INTRODUÇÃO
A lipoenxertia é uma técnica cirúrgica descrita desde 1893 por Neuber1 que consiste primeiramente na coleta de gordura pelo processo de lipoaspiração de
uma área doadora, seguido da realocação dessa gordura em uma área receptora com o
uso de seringas e cânulas. Trata- se de uma técnica pouco invasiva, utilizada no mundo
todo e que possui diversas aplicações na cirurgia plástica reparadora, estética, e
também em outras especialidades cirúrgicas.
Apresenta-se como uma alternativa à utilização de materiais sintéticos, como ácido
hialurônico para preenchimentos faciais2, no aumento moderado do volume mamário e glúteo3 com próteses de silicone, na correção de deformidades congênitas e adquiridas, cicatrizes4 e reconstruções pós-cirurgias oncológicas como mastectomias ou quadrantectomias5.
Além disso, possui um potencial de utilização em diversas outras áreas da medicina,
como a oftalmologia, para reconstruções de defeitos periorbitários e preenchimento
de cavidade oftálmica pós-enucleação6; proctologia, no tratamento de fístulas perianais recorrentes7; e na reumatologia, como um potencial imunomodulador local para doenças autoimunes8, entre muitas outras.
A lipoenxertia é uma técnica que se utiliza de um tecido autólogo, portanto, não imunogênico,
que se utiliza de gordura passível de coleta através do processo de lipoaspiração.
Ademais, possui um percentual pequeno de complicações, sendo a maior parte destas
composta por reações locais, não acarretando risco de vida aos pacientes.
Tais complicações incluem reações locais e sistêmicas, tanto as relacionadas com o
processo da lipoaspiração quanto ao processo da lipoenxertia em si. As complicações
relacionadas à lipoaspiração costumam ser menores e menos frequentes que as observadas
na lipoaspiração clássica utilizada para o aprimoramento do contorno corporal, uma
vez que utiliza-se de menores volumes de gordura lipoaspirada9.
Dentre os efeitos adversos locais mais comuns, estão as irregularidades e assimetrias
pós-procedimento, necrose de gordura e formação de cistos oleosos (maiores quantidades
enxertadas), infecção local, hematomas, seromas, hiperpigmentação, edema prolongado,
equimoses, reabsorção ou proliferação do tecido gorduroso, entre outras10. As complicações sistêmicas incluem as perfurações de vísceras ou vasos durante a
lipoaspiração, embolia gordurosa e síndrome da embolia gordurosa11, além de eventos, que podem estar associados a qualquer procedimento cirúrgico, como
reações de hipersensibilidade a medicações, infecções, tromboembolismos, etc2,3,12,13.
Alguns estudos consideraram em sua análise os fatores que diminuem tais riscos, principalmente
em relação às assimetrias, irregularidades, reabsorção da gordura e liponecrose. Há
evidências de que um processo de lipoaspiração delicado, associado à não
exposição da gordura ao ar ambiente (sistema fechado), além da tunelização prévia
do local de enxertia seguida da aplicação lenta do enxerto, auxiliam no processo de
aderência da gordura e diminuem os resultados negativos tanto clínicos quanto estéticos2,3. Além disso, a lipoenxertia realizada em áreas de fibrose, como cicatrizes e áreas
expostas à radioterapia, pode diminuir a retenção de gordura graças à menor vascularização
do tecido.
Por outro lado, a própria lipoenxertia parece ter efeito regenerativo em tecidos fibrosados
e cicatriciais graças a seu efeito pró-angiogênico e possivelmente a diferenciação
e proliferação de “stem cells” de adipócitos14,15. Há estudos que demonstram que características da área doadora não parecem influenciar
as taxas de complicações e retenção de gordura da área receptora16. Outros, porém, defendem que a viabilidade da gordura é maior quando coletada de
áreas diferentes conforme a idade do paciente17.
Apesar da ampla gama de artigos científicos publicados a respeito das técnicas de
lipoenxertia em todo o mundo, os estudos realizados com o objetivo de avaliar a segurança,
a eficácia e as complicações dessa técnica são em sua maioria muito heterogêneos e
de baixo nível de evidência científica2.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo avaliar as taxas de complicações dos procedimentos de
lipoenxertia em hospital público universitário no período de 2015 a 2018 em comparação
aos dados já existentes na literatura médica.
MÉTODOS
Este estudo consiste num estudo observacional retrospectivo baseado na revisão dos
prontuários de todos os pacientes submetidos ao procedimento de lipoenxertia em hospital
público universitário, em Campinas-SP, realizados pela equipe de cirurgia plástica
no período de 2015 a 2018. O projeto teve a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
(Número do protocolo [CAAE]: 08897619.6.0000.5404, Campinas - SP, Brasil, 20 de Maio
de 2019).
Foram excluídos da análise pacientes cujos prontuários não foram localizados ou com
lacunas no registro médico dos procedimentos que impossibilitassem as análises propostas,
assim como de pacientes que não finalizaram o tratamento e mantinham seguimento ambulatorial
regular.
Na análise, foram registrados dados referentes a sexo, idade, objetivo do procedimento
(para fins estéticos ou reparador como forma de correção de cicatrizes e deformidades
pós-traumáticas, cirúrgicas etc.), área doadora, área receptora, quantidade de gordura
enxertada, solução utilizada para anestesia e hemostasia, e complicações pós-operatórias
de um período de até 1 ano de pós-operatório, assim como a satisfação do paciente
em relação ao procedimento e necessidade de nova lipoenxertia.
RESULTADOS
Sessenta e sete pacientes foram submetidos a lipoenxertia no hospital no período estipulado.
Foram coletados dados de 58 prontuários, de acordo com os critérios de inclusão e
exclusão aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa, totalizando 145 procedimentos
de lipoenxertia analisados. Destes, 87 procedimentos (60%) foram revisionais (secundários)
realizados em 15 pacientes. Do total de pacientes analisados, 39 (67%) são mulheres
e 19 (33%), homens. Dezesseis pacientes (28%) foram submetidos a procedimentos de
lipoenxertia para fins estéticos, todos do sexo feminino. A média de idade dos pacientes
no primeiro procedimento de lipoenxertia foi de 43 anos (45 anos para mulheres e 40
para homens).
Em relação ao local de lipoaspiração para coleta de gordura, em 76% (118) dos procedimentos
o material foi coletado do abdome, sendo 71% do abdome inferior (110 procedimentos).
A região dos flancos foi a segunda mais utilizada para a lipoaspiração com oito casos
(5%), seguido da região das coxas (sete casos) e da região sacral (quatro casos).
Em quatro casos analisados foi coletado material por lipoaspiração de mais de uma
região. Outras regiões de coleta incluíram glúteos, dorso e região trocantérica, todos
com um caso cada.
Já em relação ao local de enxertia, 82 dos procedimentos analisados foram realizados
na região da face, correspondendo a 53% do total de procedimentos (a Figura 1 mostra exemplo de lipoenxertia em face utilizada para correção de deformidade pós-ressecção
cirúrgica de malformação arteriovenosa na face).
Figura 1 - A: Paciente no pré-operatório (sequela pós-ressecção de malformação arteriovenosa);
B: Pós-operatório de 30 dias de lipoenxertia em lábio inferior; C: Pós-operatório de 1 ano.
Figura 1 - A: Paciente no pré-operatório (sequela pós-ressecção de malformação arteriovenosa);
B: Pós-operatório de 30 dias de lipoenxertia em lábio inferior; C: Pós-operatório de 1 ano.
Cicatrizes e deformidades em membros inferiores ficaram em segundo lugar, totalizando
um total de 30 procedimentos (19%) (a Figura 2 mostra um exemplo de depressão cicatricial em cicatriz pós-traumática de membro inferior
tratada com lipoenxertia). Crânio e mama também corresponderam a grande parte dos
sítios de enxertia, com 14% e 10% do total de procedimentos realizados, respectivamente.
Outros locais de enxertia incluíram região de tronco (três casos) e genital (um caso).
Figura 2 - A: Paciente submetido a lipoenxertia em depressão cicatricial de cicatriz pós-traumática
em membro inferior (pré-operatório); B: Pós-operatório imediato.
Figura 2 - A: Paciente submetido a lipoenxertia em depressão cicatricial de cicatriz pós-traumática
em membro inferior (pré-operatório); B: Pós-operatório imediato.
Em relação às complicações pós-operatórias, a grande maioria correspondeu à reabsorção
de gordura (62% dos casos). Equimose correspondeu à segunda complicação mais frequente
(38% dos casos), seguida de edema (19%). Dor e discromias vieram em seguida, com 10%
e 7% dos casos, respectivamente. Foi descrito apenas um caso de infecção de ferida
operatória evoluindo com ulceração após lipoenxertia em cicatriz de membro inferior
direito consequente de uma sequela de osteomielite crônica.
Outras complicações menos frequentes incluíram hiperemia (5%), assimetrias (5%), descamação
(2%), parestesia local (3%) e lesão da pele (2%) (Tabela 1). Reparo insuficiente foi descrito em 5% dos casos. Não foi descrito nenhum caso
de complicação maior, como embolia gordurosa, ou complicações cirúrgicas graves, como
sangramento, infecção com sepse, anafilaxia, entre outras. De acordo com o teste de
Kruskall-Wallis, o tempo entre o procedimento e o aparecimento da complicação foi
estatisticamente relevante (p=0,003) (Tabela 2).
Tabela 1 - Complicações de lipoenxertia.
Complicação |
Número de casos |
% |
Descamação |
1 |
2 |
Infecção |
1 |
2 |
Lesão de pele |
1 |
2 |
Retração |
1 |
2 |
Ulceração |
1 |
2 |
Parestesia |
2 |
3 |
Assimetria |
3 |
5 |
Eritema |
3 |
5 |
Reparo insuficiente |
3 |
5 |
Discromia |
4 |
7 |
Dor prolongada |
6 |
10 |
Edema |
11 |
18 |
Equimose |
23 |
38 |
Reabsorção |
90 |
62 |
Tabela 1 - Complicações de lipoenxertia.
Tabela 2 - Complicações pós-operatórias em relação ao tempo pós-operatório (dias).
Complicação |
Média |
DP |
Mediana |
Total |
Anestesia |
75 |
64 |
75 |
2 |
Reabsorção |
108 |
102 |
90 |
98 |
Dor prolongada |
10 |
9 |
7 |
7 |
Edema |
19 |
34 |
7 |
11 |
Equimose |
6 |
2 |
7 |
22 |
Hipercromia |
60 |
42 |
60 |
2 |
Eritema |
34 |
37 |
34 |
2 |
Hipocromia |
150 |
170 |
150 |
2 |
Reparo insuficiente |
24 |
31 |
7 |
3 |
Outros |
14 |
11 |
10 |
4 |
Tabela 2 - Complicações pós-operatórias em relação ao tempo pós-operatório (dias).
Os membros inferiores foram sítio de enxertia de maior quantidade de gordura, com
média de 61ml. Tronco e mama também tiveram maiores quantidades médias de tecido enxertado,
com 58ml e 51ml, respectivamente. Na região da face, a média em mililitro de gordura
enxertada foi de 6ml, e, no crânio, de 5ml. Nas cirurgias estéticas, a média de gordura
utilizada foi de 11ml, contra 25ml em média utilizados em cirurgias reparadoras (Figura 3). De acordo com o teste de Mann-Whitney, neste estudo, não houve diferença significativa
entre a quantidade de gordura lipoenxertada e a taxa de complicação (p=0,072), porém, houve uma tendência a maior taxa de complicação em quantidades maiores
de gordura lipoenxertada (Tabela 3).
Figura 3 - Quantidade de gordura enxertada em ml por região.
Figura 3 - Quantidade de gordura enxertada em ml por região.
Tabela 3 - Taxa de complicação de acordo com quantidade de gordura lipoenxertada. (p=0.072).
Variável |
Complicação |
Média |
DP |
Q1 (25%) |
Q3 (75%) |
Quantidade gordura (ml) |
de Não |
24,94 |
61,41 |
2,3 |
13 |
Quantidade gordura (ml) |
de Sim |
25,33 |
50,8 |
4 |
24 |
Tabela 3 - Taxa de complicação de acordo com quantidade de gordura lipoenxertada. (p=0.072).
A reabsorção de gordura foi relatada em consultas ambulatoriais no período pós- operatório
em 80% dos casos de lipoenxertia de mama, sendo a macrorregião com maior queixa de
reabsorção. A região do crânio teve 68% dos casos com relato de reabsorção em consultas,
seguida pelos procedimentos em tronco (67%), em face (65%) e membros inferiores (63%).
O único procedimento realizado em região genital não teve relato de reabsorção ou
necessidade de reabordagem. Análise estatística não mostrou diferença significativa
de reabsorção de gordura lipoenxertada em diferentes sítios (p=0,53) ou provenientes de gordura retirada de diferentes áreas doadoras (p=0,184), de acordo com o teste exato de Fischer.
DISCUSSÃO
Inicialmente, pode ser observado que a maior parte (67%) dos tratamentos realizados
foi em pacientes do sexo feminino, sendo que aqueles com finalidade puramente estética
foram todos em mulheres.
A idade média do primeiro procedimento, porém, foi menor em pacientes do sexo masculino.
Podemos relacionar esse dado ao fato de que mais da metade dos homens submetidos a
lipoenxertia realizaram o procedimento com a finalidade de correção de cicatrizes
e deformidades pós-traumáticas (10 de 19 pacientes masculinos), ocorrendo, portanto,
em pacientes mais jovens, faixa etária compatível com a maior incidência de trauma.
Os locais mais frequentemente utilizados para a coleta de gordura através da lipoaspiração
foram o abdome inferior (71%) e flancos (5%), em concordância com o estudo de Geissler
et al.17 a respeito da viabilidade da gordura, no qual abdome inferior e flancos foram as
duas áreas cuja gordura coletada obteve menores taxas de reabsorção e maior viabilidade
na região enxertada.
A reabsorção de gordura foi a queixa mais relatada em consultas médicas pós- operatórias
nos procedimentos de lipoenxertia (62% dos casos). A quantidade reabsorvida, porém,
não foi mensurada. Na literatura é descrita de forma recorrente a dificuldade de mensuração
da reabsorção de gordura após o procedimento, assim como a falta de método validado
para o mesmo fim.
A taxa de sobrevivência da gordura pode ser otimizada utilizando-se de técnicas consagradas
seguindo alguns princípios pré-determinados, como a tunelização prévia da área enxertada,
utilização de cânulas menos calibrosas (Figura 4 - Gordura retirada por lipoaspiração e sua injeção com cânulas de pequeno calibre),
injeção de pequenas quantidades de gordura a fim de garantir a embebição das células,
entre outros difundidos a partir da técnica Coleman18, atualmente mais utilizada na maioria dos serviços de cirurgia plástica.
Figura 4 - Tecido adiposo retirado com lipoaspiração separado em seringas de 1ml e técnica de
lipoenxertia com cânulas de fino calibre em preenchimento facial.
Figura 4 - Tecido adiposo retirado com lipoaspiração separado em seringas de 1ml e técnica de
lipoenxertia com cânulas de fino calibre em preenchimento facial.
Neste estudo, não houve diferença significativa entre a quantidade de gordura lipoenxertada
e as taxas de complicação (p=0,072), no entanto, mostrou uma tendência a maiores taxas de complicação em maiores
quantidades de gordura lipoenxertada, como evidenciado na maioria dos estudos da literatura.
Um estudo com uma amostra maior de pacientes poderia mostrar relevância estatística
nesta hipótese.
Porém, os fatores que podem alterar a sobrevivência da gordura a longo prazo, como
a mudança do índice de massa corporal (IMC) e da composição corporal, ainda não são
totalmente elucidados na literatura, assim como não há métodos validados para sua
mensuração16.
Em 1987, a American Society of Plastic Surgeons publicou um relatório com críticas ao método de transplantação de gordura autóloga,
com taxas de sobrevivência de gordura estimadas em 30% após 1 ano de procedimento,
mostrando preocupação em relação à eficácia do método19. Ainda pouco se sabe sobre os mecanismos de sobrevivência da gordura e, até hoje,
não há um método de mensuração unificado para mensurar a sua taxa de sobrevivência16.
Os dados do estudo foram, portanto, compatíveis com os dados da literatura, uma vez
que houve reabsorção relatada em 62% dos casos analisados, porém não houve método
de mensuração objetiva do seu volume. Além disso, houve diferença estatística significativa
entre o tempo decorrido após o procedimento e a taxa de complicação (p=0,003).
Há grande probabilidade deste resultado ter sido diretamente afetado pela taxa de
reabsorção, uma vez que a gordura tende a ser reabsorvida com o tempo17, e reabsorção foi a complicação mais frequente. A média de tempo entre o procedimento
e o relato da complicação foi de 50 dias, e 108 dias para o relato de reabsorção,
indicando um seguimento pós-operatório adequado em nosso estudo (12 meses).
Se considerarmos a reabsorção de gordura como parte do processo de refinamento, assim
como a necessidade de mais de um procedimento para atingir o resultado final, as taxas
de complicações tornam-se muito reduzidas. As queixas pós- operatórias totais caem
de 150 para apenas 60 (queda de 60%).
Em relação às taxas das complicações propriamente ditas, foram encontradas apenas
relatos de complicações menores como equimoses, dor, edema, discromias, assimetrias,
subcorreção, entre outras. A complicação mais grave foi a infecção do sítio de enxertia
com perda de tecido e ulceração, relatada em apenas um caso. Não houve casos de complicações
maiores, como embolização, síndrome de embolia gordurosa, sangramentos ou morte.
Em revisão da literatura, foram encontradas baixas taxas de complicações pós-operatórias
tanto em procedimentos de lipoenxertia quanto em procedimentos de lipoaspiração. No
estudo de Furlani & Saboia20 com 151 pacientes submetidos a lipoenxertia para rejuvenescimento facial, apenas
a subcorreção foi relatada, sem outras complicações. No artigo de revisão de Yu et
al.16 foram descritos apenas 10 casos de complicações maiores em 10 anos de revisão, sendo
as mais graves a embolização cerebral e de artéria oftálmica.
No estudo de Maione et al.9, com 1000 pacientes submetidos à lipoenxertia, foram relatados apenas dois hematomas
de área doadora, 83 deformidades pós-lipoaspiração e quatro casos de infecção na área
receptora, sem relatos de necrose ou complicações sistêmicas como tromboembolismo
pulmonar ou parada cardiorrespiratória. Outro estudo, com foco em complicações de
lipoaspiração apenas, analisou 25 anos de procedimento e 26.259 pacientes, com achados
de seroma em 5% dos casos, irregularidades e fibrose em 2,3%, TVP e TEP com 0,03%
de incidência cada e apenas 0,01% de mortalidade pós-TEP21.
Apesar da heterogeneidade, a literatura a respeito de complicações de lipoenxertia
indica baixa incidência de efeitos adversos, sendo, em sua grande maioria, complicações
menores que não acarretam risco de vida aos pacientes, do mesmo modo ao observado
no presente trabalho.
O grau de satisfação com o procedimento foi alto, porém, na maioria dos casos (62%),
foi necessário mais de um procedimento para que o paciente se considerasse satisfeito
com o resultado. Isto também foi demonstrado no estudo de Denadai et al.22, no qual a retenção de gordura foi maior após procedimentos complementares.
Como não há nenhum método validado para quantificar a reabsorção de gordura ao longo
do tempo, a satisfação do paciente e do cirurgião, assim como simetria, volume, agradabilidade
estética, entre outros fatores qualitativos, são considerados na avaliação da necessidade
de um procedimento de revisão. Diante disto, faz-se pertinente abrir discussão para
a possibilidade de validação do processo de hipercorreção em casos selecionados, o
que poderia reduzir o número de intervenções necessárias para atingir o resultado
final esperado.
A reabsorção ainda é uma questão importante em relação ao método de lipoenxertia e
há necessidade de estudos que auxiliem na quantificação das taxas de reabsorção, assim
como no desenvolvimento de técnicas que otimizem a sobrevivência da gordura a médio
e longo prazo. Em nosso estudo, análise estatística não mostrou diferença na reabsorção
de gordura em diferentes sítios de lipoenxertia ou na gordura proveniente de diferentes
áreas doadoras. A lipoaspiração realizada para a coleta de gordura associada a lipoenxertia
mostrou-se uma técnica segura na amostra analisada, em acordo com os dados obtidos
em literatura.
CONCLUSÃO
Os procedimentos de lipoaspiração para coleta de gordura e lipoenxertia mostraram-se
seguros e com enorme potencial de utilização em cirurgia plástica, assim como em outras
áreas da medicina. Considerando que trata-se de uma técnica com evidência de baixas
complicações graves e grande potencial de aplicação, mais pesquisas em lipoenxertia
devem ser incentivadas.
REFERÊNCIAS
1. Neuber F. Fettransplantation. Chir Kongr Verhandl Dsch Gesellch Chir. 1893;22:66.
2. Groen JW, Krastev TK, Hommes J, Wilschut JA, Ritt MJPF, Van Der Hulst RRJW. Autologous
Fat Transfer for Facial Rejuvenation: A Systematic Review on Technique, Efficacy,
and Satisfaction. Plast Reconstr Surg - Glob Open. 2017;5(12):e1606. DOI: 10.1097/
GOX.0000000000001606
3. Blumenschein A, Freitas-Junior R, Tuffanin A, Blumenschein D. Lipoenxertia nas mamas:
procedimento consagrado ou experimental? Rev Bras Cir Plást. 2012;27(4):616-22.
4. Klinger M, Caviggioli F, Klinger FM, Giannasi S, Bandi V, Banzatti B, et al. Autologous
fat graft in scar treatment. J Craniofac Surg. 2013;24(5):1610-5. DOI: 10.1097/SCS.0b013e3182a24548
5. Brenelli F, Rietjens M, De Lorenzi F, Pinto-Neto A, Rossetto F, Martella S, et al.
Oncological safety of autologous fat grafting after breast conservative treatment:
a prospective evaluation. Breast J. 2014;20(2):159-65. DOI: 10.1111/tbj.12225
6. Galindo-Ferreiro A, Khandekar R, Hassan SA, Al-Hammad F, Al-Subaie H, Artioli Schellini
S. Dermis-fat graft for anophthalmic socket reconstruction: indications and outcomes.
Arq Bras Oftalmol. 2018;81(5):366-70.
7. Stroumza N, Fuzco G, Laporte J, Nail Barthelemy R, Houry S, Atlan M. Surgical treatment
of trans-sphincteric anal fistulas with the Fat GRAFT technique: a minimally invasive
procedure. Colorectal Dis. 2017;19(8):e316-e319. DOI: 10.1111/codi.13782
8. Chen W, Xia ZK, Zhang MH, Ding GC, Zhang XY, Wang ZX, et al. Adipose tissue-derived
stem cells ameliorates dermal fibrosis in a mouse model of scleroderma. Asian Pac
J Trop Med. 2017;10(1):52-6. DOI: 10.1016/j.apjtm.2016.10.005
9. Maione L, Vinci V, Klinger M, Klinger FM, Caviggioli F. Autologous fat graft by needle:
analysis of complications after 1000 patients. Ann Plast Surg. 2015;74(3):277-80.
DOI: 10.1097/SAP.0000000000000050
10. Nakada H, Inoue M, Furuya K, Watanabe H, Ikegame K, Nakayama Y, et al. Fat necrosis
after breast-conserving oncoplastic surgery. Breast Cancer. 2019;26(1):125-30. DOI:
10.1007/s12282-018-0901-5
11. Franco FF, Tincani AJ, Meirelles LR, Kharmandayan P, Guidi MC. Occurrence of fat embolism
after liposuction surgery with or without lipografting: an experimental study. Ann
Plast Surg. 2011;67(2):101-5. DOI: 10.1097/SAP.0b013e3181fe32b6
12. Franco FF, Basso RCF, Tincani AJ, Kharmandayan P. Complicações em lipoaspiração clássica
para fins estéticos. Rev Bras Cir Plast. 2012;27(1):135-40.
13. Krastev TK, Beugels J, Hommes J, Piatkowski A, Mathijssen I, Van der Hulst R. Efficacy
and Safety of Autologous Fat Transfer in Facial Reconstructive Surgery: A Systematic
Review and Meta-analysis. JAMA Facial Plast Surg. 2018;20(5):351-60. DOI: 10.1001/jamafacial.2018.0102
14. Zielins ER, Brett EA, Longaker MT, Wan DC. Autologous Fat Grafting: The Science Behind
the Surgery. Aesthetic Surg J. 2016;36(4):488-96. DOI: 10.1093/asj/sjw004
15. Scioli MG, Artuso S, D’Angelo C, Porru M, D’Amico F, Bielli A, et al. Adipose-derived
stem cell-mediated paclitaxel delivery inhibits breast cancer growth. PLoS One. 2018;13(9):e0203426.
DOI: 10.1371/j ournal.pone.0203426
16. Yu NZ, Huang JZ, Zhang H, Wang Y, Wang XJ, Zhao R, et al. A systemic review of autologous
fat grafting survival rate and related severe complications. Chin Med J (Engl). 2015;128(9):1245-1251.
DOI: 10.4103/0366-6999.156142
17. Geissler PJ, Davis K, Roostaeian J, Unger J, Huang J, Rohrich RJ. Improving fat transfer
viability: the role of aging, body mass index, and harvest site. Plast Reconstr Surg.
2014;134(2):227-32. DOI: 10.1097/PRS.0000000000000398
18. Coleman SR. Facial recountouring with lipostructure. Clin Plast Surg. 1997;24(2):347-67.
DOI: 10.1016/s0278-2391(97)90107-5
19. Report on autologous fat transplantation. ASPRS Ad-Hoc Committee on New Procedures,
September 30, 1987. Plast Surg Nurs. 1987;7(4):140-1.
20. Furlani E, Saboia DB. Rejuvenescimento facial com lipoenxertia: sistematização e estudo
de 151 casos consecutivos. Rev Bras Cir Plást. 2018;33(4):439-45. DOI: 10.5935/2177-1235.2018RBCP0163
21. Triana L, Triana C, Barbato C, Zambrano M. Liposuction: 25 years of experience in
26,259 patients using different devices. Aesthetic Surg J. 2009;29(6):509-12. DOI:
10.1016/j.asj.2009.09.008
22. Denadai R, Raposo-Amaral CA, da Silva SA, Buzzo CL, Raposo-Amaral CE. Complementary
Fat Graft Retention Rates Are Superior to Initial Rates in Craniofacial Contour Reconstruction.
Plast Reconstr Surg. 2019;143(3):823-35. DOI: 10.1097/PRS.0000000000005389
1. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
Autor correspondente: Amanda Schroeder Universidade Estadual de Campinas, Cidade Universitária, Campinas, SP, Brazil CEP:
13083-872 E-mail: amandaschh@hotmail.com
Artigo submetido: 07/04/2021.
Artigo aceito: 07/04/2022.
Conflitos de interesse: não há.
Instituição: Universidade Estadual de Campinas, Hospital de Clínicas, Departamento
de Cirurgia Plástica, Campinas, SP, Brasil.