INTRODUÇÃO
A lipoaspiração com cânula foi desenvolvida e descrita inicialmente por Illouz, em
19831. Já em 1986, Pierre Fournier7 introduziu o conceito de lipoescultura com
seringa2. Com o desenvolvimento da
tecnologia, surgiram equipamentos e máquinas com o intuito de facilitar a técnica
de
lipoaspiração e promover melhores resultados. Destacam-se entre essas a
lipoaspiração a vácuo (também denominada tradicional), vibrolipoaspiração,
lipoaspiração laser-assistida e, em destaque no cenário atual, a técnica baseada
na
tecnologia de ultrassom conhecida como VASER.
Apesar do desenvolvimento de tecnologias associadas à lipoaspiração, os estudos não
comprovaram o benefício das novas tecnologias em comparação à lipoaspiração com
seringa e a lipoaspiração tradicional. Além disso, a lipoescultura com seringa
parece ter algumas vantagens claras, como menor custo e maior disponibilidade.
As
técnicas com seringa para lipoaspiração descritas por Fournier têm sido promovidas
devido às suas inúmeras vantagens em comparação com os equipamentos de lipoaspiração
tradicionais3.
OBJETIVO
Revisar os métodos históricos e atuais de lipoaspiração, com destaque para a técnica
com seringa. Análise retrospectiva dos casos realizados com essa técnica pelo
autor.
MÉTODO
Revisão no banco de dados PubMed e BIREME através das palavras lipoaspiração,
lipoescultura, seringa, laser, VASER. Revisão fotográfica e dos prontuários dos
casos realizados pelo autor nos últimos 30 anos.
RESULTADOS
Os estudos atuais que tentaram comparar as tecnologias usadas na lipoaspiração, não
encontraram resultados estatisticamente significativos que favorecessem o uso
de
tecnologias associadas à lipoaspiração4,5.
O autor possui mais de 30 anos de experiência em lipoescultura e acredita que, apesar
de mais trabalhosas e maior tempo cirúrgico, a lipoaspiração a seringa tem claras
vantagens como: menor custo, maior controle do resultado e precisão cirúrgica,
além
de permitir a lipoenxertia imediata. Refere que nos casos analisados obteve um
alto
índice de satisfação, adequada simetria e ausência de irregularidades. Abaixo
demonstramos alguns casos do autor nos quais utilizou- se a técnica de lipoescultura
com seringa. (Figura 1 a 4)
Figura 1 - Paciente feminina (vista anterior).
Figura 1 - Paciente feminina (vista anterior).
Figura 2 - Paciente feminina (vista posterior).
Figura 2 - Paciente feminina (vista posterior).
Figura 3 - Paciente masculino (vista anterior).
Figura 3 - Paciente masculino (vista anterior).
Figura 4 - Paciente masculino (vista posterior).
Figura 4 - Paciente masculino (vista posterior).
DISCUSSÃO
Entre as técnicas que surgiram com o desenvolvimento da tecnologia, destacam-se a
vibrolipoaspiração, a lipoaspiração associada ao laser e ao ultrassom, conhecido
como VASER. A vibrolipoaspiração é a tecnologia comumente usada que utiliza um
motor
de velocidade variável para causar movimento recíproco da cânula em combinação
com a
movimentação do braço do cirurgião, facilitando a remoção do tecido adiposo.
Lipoaspiração assistida por água utiliza uma cânula de duas vias que emite pulsação
e um jato de solução tumescente, seguido por sucção simultânea da gordura e da
infiltração. SAFE lipo é um método de 3 passos criado por Dr. Simeon Wall Jr.,
que
tem sido proposto para reduzir irregularidades e edema, além de aumentar a retração
cutânea4.
Paul e Mulholland introduziram a lipoaspiração associada à radiofrequência e
tecnologia de contração tecidual, mostrando que a energia pode ser entregue a
derme
enquanto aquece o tecido adiposo e subcutâneo a temperaturas ainda maiores, sem
comprometer a segurança da pele4. Atualmente,
tem papel de destaque no cenário mundial a técnica de lipoaspiração de alta
definição, idealizada por Alfredo Hoyos, em que utiliza a tecnologia do VASER
associada ainda a tecnologia de contração cutânea com Renuvion (jato de plasma
de
gás Hélio aquecido) para lipoaspirar camadas superficiais e profundas do subcutâneo
e lipoenxertias de determinados músculos, a fim de obter maior definição muscular
no
contorno corporal6.
A lipoaspiração a vácuo tradicional tem funcionado bem, tem sido segura e efetiva.
Uma nova abordagem cirúrgica que pudesse eventualmente substituir outra em uso
deve
comprovadamente ser ao menos igual ou superior ao método de lipoaspiração
tradicional. Um ensaio clínico prospectivo, randomizado e duplo-cego comparando
os
resultados entre lipoaspiração tradicional e associada ao laser, em pacientes
nos
quais os autores alocaram randomicamente o hemiabdome de 25 pacientes para cada
modalidade, não foram encontradas diferenças significativas entre os métodos5. Nagy e Vanek compararam VASER e lipoaspiração
tradicional, ambos cirurgiões e pacientes não foram capazes de identificar as
diferenças entre os lados tratados com cada tecnologia4. Husntad comparou em 10 pacientes o método de lipoaspiração à seringa
e lipoaspiração à vácuo, utilizando técnica diferente em cada hemiabdome da
paciente. Nenhum paciente apresentou irregularidades de contorno ou depressões
de
áreas lipoaspiradas. Outra vantagem encontrada foi quanto às equimoses. A
intensidade de equimoses após a cirurgia foi avaliada por fotografia demonstrado
ser
significativamente menor que nas observadas após a lipoaspiração tradicional3.
O menor custo e a maior disponibilidade de material na lipoaspiração com seringa é
evidente. Alguns estudos foram realizados a fim de enaltecer e comprovar essas
e
outras vantagens do método. A seringa tem baixo custo, é silenciosa, leve, não
produz aerossóis, além de ser fácil de usar. Permite uma rapidez na movimentação
da
cânula no subcutâneo, permitindo excelente controle e precisão3.
No estudo de Prado, et al., no qual os autores comparam a
lipoaspiração tradicional com a associada ao laser, comprovaram alguns benefícios
da
primeira. A dor pós-operatória foi maior na lipoaspiração a vácuo em comparação
a
dor associada ao laser no primeiro retorno pré-operatório, mas não houve diferença
no segundo retorno pós-operatório5. Já
Fournier defende que a dor é menor na técnica com seringa por dois motivos: primeiro
os pacientes apresentam menor rubor e edema; segundo, a infiltração local de solução
anestésica é melhor distribuída nas áreas tratadas2.
Ao associar tecnologias, como laser por exemplo no estudo de Prado, et
al., observou-se um aumento do tempo cirúrgico. O tempo usado para
remover 500ml de gordura com o método tradicional ou a laser foi diferente, sendo
maior na lipoaspiração a laser. Para este estudo, a lipoaspiração a laser demandou
o
uso de uma máquina de alto custo, curva de aprendizado longa, maior tempo
operatório, fibra óptica que necessitou ser cortada e descartada, além de outros
acessórios desse laser que tem alto custo e podem apresentar falhas
eventualmente5.
Fournier destaca ainda outras vantagens da lipoaspiração com seringa. Para esse
autor, os instrumentos usados são simples e não há necessidade de transporte de
equipamento pesado e de grande porte, nem problemas com a máquina e eletricidade
a
serem temidos. Além disso, lipoaspiração com seringa é muito menos agressiva ao
tecido adiposo que a máquina de sucção, permitindo uma extração da gordura mais
precisa e exata, portanto obtendo melhores resultados7.
Além disso, em casos de pequenas regiões a serem aspiradas, o método com seringa
apresenta vantagens. É difícil realizar lipoaspirações com a máquina em pequenas
regiões como na face, pescoço ou pequenas áreas de gordura localizada. Nas
lipoaspirações de pequeno volume, a seringa permite aspirar pequenas quantidades
e
quantificá-las. Nas de médio volume, que são as mais comuns, a seringa é melhor
porque é mais fácil se obter um resultado simétrico e nas de maior volume porque
o
método limita a perda sanguínea e o choque operatório7.
Observou-se ainda, em estudos iniciais, uma menor queda da hemoglobina. O grupo da
seringa teve uma queda da hemoglobina de 14,2 para 12,1g/dL. Este é um claro
contraste com o grupo de lipoaspiração à vácuo que apresentou uma queda de
hemoglobina de 14,3 a 10,4g/dL. Além disso, aqueles pacientes do grupo da seringa
não apenas tiveram menos dor como também retornaram as suas atividades em menor
tempo (2,2 em comparação com 3,4 semanas no grupo da máquina de lipoaspiração)2.
Alguns estudos que defendem o uso de tecnologias alegam maior esforço físico do
cirurgião e maior tempo cirúrgico nas lipoaspirações com seringa, porém não
conseguiram comprovar suas hipóteses até o momento. Acreditamos que essas hipóteses
possam estar relacionadas à curva de aprendizado e ao treinamento do cirurgião,
mais
do que ao material cirúrgico utilizado nesses procedimentos. Desse modo, até o
momento, somente foram comprovadas as vantagens da lipoaspiração com seringa em
comparação a lipoaspiração tradicional ou ao uso de tecnologias como laser ou
VASER.
CONCLUSÃO
Ainda não há evidência científica que comprove o benefício do uso de tecnologias na
lipoescultura. Destacam-se os benefícios do custo e acessibilidade da lipoescultura
com seringa, trazendo resultados satisfatórios com o treinamento e cuidados
adequados. Acreditamos que a lipoescultura com seringa deve ser incentivada,
principalmente no treinamento dos residentes e cirurgiões recém-formados, para
desenvolvimento da habilidade cirúrgica, ao menos até que os benefícios do uso
de
tecnologias sejam mais evidentes e cientificamente comprovados.
REFERÊNCIAS
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https://doi.org/10.1097/00006534-198311000-00001
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https://doi.org/10.1007/BF00636262
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1. Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre,
Independência, Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Universidade Federal de Ciencias da Saude de
Porto Alegre, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: Caroline Battisti, Av.
Independência, 75, Independência, Porto Alegre, RS, Brasil. CEP 90035-072.
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