INTRODUÇÃO
Desde o primeiro relato de gluteoplastia de aumento por Bartels et
al., em 19691, utilizando
implantes mamários para correção de deformidade glútea, muitos avanços surgiram
neste campo da cirurgia plástica. Recentemente, com a popularização das diversas
técnicas de gluteoplastia e com o incremento no número de pacientes procurando este
tipo de procedimento, ocorreu um aumento considerável na incidência de complicações
envolvendo o implante de glúteo2.
As complicações mais frequentes são seroma, deiscência de ferida operatória,
infecção, hematoma, assimetria, dor crônica e deslocamento dos implantes. O
diagnóstico e tratamento destas complicações podem ser desafiadores para os
cirurgiões plásticos.
OBJETIVO
Tendo em vista os relatos de colegas cirurgiões que encontraram dificuldades na
condução de casos de complicações de gluteoplastias, desenvolvemos este artigo com
o
propósito de apresentar, de forma sucinta, uma revisão sobre as principais
patologias que podem ser encontradas no pós-operatório recente ou tardio de
cirurgias para implante de próteses glúteas.
MÉTODO
Deiscência de ferida operatória
Dentre as diversas complicações encontradas no pós-operatório das gluteoplastias
de aumento, as mais frequentemente encontradas são as deiscências de ferida
operatória e seromas (Figuras 1 e 2)3,4. A alta
prevalência destas complicações se deve, principalmente, ao posicionamento de
ferida cirúrgica numa região de dobra cutânea constantemente submetida à tensão
e forças de cisalhamento entre os planos profundos fixos e os planos
superficiais móveis.
Figura 1 - Deiscência parcial de ferida operatória.
Figura 1 - Deiscência parcial de ferida operatória.
Figura 2 - Deiscência total de ferida operatória.
Figura 2 - Deiscência total de ferida operatória.
Algumas mudanças na técnica cirúrgica da gluteoplastia de aumento foram
introduzidas com o propósito de prevenir este tipo de complicação3. Dentre as diversas alterações técnicas
sugeridas, a diminuição das dimensões do túnel subcutâneo dissecado para
introdução das próteses de silicone, a realização de pontos de adesão em
subcutâneo e a preservação da vascularização dos retalhos dermogordurosos
apresentaram os melhores resultados em estudos conduzidos pelos autores3,5.
Posicionamento da cicatriz
Deve-se prestar bastante atenção no planejamento da posição da incisão cutânea. O
correto posicionamento da incisão no sulco interglúteo3,6 em
posição mediana leva à uma cicatriz minimamente perceptível e agradável do ponto
de vista estético.
Seromas
Os seromas são complicações relativamente comuns que devem ser tratadas por
punção guiada por ultrassonografia ou tomografia5. Vale salienta a importância da dissecção do menor túnel
subcutâneo possível para a introdução da prótese glútea e a confecção de pontos
de adesão na prevenção da formação de seromas.
Em casos de seroma intracapsular recidivado devemos suspeitar de infecção por
micobactérias, e seguir os protocolos diagnóstico e terapêutico.
Assimetrias
As assimetrias em gluteoplastias são complicações que podem causar grande
incômodo tanto para o paciente quanto para o cirurgião. Geralmente, a assimetria
é decorrente do deslocamento da prótese glútea, total ou parcialmente, do plano
intramuscular4,6.
O deslocamento da prótese de sua loja intramuscular deve ser suspeitado durante o
exame físico. A conduta, nesses casos, deve ser guiada pela tomografia
computadorizada em decúbito ventral, onde se identifica o posicionamento da
prótese glútea e é feita medida da espessura do músculo glúteo máximo da
paciente (Figuras 3 e 4). Nos casos onde o músculo apresenta espessura maior que 2
cm, a resolução pode ser feita em um único tempo cirúrgico, onde se confecciona
uma nova loja intramuscular. Naquelas pacientes onde o músculo glúteo máximo
apresenta espessura menor que 2 cm, a correção deve ser feita em dois tempos
cirúrgicos, sendo o primeiro para retirada da prótese glútea e um segundo tempo,
realizado após um intervalo de 4 a 6 meses, no qual se confecciona uma nova loja
intramuscular.
Figura 3 - TC – medida da espessura muscular (> 2 cm).
Figura 3 - TC – medida da espessura muscular (> 2 cm).
Figura 4 - TC – medida da espessura muscular (< 2 cm).
Figura 4 - TC – medida da espessura muscular (< 2 cm).
Outros aspectos importantes na prevenção das assimetrias são a escolha correta do
tipo e volume das próteses. Lembrando que as próteses texturizadas não devem ser
utilizadas nas gluteoplastias de aumento, devido ao risco elevado de seroma
intracapsular e deformidade no pós-operatório. Quanto à escolha do volume das
próteses, aquelas de grande volume estão mais propensas a deslocamento da loja
intramuscular levando à assimetria.
Infecções
As infecções de ferida operatória, comprometendo planos superficiais sem afetar a
loja intramuscular, podem ser conduzidas de forma conservadora com drenagem e
antibioticoterapia. No entanto, os quadros infecciosos envolvendo o leito dos
implantes devem ser tratados com a remoção das próteses, lavagem da cavidade,
drenagem e antibioticoterapia.
Naqueles casos envolvendo complicações crônicas como seromas recidivados,
fístulas e inflamação prolongada, devemos suspeitar de infecção por
micobactérias. Infecções por esses agentes etiológicos também devem ser tratadas
com a retirada das próteses.
Nesses casos, gluteoplastias de aumento secundárias devem respeitar o intervalo
mínimo de 4 a 6 meses.
Fístulas
Seromas e infecções podem evoluir com fistulização para a pele. Estas
complicações devem ser avaliadas com tomografia computadorizada e ressonância
magnética para melhor definição do trajeto fistuloso. O estudo radiológico não
só define o diagnóstico da patologia e sua extensão, como também orienta a
ressecção cirúrgica de toda fístula.
Materiais aloplásticos
A injeção de material aloplástico, como o polimetilmetacrilato (PMMA) e o
silicone líquido, nos glúteos pode levar a um vasto espectro de complicações. As
pacientes que se submetem a este tipo de procedimento, geralmente executados em
clínicas clandestinas, procuram o cirurgião plástico em vigência de quadros
infecciosos ou para tratamento de suas sequelas.
Nesses casos, o tratamento indicado é a exérese direta do material injetado
seguido de um lifting glúteo para correção da deformidade, após
debelado qualquer possível quadro infeccioso associado.
Retrações glúteas
As retrações glúteas (Figura 4) podem ser
classificadas, dependendo do plano comprometido, em subcutâneas, fasciais,
musculares ou mistas. Seu tratamento se baseia na lise das trabéculas (Figuras 5 e 6) responsáveis pela retração cutânea. Este procedimento deve ser
executando durante a realização da gluteoplastia de aumento.
Figura 5 - Aderência musculocutânea.
Figura 5 - Aderência musculocutânea.
Figura 6 - Aspecto após lise da aderência.
Figura 6 - Aspecto após lise da aderência.
CONCLUSÃO
A gluteoplastia de aumento deve ser realizada por cirurgiões com experiência no tema.
A maior parte das complicações advém do ato cirúrgico e podem ser evitadas. Quando
presentes, estas possuem tratamento conservador na maioria dos casos3.
REFERÊNCIAS
1. Bartels RJ, O'Malley JE, Douglas WM, Wilson RG . An unusual use of
the Cronin breast prothesis: case report. Plast Reconstr Surg. 1969;
44:500.
2. Gonzalez-Ulloa M. Gluteoplasty: a ten-year report. Aesthetic Plast
Surg. 1991; 15:85-91.
3. Serra F, Aboudib JH, Marques RG. Reducing wound complications in
gluteal augmentation surgery. Plast Reconstr Surg. 2012;
130(5):706e-13e.
4. Serra F, Aboudib JH, Marques RG. Intramuscular technique for gluteal
augmentation: determination and quantification of muscle atrophy and implant
position by computed tomographic scan. Plast Reconstr Surg. 2013;
131:253e-9e.
5. Baroudi R, Ferreira CA. Seroma: how to avoid it and how to treat it.
Aesthetic Surg J. 1998; 18:439-41.
6. Serra F, Aboudib JH, Cedrola JP, de Castro CC. Gluteoplasty:
anatomic basis and technique. Aesthet Surg J. 2010; 30:579-92.
1. Hospital Universitário Pedro Ernesto, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
2. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil.
Endereço Autor: Bruno Antônio Bezerra
Barreto Av. Afonso Arinos de Melo Franco, 191, Apto. 1214 - Barra da
Tijuca - Rio de Janeiro, RJ, Brasil CEP 22631-455 E-mail:
bruno.a.b.barreto@gmail.com