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Dentre as consequências da pandemia da COVID-19, um maior número de pacientes com descompensações ou agravamento de doenças evolutivas foi observado. De interesse à cirurgia plástica, destacam-se as doenças neoplásicas e a maior complexidade reconstrutiva em função de estadiamento mais tardio e indicações terapêuticas postergadas.
Em vários países o rastreamento do câncer foi suspenso, o trabalho de diagnóstico de rotina adiado e apenas os casos sintomáticos urgentes foram priorizados para intervenção diagnóstica. A necessidade de direcionamento de leitos para o tratamento dos pacientes afetados pela COVID-19 e o receio por parte dos pacientes em procurar atendimento tiveram efeito potencializador no agravamento de doenças como o câncer.
Aumentos substanciais no número de mortes por câncer evitáveis são esperados a médio prazo, como resultado de atrasos no diagnóstico devido à pandemia de COVID-191. Segundo estudo publicado por Hartman et al. (2020)2, o atraso no tratamento do câncer apresentou impacto variável na sobrevida específica e na mortalidade específica da doença, como consequência principal do retardo do tratamento recomendado de maneira não quantitativa, não objetiva e não personalizada2,3.
Mas o problema vai além: todo o processo de tratamento retardado gerará uma demanda reprimida de casos complexos para reparação. Uma coorte de casos avançados em um momento histórico não esperado poderá fornecer, involuntariamente, novas informações cientificamente aproveitáveis, se bem exploradas.
Não se esperaria, para a maioria dos tumores de interesse, como neoplasias cutâneas, incluindo o melanoma maligno e o câncer de mama, uma série de casos avançados em todos os níveis de tratamento, incluindo os serviços públicos e de saúde suplementar, neste momento da história natural das doenças. O diagnóstico precoce e o tratamento otimizado têm sido efetivos na curabilidade destas neoplasias e a oportunidade de aplicar métodos mais modernos em casos mais avançados se traduz numa oportunidade ímpar de se avaliar novas opções de tratamento que poderão auxiliar na condução de todos os pacientes. Cabe aos pesquisadores aproveitar esta oportunidade e oferecer um retorno positivo à sociedade, tão abalada e afetada por esta genuína pandemia de alcance mundial.
REFERÊNCIAS
1. Maringe C, Spicer J, Morris M, Purushotham A, Nolte E, Sullivan R, et al. The impact of the COVID-19 pandemic on cancer deaths due to delays in diagnosis in England, UK: a national, population-based, modelling study. Lancet Oncol. 2020 Ago;21(8):1023-34. DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(20)30388-0
2. Hartman HE, Sun Y, Devasia TP, Chase EC, Jairath NK, Dess RT, et al. Integrated survival estimates for cancer treatment delay among adults with cancer during the COVID-19 pandemic. JAMA Oncol. 2020 Out;6(12):1881-9. DOI: https://doi.org/10.1001/jamaoncol.2020.5403
3. Šitum M, Filipović N, Buljan M. A reminder of skin cancer during the COVID-19 pandemic. Acta Dermatovenerol Croat. 2021 Abr;291(1):58.
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