INTRODUÇÃO
O crescente aumento da expectativa de vida mundial e a incessante busca por um
envelhecimento saudável, com melhora da autoestima e qualidade de vida, tem
resultado em uma procura cada vez maior por procedimentos de rejuvenescimento da
face. Na última década tem-se observado uma procura cada vez maior por tratamentos
complementares, como os preenchimentos, toxina botulínica, peeling,
dentre outros; devido às suas pequenas taxas de complicações, resultados mais
imediatos e tempo de recuperação mínimo. Todavia, a utilização de procedimentos
estéticos não cirúrgicos não pode e nem deve substituir a cirurgia, uma vez que
ambos apresentam particularidades nas suas indicações e vantagens distintas. Desta
forma, procedimentos cirúrgicos pouco invasivos, menos extensos, com tempo de
recuperação mais curto e minimização de complicações, têm atualmente sido mais
solicitados pelos pacientes candidatos à ritidoplastia facial.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é demonstrar uma abordagem na cirurgia da face, com conceitos
mais conservadores, porém que atenda e solucione de forma efetiva e duradoura as
solicitações dos pacientes, visando sempre um menor dano cirúrgico. Para isto
apresentaremos uma análise dos casos de 50 pacientes operados pela técnica de
ritidoplastia sem descolamento resultante, associada ao descolamento tunelizado do
retalho, utilizando divulsores bifacetados de Dilson Luz, para tratamento do
envelhecimento facial.
MÉTODO
Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e longitudinal; onde foram analisados
retrospectivamente os resultados obtidos com 50 pacientes operados pela técnica
proposta, entre 2005 e 2019.
Técnica cirúrgica
Todos os pacientes foram operados em centros cirúrgicos. Com o paciente em
decúbito dorsal horizontal após a realização da anestesia geral, é realizada a
infiltração local com solução padrão contendo lidocaína a 0,5% e adrenalina
1:200.000. Apenas quando indicado, inicia-se o procedimento com a lipoaspiração
para melhor definição do contorno mandibular, com a confecção de três incisões
para inserção da cânula de 2,0mm com dois furos unidirecionais, distribuídos em
região retroauricular, pré-auricular e submentoniana.
Após a lipoaspiração, são realizadas as incisões na pele contornando-se as
proeminências e chanfraduras das orelhas, com aprofundamento na região do
tragus, para torná-lo mais evidente e estendendo-se cerca de 4cm posteriormente
para a região capilar, unindo-se em uma linha imaginária horizontal na altura da
linha dos olhos. O descolamento inicial é realizado de forma mais tradicional
com tesoura, porém estende-se apenas em um raio máximo de quatro centímetros ao
redor da orelha. A seguir, o descolamento do retalho facial do segmento médio e
cérvico-mandibulares é realizado com divulsores bifacetados de números 1 e 2
(Figura 1), mantendo íntegra as
conexões vásculo-nervosas da pele com o plano subjacente, porém promovendo
grande mobilidade ao retalho devido à tunelização proporcionada pela passagem
dos divulsores (Figura 2). Quando indicada
a smasectomia pode ser realizada seguindo os conceitos da técnica convencional.
Após isto, é realizada a ressecção da pele excedente, sem tensão, a fim de
evitar retrações e cicatrizes hipertróficas.
Figura 1 - Descolamento tunelizado do retalho facial, utilizando dilatadores
bifacetados de Dilson Luz.
Figura 1 - Descolamento tunelizado do retalho facial, utilizando dilatadores
bifacetados de Dilson Luz.
Figura 2 - Aspecto final após o descolamento do retalho facial. Formação das
tunelizações e manutenção de trabéculas contendo as estruturas
vásculo-nervosas.
Figura 2 - Aspecto final após o descolamento do retalho facial. Formação das
tunelizações e manutenção de trabéculas contendo as estruturas
vásculo-nervosas.
Procedimentos complementares como blefaroplastias, lobuloplastias, rinoplastias e
autoenxertos de gordura quando indicados, podem ser realizados sem
restrições.
RESULTADOS
Foram operados pela técnica cirúrgica apresentada, 50 pacientes, no período de
janeiro de 2005 a maio de 2019. Destes pacientes 3 eram do sexo masculino e 2 eram
tabagistas. A idade média oscilou entre 47 e 66 anos, com média de 56,5 anos. O
tempo médio de transoperatório foi de 3 horas. Não foram observados casos de
paralisia de ramos do nervo facial, necrose ou infecção de pele. Desta forma,
observou-se que os pacientes submetidos à ritidoplastia sem descolamento resultante
apresentaram um menor tempo cirúrgico e uma melhor recuperação pós-operatória, com
menor tempo de internação e menores taxas de complicações.
A complicações observadas neste estudo, foram 2 casos de hematoma leve e 1 caso de
epidermólise leve em pele de região retroauricular em paciente tabagista. Nenhuma
das complicações citadas tiveram a necessidade de abordagem cirúrgica (Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens sequenciais em
visão frontal de pré-operatório, 1 mês de pós-operatório e 1 ano de
pós-operatório.
Figura 3 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens sequenciais em
visão frontal de pré-operatório, 1 mês de pós-operatório e 1 ano de
pós-operatório.
Figura 4 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens sequenciais em
visão de perfil direita de pré-operatório, 1 mês de pós-operatório e 1
ano de pós-operatório.
Figura 4 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens sequenciais em
visão de perfil direita de pré-operatório, 1 mês de pós-operatório e 1
ano de pós-operatório.
Observamos uma evolução pós-operatória mais confortável, com menor área de equimose
e
diminuição no período de edema. O retorno as atividades habituais variaram de 8 a
14
dias, com média de 11 dias. A sensibilidade em região pré-auricular foi percebida
em
torno do 14º dia de pós-operatório. Outro ponto destacado foi a preservação do
trofismo e da viscosidade da pele após o procedimento.
Notamos também uma boa preservação da satisfação das pacientes com o resultado
estético, com o seguimento de controle de 5 anos após o ato cirúrgico, conforme
exemplificado nas Figuras 5 e 6.
Figura 5 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens de pré-operatório
e 5 anos de pós-operatório.
Figura 5 - Ritidoplastia sem descolamento resultante. Imagens de pré-operatório
e 5 anos de pós-operatório.
FIGURA 6 - RITIDOPLASTIA SEM DESCOLAMENTO RESULTANTE. IMAGENS DE PRÉ-OPERATÓRIO
E 5 ANOS DE PÓS-OPERATÓRIO.
FIGURA 6 - RITIDOPLASTIA SEM DESCOLAMENTO RESULTANTE. IMAGENS DE PRÉ-OPERATÓRIO
E 5 ANOS DE PÓS-OPERATÓRIO.
DISCUSSÃO
A extensa procura e divulgação dos procedimentos de cosmiatria, tem revelado um
perfil crescente de pacientes que buscam resultados satisfatórios com técnicas cada
vez menos “agressivas” e menos invasivas. A proposta cirúrgica descrita vai ao
encontro desta tendência mundial por se tratar de uma técnica mais conservadora,
porém não limitar as abordagens complementares da ritidoplastia tradicional, pois
permite a tração e plicatura do SMAS e platisma, tratamento da cauda do supercílio,
lipoaspiração e/ou lipoenxertia, quando necessário.
Esta técnica se baseia no fato de o tecido subcutâneo facial ser dividido por septos
em subunidades que possuem irrigação e inervação independentes, sendo assim
importante, a conservação desta vascularização e inervação para uma perfeita
irrigação e sensibilidade da face no pós-operatório imediato. Desta forma, o
descolamento efetivo do retalho com o uso de divulsores, minimiza a ruptura
vásculo-nervosa e promove ampla mobilidade do retalho e diminuição efetiva do
sangramento e do sofrimento da pele.
CONCLUSÃO
A ritidoplastia sem descolamento resultante, destaca-se como uma opção reprodutível
no tratamento cirúrgico para o rejuvenescimento facial, com baixos índices de
complicações e resultados estéticos satisfatórios e duradouros. A técnica proposta
usa conceitos conservadores, com resultados naturais, além de permitir diminuir o
tempo cirúrgico, e proporcionar uma melhor recuperação com retorno precoce do
paciente ao convívio social e suas atividades laborais.
REFERÊNCIAS
1. Guimarães GCG, Guimarães MG. Ritidoplastia com tunelização associada
a lipoaspiração e descolamento reduzido. Rev Bras Cir Plást.
2017;32(4):472-9.
2. Daher M. Lipofacelift: plástica facial com descolamento mínimo da
pele. Rev Bras Cir Plást. 2009;24(4):479-87.
3. Menezes MVA, Abla LEF, Dutra LB, Junqueira AE, Ferreira LM.
Avaliação dos resultados do mini-lifting modificado: estudo prospectivo. Rev
Bras Cir Plást. 2010;25(2):285-90.
4. Luz DF, Wolfenson M, Figueiredo J, Didier JC. Full-face undermining
using progressive dilators. Aesthetic Plast Surg. 2005 Apr;29(2):95-9. DOI:
http://dx.doi.org/10.1007/s00266-003-0131-9
5. Saldanha OR, Azevedo SFD, Saldanha Filho OR, Saldanha CB, Chaves LO.
Ritidoplastia com descolamento composto. Rev Bras Cir Plást.
2010;25(1):135-40.
1. Universidade Federal do Ceará, Benfica,
Fortaleza, CE, Brasil.
2. Hospital Universitário Walter Cantídio, Rodolfo
Teófilo, Fortaleza, CE, Brasil.
Endereço Autor: Alana D’Avila Rebelo, Rua Prof.
Costa Mendes, 1608, 3º Andar, Bloco Didático, Rodolfo Teófilo, Fortaleza, CE,
Brasil. CEP: 60430140. E-mail: Alanads@hotmail.com