INTRODUÇÃO
A cirurgia plástica de aumento mamário tem se tornado cada vez mais frequente, estimulada
pela grande divulgação efetuada pela mídia e por mudança nos padrões culturais1.
O uso dos implantes de gel de silicone para o aumento do volume das mamas marcou uma
nova era na história da cirurgia plástica, até então, o uso de materiais estranhos
ao organismo quase sempre resultava em extrusão, infecção ou aparência inadequada.
Desde 1962, quando Cronin e Gerow1 desenvolveram as primeiras próteses, a cirurgia de mastoplastia de aumento tem sofrido
uma evolução crescente. A posição do implante com relação ao músculo peitoral apresentou
variações, sendo de início pré-peitoral, depois subpeitoral, mais recentemente subfascial,
sendo colocada sob a fáscia e em posição anterior ao músculo peitoral maior1,2.
A realização de mamoplastia de aumento pela técnica subfascial vem sendo cada vez
mais utilizada pelos cirurgiões. Descrita por Graf, em 20033, apresenta vantagens em relação as outras técnicas por proporcionar melhores resultados
estéticos tanto a curto quanto a longo prazo. Os estudos4,5 afirmam que a técnica subfascial tem um resultado estético superior, pois o espaço
entre o músculo e a fáscia suavizam os contornos do implante, a recuperação pós-cirúrgica
é mais rápida e menos dolorosa, os índices de complicações se tornam mínimos e há
um menor número de casos de deslocamento da prótese pela ação da musculatura do peitoral.
Essas características proporcionam a mama um aspecto natural e homogêneo sendo melhor
aceita pelas pacientes2,4,6.
OBJETIVOS
O presente estudo tem como finalidade descrever o uso do implante mamário no plano
subfascial, além de analisar os índices de complicações de pacientes submetidos a
este procedimento.
MÉTODOS
A presente pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa nº 40452620.6.0000.5368.
Trata-se de um estudo retrospectivo quantitativo descritivo de caráter transversal,
que avaliou o perfil de 432 pacientes que realizaram mamoplastia de aumento, por meio
da análise de prontuários médicos, em uma clínica de cirurgia plástica na cidade de
Blumenau/SC, no período de 2010 a 2015. Foram excluídas da análise 199 pacientes que
realizaram outras técnicas de implantação das próteses de silicone, pacientes que
realizaram mastopexia e os que necessitaram de tamanhos distintos de prótese. Foram
incluídas no estudo 233 pacientes que optaram pela técnica de implantação cirúrgica
subfascial independentemente do tamanho da prótese utilizada e do local da incisão.
Todas as pacientes foram operadas pelo mesmo cirurgião e com a mesma técnica operatória.
Os implantes utilizados foram da marca Allergan®.
Os dados utilizados foram: idade, tamanho da prótese, ano em que foi realizada a cirurgia,
local da incisão cirúrgica, formato de prótese escolhido e ocorrência de complicações.
Também foi realizada uma revisão bibliográfica comparando as técnicas cirúrgicas submuscular,
subglandular e subfascial na literatura, tendo como base científica artigos do banco
de dados do PubMED, BVC e SciELO.
Para analisar os dados, foi realizada estatística descritiva para obter valores de
média, desvio padrão e valores de frequência absoluta e relativa. Os dados foram analisados
no software estatístico SPSS IBM ® versão 20.0.
As complicações cirúrgicas estavam todas presentes nos prontuários das pacientes.
As marcações foram realizadas com a paciente em pé, medindo a base atual da mama e
a base desejada, a distância do mamilo até o sulco inframamário bem como da fúrcula
esternal e linha média até o mamilo. Foi medido o diâmetro da aréola, a distância
entre as mamas e a distância entre os mamilos. Além disso foi realizado pinch test lateral, superior e medial para determinar o tamanho da dobra cutânea, auxiliando
na escolha da técnica cirúrgica adequada para a paciente.
As cirurgias foram realizadas no centro cirúrgico hospitalar, sendo a marcação cirúrgica
já realizada no dia anterior. As pacientes foram submetidas à anestesia geral, foi
realizada infiltração nas mamas com soro fisiológico 0,9%, com adrenalina diluída
em 1:300.000 e 5ml de naropin 0,5%.
A incisão realizada variou conforme acordado antecipadamente com as pacientes. A técnica
cirúrgica inclui o descolamento subfascial (Figura 1) e confecção da loja, na homeostasia o eletrocautério foi utilizado e na sequência
foi feita a lavagem da loja com soro estéril e introduzida a prótese texturizada.
Foi conferido o posicionamento adequado das próteses e realizado os fechamentos dos
planos cirúrgicos.
Figura 1 - Fáscia do músculo peitoral onde será introduzida a prótese.
Figura 1 - Fáscia do músculo peitoral onde será introduzida a prótese.
O tempo médio do procedimento pela técnica subfascial teve duração de aproximadamente
60 minutos.
RESULTADOS
A amostra foi composta por 233 pacientes do sexo feminino que realizaram procedimentos
de colocação de prótese pela técnica subfascial. A média de idade da amostra foi de
30,08 (±6,8) anos, com mínima de 17 anos e 56 anos de máxima.
A escolha da via de acesso foi determinada pelo paciente com auxílio do cirurgião,
5 pacientes (2,1%) optaram por via de acesso axilar, outras 4 (1,7%%) optaram por
via areolar, o restante das pacientes (96,1%) optou por realizar a incisão no sulco
inframamário.
As próteses utilizadas variaram de 220g até 460g (Figura 2), conforme a necessidade avaliada pelo médico e a preferência de cada paciente, as
mais escolhidas estão entre 295g e 325g com média de 315,5g. No período observado
ocorreu um aumento no tamanho do implante escolhido pelas pacientes em aproximadamente
24,84g. O formato de prótese redondo foi escolhido por 228 pacientes (97,9%), o anatômico
por apenas 3 pacientes (1,3%) e 2 pacientes (0,9%) optaram pelo formato redondo com
projeção alta.
Figura 2 - Média do tamanho das próteses por ano (g).
Figura 2 - Média do tamanho das próteses por ano (g).
Durante esse período ocorreu apenas uma complicação pós-operatória: o seroma tardio
(0,429%), que ocorreu após 4,5 anos da data do procedimento, não sendo relatado nenhuma
contratura muscular, hematoma ou qualquer outra complicação.
DISCUSSÃO
A mama repousa sobre a porção anterolateral do tórax, principalmente sobre a segunda
até a sexta costelas. Está localizada sobre o músculo peitoral maior, seus limites
incluem a clavícula superiormente, o esterno medialmente, o sulco inframamário inferiormente
e a borda anterior do latíssimo do dorso determina sua extensão lateral8.
Os implantes mamários podem ser colocados no espaço subglandular, subfascial ou submuscular
conforme demostrado na Figura 3.
Figura 3 - Representação anatômica da mama e dos tipos técnicas para implantação de próteses
de silicone na mamoplastia de aumento
14.
Figura 3 - Representação anatômica da mama e dos tipos técnicas para implantação de próteses
de silicone na mamoplastia de aumento
14.
Em comparação com a técnica de implante submuscular, Graf et al. (2003)3 documentou que a abordagem subfascial elimina a animação do implante causada pela
contração do músculo peitoral com o movimento do braço. Além do contorno das mamas
tornar-se mais arredondado, pois não sofre interferência da camada muscular3,5,7. O plano submuscular pode causar distorção do implante devido à reação das fibras
musculares à cápsula ou à pele, podendo causar tração, ondulação ou assimetria9,10. A recuperação pós-operatória é mais rápida e menos dolorosa, pois não há grandes
áreas de dissecção muscular3,7,10. Segundo Benito-Ruiz (2003)11 os pacientes com aumento subfascial retornam as atividades normais aproximadamente
4 dias antes.
A técnica subfascial proporciona maior resultado estético, quando comparada com a
técnica subglandular, por mascarar o contorno da prótese diminuindo a visibilidade
da borda e proporcionar uma transição mais gradual do parênquima para o implante,
resultando em uma forma mais natural da mama5,12 (Figuras 4 e 5). Uma das principais características do aumento de mama subfascial é a criação de
um sistema de suporte mais forte para o polo superior do implante. O deslocamento
do implante na direção superior é evitado porque o polo superior é colocado entre
o músculo e a fáscia, o que constitui um sistema de suporte mais forte do que apenas
o parênquima mamário e/ou tecido subcutâneo na abordagem subglandular convencional12. O implante permanece firmemente no lugar e um resultado natural é reforçado, porque
a pele e o tecido subcutâneo no terço superior da bolsa não estão diretamente em contato
com o implante12,13.
Figura 4 - A-B: Paciente no pré-operatório; C-D: Marcações feitas no dia anterior a realização
do procedimento; E-F: Paciente no pós-operatório com colocação de próteses pela técnica
subfascial.
Figura 4 - A-B: Paciente no pré-operatório; C-D: Marcações feitas no dia anterior a realização
do procedimento; E-F: Paciente no pós-operatório com colocação de próteses pela técnica
subfascial.
Figura 5 - A-B: Paciente no pré-operatório; C-D: Marcações feitas no dia anterior a realização
do procedimento; E-F: Paciente no pós-operatório com colocação de próteses pela técnica
subfascial.
Figura 5 - A-B: Paciente no pré-operatório; C-D: Marcações feitas no dia anterior a realização
do procedimento; E-F: Paciente no pós-operatório com colocação de próteses pela técnica
subfascial.
Os índices publicados por Vucovich e Khosla (2013)7 demonstram que a incidência de seroma tardio é rara, variando de 0,1%-1,7%, o que
é confirmado pelo nosso estudo, onde apresentou um caso apenas (0,429%) após 4,5 anos
da data do procedimento. Além disso, descrevem que o índice de hematomas varia 0,5%-0,9%.
No presente estudo, não foi identificado nenhum hematoma no pós-operatório, o risco
de hematoma é pequeno já que o sangramento é insignificante11. A longo prazo o risco de ocorrer ptose é reduzido devido a menor ruptura das fibras
conectivas entre a camada profunda da fáscia envolvente que rodeia a mama e a fáscia
do peitoral7. As complicações da técnica subfascial mostraram-se inferiores quando comparadas
com as técnicas submuscular e subglandular (18,3%)7.
O pinch test superior menor do que 2cm é a única contraindicação relativa para realização desse
procedimento. Nessa situação pode ser sugerido para a paciente diminuir o tamanho
da prótese escolhida, a fim de realizar a técnica subfascial, pois o implante possui
uma melhor cobertura no polo superior necessitando de maior quantidade de tecido nesse
local, com isso confere melhores resultados estéticos e evita a visibilidade artificial
da prótese, além de auxiliar a cobertura do tecido adjacente5,7.
CONCLUSÃO
A técnica subfascial vem sendo cada vez mais utilizada pelos cirurgiões plásticos
por apresentar resultados estéticos satisfatórios e baixos índices de complicações,
como demostrado no estudo, tornando-se uma opção diferenciada para pacientes que realizarão
a mamoplastia de aumento.
REFERÊNCIAS
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implant: a new procedure. Plast Reconstr Surg. 2003 Fev;111(2):904-8.
4. Ali A, Eleathy E, Abdo-Fotouh S, Frag M. Subfascial breast augmentation: review of
a 2-year experience with 100 cases. Egypt J Plast Reconstr Surg. 2011 Jan;35(1):41-6.
5. Hunstand JP, Webb LS. Subfascial breast augmentation: a comprehensive experience.
Aesthet Plast Surg. 2010 Jul;34(3):365-73.
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approach. Aesthetic Plast Surg. 2004 Mai/Jun;28(3):148-52.
11. Benito-Ruiz J. Transaxillary subfascial breast augmentation. Aesthet Surg J. 2003
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a two-year review of experience. Aesthetic Plast Surg. 2008 Jun;32(3):426-31.
13. Goés JCS, Landecker A. Optimizing outcomes in breast augmentation: seven years of
experience with the subfascial plane. Aesthetic Plast Surg. 2003 Mai/Jun;27(3):178-84.
14. Standring, S. Gray's Anatomy 40 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2010. Produzido e editado
por Henrique Boell - Lages SC.
1. Universidade do Planalto Catarinense, Lages, SC, Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, SP, Brasil.
3. Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
5. Faculdade Assis Gurgacz, Cascavel, PR, Brasil.
Autor correspondente: Heboni Sabadin, Mário Antunes da Cunha 511, 101 B, Petrópolis, Porto Alegre, RS , Brasil, CEP 90690-400.
E-mail: heboni_sabadin@hotmail.com / heboni_sabadin@hotmail.com
Artigo submetido: 07/12/2020.
Artigo aceito: 18/05/2021.
Conflitos de interesse: não há.