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Original Article - Year2021 - Volume36 - Issue 3

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2021RBCP0038

RESUMO

Introdução: Nas últimas décadas houve uma grande evolução na superfície de revestimento dos implantes mamários, o que resultou na diminuição das complicações. No pós-operatório a inflamação é uma constante e pode ser avaliada pelo hemograma, pois é um exame rápido, barato e com alta disponibilidade. O presente estudo tem como objetivo avaliar os biomarcadores sanguíneos em ratas submetidas à colocação de mini-implantes de silicone nanotexturizados e revestidos por espuma de poliuretano.
Métodos: Foram utilizadas 60 ratas Wistar divididas em dois grupos para utilização de mini-implantes nanotexturizados e revestidos com espuma de poliuretano, subdivididos em subgrupos de acordo com a eutanásia dos animais nos 30, 60 e 90 dias. No momento da eutanásia, as amostras de sangue foram obtidas por punção cardíaca e foi analisado o hemograma.
Resultados: A hemoglobina, o hematócrito, a hemoglobina corpuscular média, os leucócitos, os neutrófilos, os linfócitos e as plaquetas tiveram os resultados muito semelhantes em todos os subgrupos avaliados (30, 60 e 90 dias). Entretanto, quando os diferentes subgrupos foram comparados entre si dentro de cada grupo, obteve-se resultados estatisticamente significantes na hemoglobina corpuscular média (nanotexturizado p=0,032 e poliuretano p=0,007) e nos leucócitos (nanotexturizado p=0,038 e poliuretano p=0,034). Sobre as alterações dos biomarcadores sanguíneos no pós-operatório encontrou-se anemia hipocrômica, contagem de leucócitos normais, neutrofilia, linfopenia e trombocitopenia.
Conclusão: Após a colocação de mini-implantes de silicone, as ratas de ambos os grupos evoluíram com anemia hipocrômica, contagem de leucócitos normais às custas de neutrofilia e linfopenia, e trombocitopenia.

Palavras-chave: Biomarcadores; Contagem de células sanguíneas; Ratos; Implante de mama; Mamoplastia

ABSTRACT

Introduction: In recent decades, there has been a great evolution in breast implants' lining surface, which has resulted in decreased complications. In the postoperative period, the inflammation is constant and can be evaluated by the blood count, as it is a fast, inexpensive, and highly available examination. The present study evaluates blood biomarkers in rats submitted to the placement of nanotextured silicone implants and implants coated with polyurethane foam.
Methods: 60 Wistar rats were used divided into two groups for nanotextured mini-implants and others mini-implants coated with polyurethane foam, subdivided into subgroups according to the animals' euthanasia in the 30, 60, and 90 days. At the time of euthanasia, blood samples were obtained by cardiac puncture and the blood count was analyzed.
Results: Hemoglobin, hematocrit, mean corpuscular hemoglobin, leukocytes, neutrophils, lymphocytes, and platelets had very similar results in all subgroups evaluated (30, 60, and 90 days). However, when the different subgroups were compared within each group, statistically significant results were obtained in the mean corpuscular hemoglobin (nanotextured p=0.032 and polyurethane p=0.007) and leukocytes (nanotextured p=0.038 and polyurethane p=0.034). Changes in postoperative blood biomarkers were hypochromic anemia, normal leukocyte count, neutrophilia, lymphopenia, and thrombocytopenia.
Conclusion: After the placement of mini-silicone implants, the rats of both groups evolved with hypochromic anemia, normal leukocyte count at the expense of neutrophilia and lymphopenia, and thrombocytopenia.

Keywords: Biomarkers; Blood cell count; Rats; Breast implant; Mammoplasty.


INTRODUÇÃO

A mamoplastia com implantes mamários é uma das cirurgias plásticas mais realizadas mundialmente1. Dessa forma, implantes mamários têm sido alvo de pesquisas, principalmente focando na superfície do seu revestimento, a qual pode ser dividida em lisa e texturizada, sendo a última subdividida em micro e macro texturizada2-5.

Assim, nas últimas décadas houve uma grande evolução na superfície de revestimento dos implantes mamários que resultou na prevenção de complicações nas mamoplastias, tais como contratura capsular5,6, infecção7 e, mais recentemente, linfoma anaplásico de grandes células (BIA-ALCL)8.

O BIA-ALCL tem sido alvo de estudos nos últimos anos, pois houve um aumento da sua incidência, principalmente em pacientes submetidas a mamoplastias com implantes3,4,6,8. Na fisiopatologia dessa doença sabe-se que a ocorrência da neoplasia está diretamente relacionada à resposta inflamatória do hospedeiro ao implante6,8.

Uma das maneiras de se avaliar a resposta inflamatória é o hemograma, o qual é dividido em séries vermelha e branca, e plaquetas. Tem como vantagens ser um exame rápido, barato e com alta disponibilidade9.

Através desse exame pode-se avaliar a resposta biológica ao implante pela toxicidade e rejeição (número de glóbulos vermelhos), e pela resposta ao estresse celular (razão neutrófilos/linfócitos=RNL)10, tendo correlação com a mortalidade na resposta à implantação de dispositivos ou em infecções11.

Como exemplo, podemos mencionar uma complicação rara, a síndrome do choque tóxico após cirurgia de implante mamário. Essa doença tem como característica a falta de sinais locais como edema ou eritema, porém apresenta febre e aumento acentuado da contagem de glóbulos brancos, sugerindo infecção grave. Portanto, o diagnóstico precoce geralmente é difícil, e o início do tratamento adequado pode ser retardado sem o conhecimento dessa característica12.

Na resposta inflamatória, os neutrófilos são uma das primeiras células imunológicas a serem recrutadas para irem ao local lesionado e secretam uma variedade de citocinas inflamatórias que contribuem para o início dessa resposta. Porém, a resposta biológica dos neutrófilos aos dispositivos implantados permanece incerta13.

OBJETIVOS

O presente estudo tem a finalidade de avaliar laboratorialmente por meio de biomarcadores sanguíneos as ratas submetidas à colocação de mini-implantes de silicone nanotexturizados e revestidos por espuma de poliuretano.

MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no biotério de cirurgia experimental da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) após ser aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da UEPG. Processo CEUA - 041/2018. Protocolo UEPG: 16450/2018. Todos os procedimentos seguiram rigorosamente as regulamentações existentes para pesquisa com animais.

O delineamento do trabalho foi um estudo primário (ensaio clínico randomizado), intervencional, experimental em animais (ratas), prospectivo, analítico, controlado, aleatorizado, duplo-cego e unicêntrico.

Um total de 60 ratas albinas (Rattus norvegicus albinus, Roentia mammalia) com peso entre 190 a 250 gramas e 30 a 60 dias de vida, tiveram livre acesso à água e dieta específica para a espécie, com temperatura ambiente e ciclos circadianos de 12 horas.

Foram divididas aleatoriamente em dois grupos de 30 animais para cada tipo de mini-implante de silicone (nanotexturizado e espuma de poliuretano), e subdivididas em 3 subgrupos, conforme o tempo de eutanásia dos animais (30, 60 e 90 dias).

No grupo nanotexturizado, n=30, foram colocados mini-implantes com superfície nanotexturizada (Silimed®, Rio de Janeiro, Brasil), e no grupo poliuretano, n=30, foram colocados mini-implantes com revestimento de espuma de poliuretano (Silimed®.

Os materiais implantados tinham as mesmas camadas de um implante de silicone mamário humano, formato discoide, com 22 +/- 1 milímetros (mm) de diâmetro e 9 +/- 1mm de altura nos mini-implantes com superfície nanotexturizada, e com 24

+/- 1 mm de diâmetro e 11 +/- 1mm de altura nos mini-implantes revestidos por espuma de poliuretano. A altura foi definida como o ponto de maior projeção do implante no eixo vertical (Figura 1).

Figura 1 - Mini implantes de silicone nanotexturizado e revestido por espuma de poliuretano.

Em relação aos poros na superfície dos mini-implantes, aqueles com superfície nanotexturizada possuíram as seguintes dimensões: diâmetro 0,3 a 8,7 micrômetros (300 a 8700 nanômetros); rugosidade média (Ra) 4,12 micrômetros (4120 nanômetros); e profundidade 3,08 a 10,74 micrômetros. Os mini-implantes revestidos pela espuma de poliuretano possuíram as dimensões a seguir: diâmetro 120 a 320 micrômetros; rugosidade média (Ra) 1500 micrômetros; e profundidade dos poros 480 a 1200 micrômetros.

Depois de realizada a distribuição por grupos as ratas foram retiradas aleatoriamente das gaiolas e anestesiadas por injeção intraperitoneal, composta de uma associação de cloridrato de quetamina 1% (Dopalen®, Hertape, Belo Horizonte, Brasil) na dose de 40mg/kg e cloridrato de xilazina 2% (Dopasen®, Hertape) na dose de 8mg/kg conforme o guia de anestesia e analgesia de animais de laboratório - UNIFESP/CEUA (2017)14.

A efetividade da anestesia foi avaliada pelas ausências de: movimentação; reflexo córneo-palpebral; e reação motora, após preensão com pinça do coxim adiposo de uma das patas traseiras, além de um bom padrão ventilatório.

Com as ratas posicionadas em decúbito ventral foi realizada a tricotomia na região dorsal, com posterior antissepsia e colocação de campo cirúrgico estéril.

A delimitação da incisão foi realizada tendo como referência uma linha horizontal subcostal, acompanhando o rebordo costal posteroinferior, que se encontrou com a linha sagital média. Com um cabo de bisturi nº 3, acoplado de uma lâmina nº 15, foi feita uma incisão horizontal, com extensão de 20mm na intersecção dessas linhas referenciais.

Foi confeccionada a loja para os mini-implantes em um plano retromuscular (abaixo do Panniculus carnosus) e, posteriormente, o mini-implante foi introduzido em direção vertical sendo posicionado horizontalmente conforme o grupo (nanotexturizado ou poliuretano). A sutura da pele foi intradérmica com mononylon 5-0 (Ethicon® com nós sepultados. Não houve retirada dos pontos no pós-operatório e a ferida operatória foi mantida exposta (Figura 2).

Figura 2 - Pós-operatório imediato.

A analgesia pós-operatória foi com aplicação única, intramuscular, de dipirona sódica (20mg/kg) na região lateral do membro posterior. Não foram realizados curativos pós-operatórios nem a retirada de pontos.

A eutanásia ocorreu conforme os subgrupos de 30, 60 e 90 dias mediante a aplicação de quatro vezes a dose terapêutica de Dopalen® e Dopasen® e subsequente luxação cervical. Não houve morte, infecção do sítio cirúrgico e nem extrusão dos implantes, portanto nenhuma rata foi excluída.

Metodologia de avaliação

As amostras de sangue com 4mL foram obtidas no dia da eutanásia, de acordo com cada subgrupo, por punção intracardíaca com uma seringa de 10mL realizada pelo médico veterinário (Vídeo 1), e foram dispostas em tubos com anticoagulante ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e homogeneizados por 1 minuto.

Após isso, os tubos foram colocados imediatamente no analisador hematológico veterinário Max Cell 200 - KT 6200 VET ® (Green Medical Instrument, Tóquio, Japão) previamente calibrado para leitura de hemograma, no qual foi realizada a separação sanguínea em séries vermelha e branca, e plaquetas.

A utilização desse equipamento é uma maneira de não se cometer erros de contagem celular que frequentemente ocorrem mediante o uso de esfregaço sanguíneo. Após isso os resultados foram analisados15,16.

Avaliação estatística

Os resultados foram descritos por mediana, valores mínimo e máximo. Para a comparação dos grupos (nanotexturizado e poliuretano), em cada subgrupo (30, 60 e 90 dias), foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney. As comparações entre os subgrupos, para cada grupo, foram feitas utilizando-se o teste não- paramétrico de Kruskal-Wallis. Valores de p<0,05 indicaram significância estatística. Os dados foram analisados com o programa computacional Stata/SE v.14.1. StataCorpLP, USA.

RESULTADOS

Série vermelha

Sobre as alterações da série vermelha no pós-operatório encontrou-se anemia hipocrômica nos animais avaliados.

Hemoglobina e hematócrito

Em todos os grupos e subgrupos avaliados, os resultados foram muito semelhantes e sem significância estatística (Tabelas 1 e 2, Figuras 3 e 4).

Tabela 1 - Análise da hemoglobina nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo
Subgrupos Grupos p *
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 13 (3,9-13,7) 13 (12-13,6) 0,762
60d 12,5 (7,2-13,9) 12,2 (11,5-37,1) 0,720
90d 13 (12,3-14,7) 13,4 (10,5-13,9) 0,631
p ** (30 x 60 x 90d) 0,210 0,165  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05.

Tabela 1 - Análise da hemoglobina nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo
Tabela 2 - Análise do hematócrito nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 48,4 (16,3-50) 48,3 (44-50,6) 0,829
60d 46,7 (0,7-51,2) 47,5 (45,2-51,1) 0,780
90d 46,3 (44,2-51,3) 48,5 (37,2-49,9) 0,631
p** (30 x 60 x 90d) 0,594 0,632  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05.

Tabela 2 - Análise do hematócrito nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 3 - Análise da hemoglobina nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 4 - Análise do hematócrito nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Hemoglobina corpuscular média

Quando os diferentes subgrupos foram comparados entre si, dentro de cada grupo, obteve-se resultados estatisticamente significantes (Tabela 3 e Figura 5).

Tabela 3 - Análise da hemoglobina corpuscular média nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 15,5 (13,6-16,3) 15,8 (15,4-16,5) 0,515
60d 15,7 (14,7-16,5) 15,2 (14,9-16) 0,190
90d 16,5 (14,8-16,8) 16,4 (14,5-16,9) 0,631
p** (30 x 60 x 90d) 0,032*** 0,007***  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05;

*** Nanotexturizado: 30d x 60d: p=0,032; 30d x 90d: p=0,009; 60d x 90d: p=0,061; Poliuretano: 30d x 60d: p=0,120; 30d x 90d: p=0,039; 60d x 90d: p=0,001.

Tabela 3 - Análise da hemoglobina corpuscular média nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 5 - Análise da hemoglobina corpuscular média nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Série branca

Sobre as alterações da série branca no pós-operatório evidenciou-se contagem de leucócitos normais às custas de neutrofilia e linfopenia.

Leucócitos

Ao comparar os diferentes subgrupos entre si, dentro de cada grupo, obteve- se resultados com significância estatística (Tabela 4 e Figura 6).

Tabela 4 - Análise dos leucócitos nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 8,1 (3,3-12,6) 10,5 (3,8-17,6) 0,122
60d 8,3 (2-11,9) 7,9 (1,1-11,7) 0,905
90d 11,9 (4,4-16,3) 12 (6-30,6) 0,631
p** (30 x 60 x 90d) 0,038*** 0,034***  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05;

*** Nanotexturizado: 30d x 60d: p=0,590; 30d x 90d: p=0,052; 60d x 90d: p=0,013 Poliuretano: 30d x 60d: p=0,060; 30d x 90d: p=0,416; 60d x 90d: p=0,010.

Tabela 4 - Análise dos leucócitos nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 6 - Análise dos leucócitos nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Neutrófilos e linfócitos

Em todos os grupos e subgrupos avaliados, os resultados foram parecidos e sem significância estatística (Tabelas 5 e 6, Figuras 7 e 8).

Tabela 5 - Análise dos neutrófilos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 35,1 (25,5-44,1) 37,8 (28,4-46,3) 0,408
60d 39 (25,9-43,8) 35,1 (22,2-43,9) 0,211
90d 40,4 (28,7-49,1) 41 (23,4-60,2) 0,631
p** (30 x 60 x 90d) 0,589 0,148  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05.

Tabela 5 - Análise dos neutrófilos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo
Tabela 6 - Análise dos linfócitos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 53,6 (44,5-70,8) 51,6 (43,6-62,5) 0,360
60d 49,6 (44-68,1) 55,9 (45,7-72,6) 0,079
90d 48 (41,4-60,2) 47,2 (23,5-65,8) 0,481
p** (30 x 60 x 90d) 0,372 0,075  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05.

Tabela 6 - Análise dos linfócitos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 7 - Análise dos neutrófilos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 8 - Análise dos linfócitos em % nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Plaquetas

As plaquetas se apresentaram com trombocitopenia e os resultados foram muito semelhantes entre os dois grupos, nos diversos subgrupos avaliados, e sem significância estatística (Tabela 7 e Figura 9).

Tabela 7 - Análise das plaquetas nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.
Subgrupos Grupos p*
Nanotexturizado Mediana (mín-máx) Poliuretano Mediana (mín-máx)
30d 114 (37-667) 211 (42-739) 0,573
60d 146 (110-759) 292 (134-645) 0,489
90d 301,5 (137-662) 203,5 (98-839) 0,247
p** (30 x 60 x 90d) 0,265 0,535  

Fonte: Os autores.

* Teste não-paramétrico de Mann-Whitney, p<0,05;

** Teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, p<0,05.

Tabela 7 - Análise das plaquetas nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

Figura 9 - Análise das plaquetas nos grupos nanotexturizado e poliuretano ao longo do tempo.

DISCUSSÃO

Escolha do modelo animal

Baseado em Zarini et al. (2004)15, considerou-se que a expectativa de vida para uma rata de laboratório é de aproximadamente 2,5 anos. Correlacionando com a vida humana, 3 meses desse animal correspondem a 90 meses (aproximadamente 8 anos) em um ser humano, tomando-se como base uma expectativa média de vida de 75 anos. Devido a isso, optou-se em dividir em subgrupos de 30, 60 e 90 dias para dar maior veracidade a um pós-operatório tardio.

O rato (Rattus novergicus albinus, Roentia mammalia) escolhido pelos autores é o animal mais utilizado em estudos de cicatrização ao redor dos implantes de silicone, devido à fácil reprodutibilidade dos resultados, resistência às intervenções cirúrgicas e alta disponibilidade nos biotérios17,18.

Série vermelha

Segundo valores referenciais em ratas Wistar19, foi analisado a hemoglobina, o hematócrito e a hemoglobina corpuscular média. Em relação à hemoglobina, houve uma diminuição total e, em contrapartida, o hematócrito teve um aumento, independentemente do tipo de mini-implante.

Isso configurou uma possível anemia hipocrômica pós-operatória podendo sugerir uma deficiência de ferro, perda sanguínea, inflamação e infecção pós-operatória. Como consequência, a anemia pode aumentar a morbimortalidade pós- operatória20.

Concordando parcialmente com Ersoy et al. (2015)21, que implantaram dispositivo intracardíaco em humanos, demonstraram que a hemoglobina e o hematócrito diminuíram significativamente no pós-operatório. Atribuíram a isso o sangramento gastrointestinal e a hemólise de células vermelhas secundárias à alta tensão de cisalhamento, que o próprio dispositivo implantado poderia causar.

Discordando de Zarini et al. (2004)15, que colocaram implantes de hidrogel em camundongos fêmea, os referidos autores não encontraram alteração na série vermelha, o que indica que não houve comprometimento sistêmico pós-operatório na série vermelha devido ao implante.

Discorda-se de Csendes et al. (2014)9, que realizaram gastrectomias em humanos, e não evidenciaram mudança nos valores referenciais da hemoglobina pré e pós-operatória. Entretanto, com relação ao hematócrito, obtiveram diminuição desse parâmetro, o que contrapõe nosso estudo, em que houve valores aumentados do hematócrito, mesmo que não de forma absoluta, em todos os subgrupos, independentemente do tipo de mini-implante.

Série branca

Ao analisar os leucócitos no presente estudo, evidenciou-se uma grande amplitude entre os valores mínimos e máximos, contudo a mediana permaneceu dentro do valor referencial. Quando os subgrupos foram comparados longitudinalmente, houve um aumento gradativo de leucócitos indicando uma maior produção dessas células.

Também foi evidenciado uma neutrofilia acompanhada de uma linfopenia. Nesse caso, a linfopenia é considerada relativa, pois há aumento de neutrófilos, desequilibrando a equação leucocitária, e esse fato é um marcador de inflamação11.

A neutrofilia é imediata no pós-operatório, pois a interleucina-1 é formada por estimulação das áreas inflamadas e traumatizadas, resultando na liberação da reserva de neutrófilos para a periferia13.

No presente estudo houve persistência da neutrofilia, provavelmente devido à perpetuação da reação inflamatória em relação ao implante, principalmente no grupo poliuretano, que evidenciou valores relativamente maiores.

Concorda-se parcialmente com Csendes et al. (2014)9, que em seu estudo encontraram aumento nos leucócitos às custas de neutrofilia no pós-operatório, entretanto, segundo esses autores, os valores retornaram ao referencial no quinto dia, sugerindo um processo inflamatório fisiológico devido ao estresse cirúrgico, diferentemente da presente pesquisa em que os valores permaneceram elevados até 90 dias9.

Discorda-se de Zarini et al. (2004)15, que descreveram uma leve leucocitose acompanhada de neutrofilia atribuída à reação de corpo estranho15, ao contrário, no presente trabalho encontrou-se valores normais de leucócitos devido a um equilíbrio entre neutrofilia e linfopenia.

Com relação a equação leucocitária, Hashimoto et al., em 201811, relataram que a razão neutrófilos/linfócitos (RNL) pode ser um método de estratificação de risco de mortalidade, com as características de ser não invasivo, barato e prontamente disponível para pacientes com implantes.

A vantagem de usar tanto neutrófilos quanto linfócitos nessa razão pode ser explicada pois o RNL combina duas vias imunológicas diferentes. A primeira via composta pelos neutrófilos está envolvida na resposta rápida, enquanto que a segunda via contempla os linfócitos na resposta adaptativa a longo prazo do sistema imunológico, a qual é um sinônimo de estresse fisiológico11.

Plaquetas

Com relação às modificações nas plaquetas, observou-se que houve trombocitopenia sugerindo sequestro esplênico ou diminuição na produção, destruição ou consumo acelerado de plaquetas20.

Corrobora-se com Zarini et al. (2004)15, que em seu estudo demonstraram uma trombocitopenia precoce e transitória, como consequência da ativação hemostática devido à microhemorragia no local do implante.

Discorda-se parcialmente de Zhang et al. (2015)22, que em seu estudo avaliaram a alteração nas plaquetas após o implante de stents em humanos. Os referidos autores encontraram pacientes com diminuição da contagem de plaquetas (leve, moderada e grande quantidade), mas também relataram pacientes com aumento da contagem de plaquetas, porém após 6 meses esses valores retornaram à normalidade.

Os mesmos autores atribuíram a alteração nas plaquetas devido à minimização do estresse cirúrgico e o consumo acelerado dessas células à hipercoagulabilidade relacionada ao stent. Ainda nesse estudo também foi demonstrado que a mudança na contagem das plaquetas foi positivamente correlacionada com a mudança de leucócitos e não com o número de stents22.

CONCLUSÃO

Após a colocação de mini-implantes de silicone, as ratas de ambos os grupos evoluíram com anemia hipocrômica, contagem de leucócitos normais às custas de neutrofilia e linfopenia, e trombocitopenia.

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1. Universidade Federal de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Cirurgia Translacional, São Paulo, SP, Brasil.
2. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia e Ciências Cirúrgicas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3. Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR, Brasil.

Instituição: Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR, Brasil.

COLABORAÇÕES

ENS Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Aprovação final do manuscrito, Coleta de Dados, Conceitualização, Concepção e desenho do estudo, Gerenciamento de Recursos, Gerenciamento do Projeto, Investigação, Metodologia, Redação - Preparação do original, Redação - Revisão e Edição, Supervisão, Visualização

GHP Realização das operações e/ou experimentos

FMB Análise e/ou interpretação dos dados

AYK Coleta de Dados

LMF Concepção e desenho do estudo

LCL Realização das operações e/ou experimentos

Autor correspondente: Eduardo Nascimento Silva, Avenida Doutor Francisco Burzio, 991, Centro, Ponta Grossa, PR, Brasil. CEP: 84010-200. E-mail: dr_eduardosilva@yahoo.com.br

Artigo submetido: 09/10/2020.
Artigo aceito: 17/11/2020.

Conflitos de interesse: não há.

 

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