ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175
Incisão periareolar em zigue-zague para tratamento de ginecomastias
Periareolar zigzag incision as treatment for gynecomastia
Ideas and Innovation -
Year2017 -
Volume32 -
Issue
4
André Luiz Bilieri Pazio1; João Guilherme Cavalcanti Krieger2; William Massami Itikawa1; Priscila Balbinot1; Adriana Sayuru Kurogi Ascenço1; Renato da Silva Freitas1; Ruth Graf1
http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2017RBCP0093
RESUMO
INTRODUÇÃO: Ginecomastia é a hipertrofia e hiperplasia benigna da mama masculina. Representa a condição benigna mais frequente da mama masculina. O objetivo é avaliar os resultados estéticos, e satisfação dos pacientes submetidos a uma nova abordagem para o tratamento da ginecomastia, com incisão periareolar em zigue-zague.
MÉTODOS: Apresentamos uma casuística de 13 casos de ginecomastia tratados com a técnica periareolar em zigue-zague.
RESULTADOS: Todos os pacientes ficaram satisfeitos com a cicatriz camuflada na transição, naturalmente irregular, da pele periareolar com o complexo aréolo mamilar. Não houve complicações na série descrita.
CONCLUSÃO: A abordagem descrita é uma excelente alternativa para o tratamento das ginecomatias. Proporciona um resultado estético satisfatório, é de fácil execução e tem a vantagem de não deixar estigmas na mama masculina operada.
Palavras-chave:
Ginecomastia; Hipertrofia; Hiperplasia; Cicatriz.
ABSTRACT
INTRODUCTION: Gynecomastia is a benign hypertrophy and hyperplasia of the male mammary gland, and is considered the most frequent benign condition of the male breast. The objective is to evaluate aesthetic results and satisfaction of patients undergoing a new approach using a periareolar zigzag incision for the treatment of gynecomastia.
METHODS: We present 13 cases of male gynecomastia treated with a periareolar zigzag incision technique.
RESULTS: All patients were satisfied with the scar hidden in the transitional, naturally irregular periareolar skin of the nipple-areolar complex. No complications were observed in this patient series.
CONCLUSION: This approach is an excellent, easy-to-perform surgical alternative for the treatment of gynecomastia, providing a satisfactory cosmetic result without the presence of a stigmatizing scar.
Keywords:
Gynecomastia; Hypertrophy; Hyperplasia; Cicatrix.
INTRODUÇÃO
Entende-se por ginecomastia a hipertrofia e hiperplasia benigna da glândula mamária masculina1. Galeno foi o primeiro a utilizar o termo ginecomastia, cuja tradução do grego significa "apresentando mama como mulher" (gineco = mulher, mastia = mama). Representa a condição benigna mais frequente da mama masculina2.
Na maioria dos casos, é um processo bilateral, entretanto, pode ser unilateral em 20% dos casos3. Geralmente, sua forma é arredondada, de volume variável, normalmente subareolar, às vezes, dolorosa, frequentemente concêntrica4. Salvo as ginecomastias dos períodos neonatal, puberal e senil, que são consideradas fisiológicas, o aumento da mama no sexo masculino é patológico5.
É causada por alterações na relação hormonal estrogênio/androgênio, sejam elas fisiológicas, idiopáticas (maioria), secundárias a endocrinopatias, ingestão de substâncias ou medicamentos esteroides. A incidência entre adolescentes de 14 a 15 anos chega a 65%. Em adultos, a prevalência chega a 32%, crescendo para 40 a 60% após a andropausa6,7.
Seu tratamento é indicado quando causa dor, constrangimento ou desconforto emocional8. As opções de tratamento são o medicamentoso e o cirúrgico, sendo este último indicado quando a ginecomastia é de causa idiopática e não apresenta regressão em 2 anos de evolução9.
A ressecção direta do tecido glandular por abordagem periareolar ou transareolar, com ou sem lipoaspiração, é uma das alternativas mais comuns para correção cirúrgica2. O objetivo do tratamento cirúrgico é a ressecção do tecido mamário anômalo e a restauração do contorno da mama masculina, com cicatriz mínima, sem deformidade residual e sem sofrimento do complexo areolopapilar (CAP)9.
Simon et al., em 1973, publicaram uma classificação que, devido a sua correlação clínico-cirúrgica, é a mais utilizada na literatura mundial (Quadro 1)10.
Esse trabalho apresenta uma técnica alternativa para tratamento da ginecomastia grau I e IIA de Simon, principalmente, através de uma incisão irregular em zigue-zague na região periareolar inferior.
OBJETIVO
Descrever a técnica, analisar os resultados cirúrgicos e a satisfação dos pacientes submetidos a uma nova abordagem para o tratamento da ginecomastia, com incisão periareolar em zigue-zague.
MATERIAL E MÉTODOS
No período de janeiro de 2008 a fevereiro de 2013, foram operados pela equipe de Cirurgia Plástica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná 13 pacientes com ginecomastia de origem idiopática, graus I e IIb de Simon, com mais de 2 anos de evolução e com avaliação da equipe de Endocrinologia do mesmo hospital. Todos foram submetidos à correção cirúrgica pela técnica apresentada neste trabalho. Foram excluídos os pacientes sem avaliação endocrinológica, de causa não idiopática e com ginecomastia grau IIb e III de Simon.
Foi realizada uma técnica modificada de incisão periareolar em zigue-zague conforme descrição da técnica cirúrgica.
Os pacientes foram acompanhados no pós-operatório e ao final de 6 meses realizou-se avaliação clínica da cicatriz pela equipe assistente e aplicou-se um questionário de satisfação quanto aos aspectos: naturalidade, aspecto da cicatriz (escore de 1-10) e satisfação com os resultados (Quadro 2).
O estudo foi revisado e aprovado pelo Comitê de Ética da Graf Plastic Surgery -EPP INSTITUTION.
Técnica cirúrgica
Marcações pré-operatórios são realizadas com os pacientes na posição em pé. Marca-se a incisão periareolar geométrica, em zigue-zague, no semicírculo inferior da aréola, tomando-se o cuidado para a marcação não se estender para a pele adjacente ao complexo areolomamilar (Figuras 1 e 2).
Figura 1. Marcações. É importante marcar as extremidades da incisão em ziguezague nas posições 3 e 9 horas, com o término do ziguezague em cada extremidade terminando no interior, em direção ao complexo areolopapilar, para evitar danos inadvertidos à pele à volta da aréola durante a ressecção.
Figura 2. A: Marcações pré-operatórias;
B: Marcações pré-operatórias (grande plano).
Quanto menores as formas geométricas, mais camuflada ficará a cicatriz. Outro detalhe importante da marcação é o término da incisão em zigue-zague, às 3 horas e às 9 horas, voltado para o complexo areolomamilar para evitar possíveis danos à pele ao redor da aréola durante o afastamento. Assim, possíveis ampliações acidentais da incisão devido ao afastamento ficarão restritas à pele da aréola que podem ser mais facilmente camufladas.
Após a preparação da infiltração da pele com bupivacaína e adrenalina, a incisão é realizada completamente através da derme e tecido subcutâneo. O excesso de tecido mamário é dissecado, mantendo aproximadamente 1 cm de espessura de tecido abaixo do complexo areolopapilar. Após hemostasia adequada, a incisão é fechada em três planos. O primeiro plano de pontos aproxima o tecido subcutâneo. Em seguida, fecha-se a derme e a epiderme. Os picos e depressões da linha em zigue-zague em cada lado são fechados com pontos de Guillies, com fio mononylon 5,0.
Lipoaspiração pode ser associada em casos selecionados, imediatamente antes da ressecção cirúrgica da glândula mamária.
Não foi realizada drenagem de rotina. Os pacientes são orientados a restringir os movimentos dos braços nos primeiros 7 dias e utilizar cinta compressiva por 30 dias.
RESULTADOS
Não houve complicações como infecção, sofrimento do complexo areolopapilar, atraso na cicatrização, cicatrizes hipertróficas, alterações de pigmentação ou retrações na nossa série.
Todos os pacientes mostraram-se satisfeitos com a naturalidade e o resultado estético. A média de nota atribuída ao aspecto da cicatriz foi 9,03, calculada por média aritmética (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Figura 3. Questionário satisfação dos pacientes.
Figura 4. A: Pré-operatório;
B: Pós-operatório três meses;
C: Pós-operatório três meses (grande plano).
Figura 5. A: Pré-operatório;
B: Pós-operatório três meses.
Figura 6. A: Pré-operatório (ginecomastia grau I);
B: Pós-operatório três meses;
C: Pós-operatório três meses (grande plano).
DISCUSSÃO
Além da escolha da abordagem cirúrgica, é importante mencionar alguns princípios básicos relacionados à cicatrização. Em determinadas situações, apesar dos esforços para otimizar a cicatrização de feridas, cicatrizes inestéticas ainda podem se desenvolver11.
É importante mencionar que a cicatrização de feridas é um processo dinâmico, que sofre numerosas transformações antes de atingir um estado estacionário em cerca de 1 ano após a lesão tecidual. A cicatriz ideal deve ser estreita e plana com a pele circundante, ter boa coloração correspondente, e estar dentro ou em paralelo com as linhas de tensão da pele. Estas características tornam uma cicatriz menos visível. Portanto, técnicas que quebram ou fazem a linha da cicatriz irregular proporcionam uma maior camuflagem11.
A qualidade da incisão deve ter como objetivo diminuir os sinais de que um paciente foi submetido a uma cirurgia. Melhor qualidade da incisão ajuda o paciente a aceitar mais facilmente o resultado cirúrgico12.
Os resultados do presente trabalho corroboram com dados de literatura quanto aos índices satisfatórios de complicações. Dornelas et al.13, em uma revisão de 10 anos de tratamento de ginecomastia em 284 homens, obtiveram 0,74% de cicatriz hipertrófica nos pacientes com ginecomastia graus I ou II; hematomas foram desenvolvidos em 2% dos pacientes e seroma 3,87%. Medeiros14, ao comparar o tipo de tratamento de ginecomastia em relação à classificação de Simon, demonstrou que melhores resultados foram obtidos utilizando incisão periareolar inferior, quando a ginecomastia não necessitou de ressecção de pele.
Até o momento, as técnicas descritas para incisão em zigue-zague semicircular foram descritas e difundidas principalmente para mamoplastias de aumento15. Essa modificação para casos de ginecomastias tem nos permitido resultados mais satisfatórios, com cicatrizes praticamente imperceptíveis.
O objetivo da técnica é conseguir uma cicatriz irregular que pareça mais natural, sem deixar estigmas na mama masculina operada.
CONCLUSÃO
A incisão periareolar em ziguezague para tratamento de ginecomastia é uma alternativa segura, de fácil execução e que proporciona um resultado estético satisfatório, com cicatriz camuflada na transição, naturalmente irregular, da pele periareolar com o complexo aréolo mamilar.
COLABORAÇÕES
ALBP Análise estatística; análise e/ou interpretação dos dados; redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
JGCK Análise estatística; redação do manuscrito ou revisão crítica de seu conteúdo.
WMI Análise e/ou interpretação dos dados; realização das operações e/ou experimentos.
PB Análise e/ou interpretação dos dados; realização das operações e/ou experimentos.
ASKA Análise e/ou interpretação dos dados; realização das operações e/ou experimentos.
RSF Aprovação final do manuscrito.
RG Concepção e desenho do estudo; aprovação final do manuscrito; realização das operações e/ou experimentos.
REFERÊNCIAS
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1. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil
2. Hospital Municipal São José, Joinville, SC, Brasil
Instituição: Hospital de Clínicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
Autor correspondente:
André Luiz Bilieri Pazio
Rua General Carneiro, 181
Curitiba, PR, Brasil - CEP 80060-900
E-mail: drandrepazio@gmail.com
Artigo submetido: 8/9/2014.
Artigo aceito: 23/9/2017.
Conflitos de interesse: não há.
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