na cicatrização cutânea, encontram-se
na literatura científica vigente resultados conflitantes sobre a eficácia tanto do
AA quanto de seus derivados na cicatrização cutânea.
OBJETIVO
Diante deste cenário, o objetivo deste estudo é mapear os conceitos-chave, principais
fontes e tipos de evidências disponíveis sobre o efeito da vitamina C (AA) tópica
na cicatrização cutânea através de uma revisão de escopo.
MÉTODOS
Desenho da pesquisa
Trata-se de uma revisão de escopo de estudos primários para avaliar o efeito do uso
do AA tópico na cicatrização cutânea5,6,7.
Aspectos éticos
Esta revisão foi desenvolvida a partir do apoio do Programa de Pós-Graduação em Cirurgia
Translacional -Mestrado Profissional em Gestão, Inovação e Tecnologia em Regeneração
Tecidual da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, e faz parte do projeto de
pesquisa intitulado “Cuidados tópicos em Cirurgia Plástica Estética: elaboração e
validação de um livro” aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP - Projeto
CEP/UNIFESP n°: 0849/2019, em 06 de outubro de 2019, CAAE: 17968719.3.0000.5505.
Estratégia de busca
A estratégia de busca na literatura foi baseada nos descritores obtidos pelo acrônimo
PICO - P: população e problema (Mulheres e homens adultos acima de 18 anos); I: intervenção
(administração tópica de vitamina C); C: comparação (pacientes que não receberam administração
tópica de vitamina C); desfechos (melhora e/ou aceleração da cicatrização cutânea)5,6,7. Foi realizado o levantamento bibliográfico nas bases de dados Medline, Lilacs e
Cochrane. Utilizaram-se como descritores do Medical Subject Heading (MeSH): ascorbic acid, l-ascorbic acid, skin, skin cream, antioxidants, wound healing, cicatrization;
administration, oral e os descritores em Ciências da Saúde (DeCS): ácido ascórbico, ácido l-ascórbico,
pele, creme para a pele, antioxidantes, cicatrização de feridas, cicatrização e administração
oral, combinados com operadores booleanos (AND, OR).
Seleção dos estudos
Os critérios de inclusão foram: delineamento de pesquisa do tipo ensaio clínico randomizado,
revisão sistemática ou estudo observacional, em humanos, idade acima de 18 anos, data
da publicação de até 5 anos, nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola e estudos
com desfechos relevantes referentes a cicatrização de feridas. Foram excluídas publicações
como revisão narrativa de literatura, dissertações, teses, editoriais, estudos in vitro e em animais, ou que não tivessem desfechos pertinentes ao tema proposto.
Os artigos incluídos neste estudo foram submetidos a análise da qualidade da metodologia
através do GRADE - Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation8,9,10.
RESULTADOS
A estratégia de busca resultou em 83 artigos, sendo 33 no Medline, 22 na Lilacs e
28 na Cochrane. Após triagem foram selecionados seis estudos que contemplaram todos
os critérios de elegibilidade (Figura 1). Estes seis estudos englobaram 129 pacientes, cuja idade variou entre 21 e 70 anos.
Os estudos encontrados estão descritos no Quadro 1, o qual detalha os autores, desenho do estudo, local, amostra, metodologia, intervenção
e principais achados.
Figura 1 - Fluxograma do processo de revisão dos artigos.
Figura 1 - Fluxograma do processo de revisão dos artigos.
Quadro 1 - Relação dos autores, desenho do estudo e amostra, metodologia e desfechos dos estudos
do tipo ensaio clínico randomizados e observacionais que foram incluídos neste estudo.
Autoria |
Desenho do estudo e amostra |
Metodologia |
Principais Achados |
Goldberg et al. (2019)11 |
- Ensaio clínico observacional, centro único, prospectivo, aberto, não controlado.
- 39 mulheres saudáveis com idades entre 40 e 65 anos, com envelhecimento cutâneo
moderado.
|
- Avaliação clínica do sérum facial contendo melatonina, bakuchiol (0,5%) e tetraisopalmitato
de ascorbil, por 12 semanas.
- Corneometer®.
- Mexameter®.
|
- Diminuição nas rugas (11%, p<0,01); aumento na firmeza cutânea (8%, p<0,01); redução na vermelhidão (70%; p<0,01).
|
Zasada et al. (2019)12.
|
- Ensaio clínico randomizado, controlado.
- 17 voluntárias saudáveis, idade entre 45 e 70 anos.
|
- Eficácia da mesoterapia com agulhas e aplicação de sérum contendo 2,5ml de ácido
L-ascórbico (20%, pH 3,5, grupo tratado).
- Mesoterapia sem agulhas e aplicação do sérum contendo ácido L-ascórbico (grupo controle).
- 4 sessões de tratamento.
- Intervalo de 10 dias.
|
- Grupo tratado: - Melhora na hidratação cutânea (p<0,0001); melhora na firmeza cutânea (p<0,0001); melhora na elasticidade cutânea (p<0,002) e diminuição do eritema cutâneo (p<0,001).
- Grupo controle: melhora na hidratação cutânea (p<0,001) e diminuição do eritema (p<0,001).
|
Humbert et al. (2018)1 |
- Ensaio clínico randomizado, duplo-cego.
- 22 pacientes acima de 60 anos, com púrpura senil.
|
- Aplicação tópica de 5% de vitamina C (grupo tratado) versus aplicação de creme neutro (grupo controle), por 12 semanas.
- Avaliação da colorometria (macrofotografia – câmera FUJI S2, lente de 60 mm Micro Nikkor).
|
- Melhora na colorometria das manchas (p<0,0001, grupo tratado).
|
Prakoeswa et al. (2018)2 |
- Ensaio clínico randomizado, controlado, aberto.
- 13 mulheres e 9 homens
- Úlceras por hanseníase.
|
- Aplicação de medicamento (hAMMSC-CM - 5,05mg/ml), por até 8 semanas, grupo controle.
- Aplicação de medicamento (hAMMSC-CM - 5,05mg/ml e fosfato de ascorbil de sódio -
8,76%±9,55%), por até 8 semanas, grupo tratado.
- Espectrofotometria.
|
- Melhora no fechamento e profundidade das úlceras no grupo tratado (4ª semana 22%,
p<0,005).
|
Kim et al. (2017)13 |
- Ensaio clínico randomizado, duplo-cego.
- 21 mulheres coreanas saudáveis, com idades entre 41 e 55 anos.
|
- Aplicação tópica de Palm-KVK-AA (0,075%) por 12 semanas versus placebo (creme neutro).
- Visiometer.
- DermascanC.
|
- Grupo tratado: melhora na aspereza cutânea (p<0,001), melhora na rugosidade cutânea (p<0,05).
|
Waibel et al. (2016)14 |
- Ensaio clínico randomizado, duplo-cego, centro único, prospectivo.
- 15 homens e mulheres saudáveis, idade de 30 a 55 anos.
|
- Aplicação de vitamina C (15%), vitamina E (1,0%) e ácido ferúlico (0,5%) versus
solução neutra, após a aplicação do laser de CO2 ablativo e diariamente até o 7º dia.
|
- Fotografia do 1º ao 7º dia, aplicação de questionário e avaliação molecular.
- Biópsias pré-auriculares no 5º dia e em 3 meses pós-tratamento com laser.
- Não houve redução significativa em edema e eritema cutâneos.
|
Quadro 1 - Relação dos autores, desenho do estudo e amostra, metodologia e desfechos dos estudos
do tipo ensaio clínico randomizados e observacionais que foram incluídos neste estudo.
Os estudos selecionados foram analisados de acordo com a metodologia GRADE - Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (Quadro 2). Utilizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), esta metodologia fornece informação
clara e concisa tanto sobre a qualidade da evidência, quanto sobre a força da recomendação8,9,10.
Quadro 2 - Relação dos autores, desfechos e força de recomendação conforme a metodologia GRADE,
que contempla os estudos do tipo ensaio clínico randomizados e observacionais que
foram incluídos neste estudo.
Autoria |
Desfechos |
Classificação GRADE |
Goldberg et al. (2019)11 |
- Diminuição nas rugas
- Aumento na firmeza
- Redução na vermelhidão
|
⨁⨁⨁◯ MODERADA |
Zasada et al. (2019)12 |
- Melhora na hidratação - Melhora na firmeza
- Melhora na elasticidade
- Diminuição do eritema
|
⨁⨁⨁⨁ ALTA |
Humbert et al. (2018)1 |
- Melhora na colorometria das manchas |
⨁⨁⨁⨁ ALTA |
Prakoeswa et al. (2018)2 |
- Melhora no fechamento e profundidade das úlceras |
⨁⨁⨁⨁ ALTA |
Kim et al. (2017)13 |
- Melhora na aspereza cutânea
- Melhora na rugosidade cutânea
|
⨁⨁⨁⨁ ALTA |
Waibel et al. (2016)14 |
- Diminuição do edema
- Diminuição do eritema
|
⨁⨁⨁◯ BAIXA |
Quadro 2 - Relação dos autores, desfechos e força de recomendação conforme a metodologia GRADE,
que contempla os estudos do tipo ensaio clínico randomizados e observacionais que
foram incluídos neste estudo.
Em ensaio clínico observacional, prospectivo, aberto, não controlado, levantado nesta
revisão, utilizou-se, sob supervisão de um dermatologista, um sérum facial de uso
noturno contendo melatonina, bakuchiol (extrato vegetal - 0,5%) e tetraisopalmitato de ascorbil (gradiente dose resposta
não revelado), o qual foi avaliado em 39 mulheres saudáveis com idades entre 40 e
65 anos que apresentavam envelhecimento moderado da pele. Após 12 semanas, observou-se
diminuição nas rugas (11%, p<0,01, Dermatop scan); aumento na firmeza cutânea (8%, p<0,01) e redução na vermelhidão (70%; p<0,01, score de Bazin). Os desfechos apresentados neste estudo obtiveram evidência de qualidade moderada
de acordo com a análise GRADE8,9,10,11.
Em um ensaio clínico randomizado, controlado, foi avaliada a eficácia da mesoterapia
com microagulhas em combinação da aplicação de um sérum contendo 2,5ml de ácido L-ascórbico
(20%, pH 3,5, grupo tratado) na metade direita da face versus mesoterapia sem agulha com aplicação do mesmo sérum do grupo tratado, aplicada na
metade esquerda da face (grupo controle), em 17 voluntárias saudáveis com idade entre
45 e 70 anos. Foram realizadas quatro sessões de tratamento, com intervalo de 10 dias
entre as sessões. No grupo tratado, houve melhora na hidratação cutânea (p<0,0001, Corneometer®); melhora da firmeza cutânea (p<0,0001, Cutometer®); melhora da elasticidade cutânea (p<0,002, Cutometer®); e diminuição do eritema (p<0,001, Mexameter®). Já no grupo controle (mesoterapia sem agulha) houve melhora somente na hidratação
cutânea (p<0,001, Corneometer®) e diminuição do eritema (p<0,001, Mexameter®). Em síntese, os resultados foram mais expressivos no grupo tratado e houve evidência
de qualidade alta para estes desfechos, de acordo com a análise GRADE8,9,10,12.
Em ensaio clínico randomizado, duplo-cego, os resultados da aplicação tópica de um
creme com 5% de vitamina C (ácido L-ascórbico - pH 6,0, grupo tratado) foram avaliados
em comparação à aplicação de creme neutro (grupo controle) em 18 pacientes, acima
de 60 anos com púrpura senil durante 12 semanas. O estudo demonstrou melhora na colorimetria
das manchas (macrofotografia - câmera Fuji S2, lente de 60 mm Micro Nikkor, p<0,0001), em 15 pacientes (88%) do grupo tratado em relação a oito pacientes (47%)
do grupo controle, com evidência de qualidade foi alta para a melhora das manchas
cutâneas, de acordo com a análise GRADE1,8,9,10.
Em ensaio clínico randomizado, controlado, aberto, 22 pacientes (13 mulheres e 9 homens),
que apresentavam úlceras plantares crônicas decorrentes da hanseníase, foram submetidos
a um tratamento com a aplicação de um medicamento/gel contendo células-tronco mesenquimais
da membrana amniótica humana (hAMMSC-CM, 5,05mg/ ml, grupo controle) versus aplicação de hAMMSC-CM, 5,05mg/ml associado ao fosfato de ascorbil de sódio (derivado
da vitamina C, concentração entre 8,76%±9,55%, grupo tratado). O gel foi aplicado
na fase inflamatória, a cada 3 dias, até o fechamento da úlcera ou por um período
máximo de 8 semanas. Observou-se a melhora no fechamento e profundidade das úlceras
a partir da 4ª semana no grupo tratado (espectrofotometria, 22%, p<0,005, 4ª semana). Houve evidência de qualidade alta para este desfecho na análise
GRADE2,8,9,10.
Em ensaio clínico randomizado, duplo-cego, o efeito do derivado do ácido ascórbico
(Palm-KVK-AA -0,075%) foi avaliado versus creme neutro, em 21 mulheres sul-coreanas saudáveis, com idades entre 41 e 55 anos,
aplicados a cada metade da face das participantes, duas vezes ao dia, por 12 semanas.
Os resultados mostram no grupo tratado melhora na aspereza cutânea (p<0,001) e melhora na rugosidade cutânea (p<0,05), obtidos através de análise por Dermascan C e Visiometer. Houve evidência de qualidade alta para este desfecho, de acordo com a análise GRADE8,9,10,13.
Em ensaio clínico randomizado, duplo-cego, centro único, prospectivo, a cicatrização
da ferida após a aplicação do laser de CO2 ablativo na região da face foi investigada em 15 pacientes com idade entre 30 e 55
anos, que apresentavam fotodano moderado (Escala de Glogau 3). Imediatamente após
a aplicação do laser, foram aplicadas duas soluções: uma solução tópica (15% de vitamina C, 1,0% de vitamina
E, 0,5% de ácido ferúlico) em um dos lados da face (grupo tratado), e uma solução
neutra do outro lado (grupo controle), alocados de forma randomizada. Ambas as soluções
foram aplicadas diariamente por sete dias. Foram realizadas fotografias e questionário
de processo de cura, de dois em dois dias, por uma semana. No 5° dia e três meses
após o tratamento (n=5), foram realizadas biópsias pré-auriculares e análise de biomarcadores
de metaloproteinase (MMP-1, Applied Biosystems) Os resultados não foram estatisticamente significativos, relativos à diminuição do
edema (p>0,05) e diminuição do eritema no grupo tratado comparado ao grupo controle (p>0,05). Estes desfechos foram qualificados como baixa qualidade pela análise GRADE8,9,10,14.
DISCUSSÃO
A presente revisão de escopo encontrou efeitos benéficos do uso tópico do AA na cicatrização
cutânea, tais como melhora no fechamento e profundidade das feridas, melhora na colorimetria
das manchas, melhora na hidratação cutânea, melhora da firmeza cutânea, melhora da
elasticidade cutânea, diminuição do eritema e redução na vermelhidão cutânea.
As revisões de escopo permitem mapear descritivamente os dados científicos, sendo
particularmente úteis quando muitos dos resultados são diferentes, porém aplicáveis.
Apesar da qualidade das evidências científicas não ser exigida em uma revisão de escopo5,6,7, utilizou-se nesta revisão o uso da metodologia GRADE, em que a qualidade da evidência
pode ser classificada em “Alta”, “Moderada”, “Baixa” ou “Muito Baixa”, sendo esta
classificação definida a partir do delineamento do estudo.
Para os ensaios clínicos randomizados, a qualidade da evidência inicial é estabelecida
como “Alta”, enquanto para os estudos observacionais a qualidade da evidência se inicia
como “Baixa”. São as características do estudo e seus resultados que permitem reduzir
ou aumentar o nível desta evidência, como, por exemplo, as limitações metodológicas
que podem ser responsáveis pela redução no nível de evidência. Fatores como grande
magnitude de efeito e gradiente de dose-resposta podem aumentar a confiança na estimativa,
enquanto estudos que expressam recomendações oriundas de opiniões de especialistas
são classificadas com o nível de evidência “Muito Baixo”8,9,10.
Com relação ao uso tópico do AA, amplamente comercializado no mercado brasileiro,
há uma lista crescente de ingredientes, matérias-primas ou princípios ativos, caracterizados
como AA ou derivados utilizados em produtos cosméticos. Desta forma, torna-se um desafio
a padronização do uso do AA tópico e/ou de seus derivados para os estudos científicos,
ressaltando a necessidade da investigação criteriosa da literatura científica para
averiguar a melhor forma para o tratamento dos pacientes15,16.
De acordo a RDC n° 7/2015 da Anvisa, os cosméticos são preparações para uso externo
exclusivamente. No entanto, o AA pode ser administrado diretamente em feridas como
um medicamento, na indução da cicatrização de úlceras plantares crônicas, por exemplo.
Portanto, o uso do AA pode ser prescrito tanto em formulações cosméticas quanto medicamentosas,
dependendo do tratamento, do tipo de lesão e da fase em que será incluído no tratamento1,2.
Quanto à penetração cutânea do AA, apesar do Parecer Técnico n° 3, de 29 de junho
de 2001 (atualizado em 28/06/2004) da Anvisa considerar como boa penetração do AA
em concentrações de 10% e no máximo 12%, nesta pesquisa foram encontrados estudos
científicos que utilizaram o AA com concentração de 20%, lembrando que, quanto maior
a concentração do AA, seja em sua forma pura ou derivada, maior o custo da solução.
Já em relação ao mercado brasileiro atual, é mais facilmente encontrada a forma pura
do AA quando comparada aos seus derivados, fato que pode ser justificado pelo custo
da matéria prima e também pela tecnologia exigida na elaboração dos derivados em relação
ao AA puro.
Algumas limitações nos estudos que compuseram esta revisão de escopo foram observadas.
O tamanho das casuísticas foi pequeno (variando de 15 a 39 indivíduos); os desfechos
não foram padronizados entre os diferentes estudos e as ferramentas de avaliação e
tempo de seguimento (de 5 semanas a 12 semanas) foram distintos. Além disso, houve
variação na forma de utilização do AA, com estudos que avaliaram tanto o AA puro como
nas formas derivadas (tetraisopalmitato de ascorbil, fosfato de ascorbil de sódio
e o fosfato de palmitoil-KVK aminopropil ascorbil). A concentração do AA puro variou
de 5 a 20%, enquanto a de seus derivados variou de 0,075% a 9,55%. Somente dois estudos
investigaram os efeitos do AA puro e isolado, enquanto nos demais estudos o AA foi
combinado com outros ingredientes, como por exemplo, o Bakuchiol (0,5%) e o tetraisopalmitato de ascorbil (um derivado do AA). Nestas combinações,
os autores não relataram o ingrediente dose-resposta dos derivados do AA, levando
a viés de confundimento. A solução tópica de AA (15%) foi combinada com a vitamina
E (1,0%) e o ácido ferúlico (0,5%). No entanto, os autores “supõem” que a melhora
das manchas, da elasticidade e da espessura da pele ocorreram principalmente pela
ação do AA, por estar em maior concentração, levando a viés de confundimento1,11,12,14.
Somente dois estudos apresentaram como desfecho primário a “cicatrização cutânea”,
os demais avaliaram desfechos como a elasticidade, a hidratação cutânea a densidade
dérmica, que também são desfechos relevantes no processo de cicatrização cutânea2,14.
CONCLUSÃO
De acordo com os estudos encontrados nesta revisão de escopo, o uso tópico do AA puro
nas concentrações entre 5 e 20%, e seus derivados de 0,075% a 9,55% promovem diminuição
das rugas, aumento da firmeza e redução da vermelhidão, os quais apresentaram a qualidade
GRADE moderada, assim como melhora na hidratação, firmeza, elasticidade, colorometria
das manchas, aspereza, rugosidade cutânea, diminuição do eritema, melhora do fechamento
e na profundidade das feridas, os quais apresentaram a qualidade GRADE alta. No entanto,
apesar dos fortes indícios positivos da aplicação do AA como fator coadjuvante na
melhoria da qualidade e cicatrização da pele, ensaios clínicos randomizados com menor
risco de viés de confundimento e com maior casuística ainda se fazem necessários.
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e do Conselho de 30 de Novembro de 2009 relativo aos produtos cosméticos (reformulação)
(Texto relevante para efeitos do EEE). Bruxelas: Jornal Oficial da União Europeia;
2009.
1. Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP,
Brasil.
2. Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil.
Autor correspondente: Adriane Viana de Souza Rua Botucatu, 740, 2º andar, Vila Clementino, São Paulo, SP, Brasil CEP: 04023-062
E-mail: souza.adriane@unifesp.br
Artigo submetido: 25/05/2021.
Artigo aceito: 14/07/2021.
Conflitos de interesse: não há.
Instituição: Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, São Paulo,
SP, Brasil.