INTRODUÇÃO
Com o passar do tempo, o parênquima mamário torna-se móvel, o tecido glandular
atrofia e é substituído por tecido adiposo, a pele fica mais flácida e as estruturas
de apoio perdem sua elasticidade favorecendo a ação da gravidade, resultando em uma
mama disforme, caída e inestética.
Por isso, inúmeras técnicas de mamoplastia redutora foram criadas para melhorar
esteticamente o aspecto das mamas. Em 1956 Wise1 inaugurou a era moderna da redução de mama instituindo uma marcação
pré-determinada para mamoplastias, seguido de Pitanguy2, em 1961, que mostrou a necessidade de uma marcação pré-operatória
individualizada de acordo com a deformidade da mama e permitiu grandes reduções
mamárias com ressecção do parênquima em quilha de navio e aproximação dos pilares
restantes reformulando o cone mamário.
A partir dessas, surgiram técnicas de mastopexia, que ao invés de grandes reduções
tinham como objetivo a readequação do conteúdo mamário no seu continente. A
mastopexia bem-sucedida requer redução do envelope cutâneo, redistribuição do
parênquima e sua fixação à parede torácica3,
remodelando a mama e restaurando o seu padrão jovial. Alguns critérios devem ser
satisfeitos, como forma cônica da mama, complexo aréolo-mamilar no ápice do cone,
cicatrizes aceitáveis, ptose não recorrente e manutenção da sensibilidade1. Existem inúmeras técnicas que visam preencher
esses critérios, desde que Strombeck4 iniciou
o reposicionamento parenquimatoso da mama, seguido de Dufourmentel e Mouly5 que realizaram o reposicionamento rotacional
de um retalho do parênquima com a ideia de reconstruir o cone mamário. Autores
brasileiros como Sperli6, Hamke7 e Miró8
aprimoraram a técnica de mastopexia com entrecruzamento de retalhos formando uma
mama com cone estável e de boa consistência8.
OBJETIVO
O objetivo do trabalho é descrever a técnica de mastopexia com retalhos cruzados como
uma opção para o tratamento das ptoses mamárias.
MÉTODO
Dentre as mastopexias realizadas em nosso Serviço de Residência Médica, utilizamos
a
técnica dos retalhos cruzados em alguns casos de ptoses e ptoses associadas a
pequenas hipertrofias após o exame físico.
As pacientes foram submetidas a anestesia geral ou peridural mais infiltração local
e
a marcação cirúrgica seguiu os princípios de Pitanguy2.
Após marcação do complexo aréolo-mamilar foi realizada a desepidermização periareolar
(entre os pontos A, B e C) e a ressecção da pele de toda a área demarcada pode ser
feita nesse momento ou após montagem da mama se houver alguma dúvida quanto à
marcação6. Seguimos então com o
descolamento da base da mama da aponeurose do músculo peitoral a partir do sulco
submamário e dois retalhos de pedículo superior, um medial e um lateral, são
formados a partir da bipartição do polo inferior (Figura 1).
Figura 1 - Retalhos de pedículo superior bipartidos.
Figura 1 - Retalhos de pedículo superior bipartidos.
Quando há necessidade de redução do volume mamário, ressecamos as extremidades
inferiores desses retalhos.
Os retalhos são liberados da pele nos pontos B e C para permitir melhor rotação e
são
então suturados na aponeurose muscular de forma que a ponta do retalho que rodou
primeiro é suturada na base superior interna do segundo, e o segundo suturado na
base superior externa do primeiro formando o cone mamário6 (Figura 2). As bordas
inferiores são suturadas também à parede torácica para preenchimento do espaço, e
por fim fazemos o remodelamento e acomodação da pele. São utilizadas suturas com
náilon e monocryl.
Figura 2 - Cruzamento dos retalhos.
Figura 2 - Cruzamento dos retalhos.
RESULTADOS
A técnica dos retalhos cruzados foi utilizada especificamente em pacientes que
desejavam correção da ptose sem utilização de implantes mamários, em casos de ptose
grau I ou II pela classificação de Regnault9
(associada ou não a grande perda ponderal), e em um caso de siliconoma após injeção
de silicone industrial.
As complicações pós-operatórias foram similares às observadas em outras técnicas de
mastopexia como pequena deiscência do T ou da incisão vertical, tratadas com
curativo local e rifocina spray, discreta assimetria mamária, ou de cicatrizes ou
de
aréolas, corrigidas com pequenos procedimentos. Não foram observados hematoma,
necrose do complexo aréolo-mamilar ou infecção.
As pacientes se mantiveram satisfeitas quanto a forma e volume das mamas no período
pós-operatório atendendo as expectativas pré-operatórias.
As Figuras 3 e 5 mostram comparações do período pré e pós-operatório.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de seis meses.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de seis meses.
Figura 4 - Paciente com siliconoma no pré-operatório e pós-operatório de dois
anos e meio.
Figura 4 - Paciente com siliconoma no pré-operatório e pós-operatório de dois
anos e meio.
DISCUSSÃO
O tratamento das ptoses mamárias se desenvolveu a partir de procedimentos de
mamoplastias redutoras trocando ressecções consideráveis pela remodelagem e
reposicionamento do parênquima e da pele, e desde então inúmeras técnicas são
utilizadas dependendo do grau de ptose e da experiência do cirurgião, permitindo
satisfazer pacientes com necessidades variadas.
Em nosso Serviço de Residência Médica utilizamos técnicas como Pitanguy, pedículo
superior com retalho de Lyacir tipo I, pedículo superomedial, pedículo inferior e
pedículo superior com retalhos cruzados, escolhidas por meio do planejamento
cirúrgico após exame físico da paciente.
A mastopexia é mais efetiva quando realizada com transposição do parênquima do polo
inferior para o polo superior realocando o conteúdo mamário e formando um volume
suficiente para produzir um cone sem a necessidade de um implante de silicone3. É o princípio utilizado por nossa equipe ao
planejar uma mastopexia com retalhos cruzados nas ptoses puras ou associadas a
pequenas hipertrofias, no qual a transposição dos retalhos remodela o parênquima
mamário transportando o conteúdo do polo inferior para superior e suturando os
pedículos na fáscia muscular, formando uma cinta de sustentação.
Concordamos com Ship3, quando diz que essa
técnica também é valiosa para o resgate de mamas deformadas por procedimentos
anteriores, sendo que utilizamos os retalhos cruzados para reconstruir uma mama após
ressecção de siliconoma por injeção de silicone industrial.
As principais vantagens dessa técnica de mastopexia são a remodelação glandular,
estreitamento da base e melhora da projeção da mama10.
Segundo Karoschitz11, mamas em que o
componente glandular predomina sobre o tecido adiposo alcançam melhores resultados
em termos de forma da mama, oferecendo maior suporte e projeção.
Essa e outras técnicas mostram que é possível realizar uma mastopexia sem uso
auxiliar de implantes mamários, desde que seja reconstruída a arquitetura
parenquimatosa projetando um modo de suporte para que sejam diminuídos os efeitos
da
gravidade.
CONCLUSÃO
Apesar de existirem inúmeras técnicas de mastopexia com bons resultados no
pós-operatório, a técnica dos retalhos cruzados é de fácil reprodução, inclusive em
Serviços de Residência Médica, e representa mais uma opção de mastopexia que se bem
indicada traz excelentes resultados em curto e médio prazo.
O entrecruzamento dos retalhos fornece uma nova projeção até mesmo a uma mama
achatada e vazia11, e forma uma alça de
sustentação no polo inferior que, segundo Miró,8 vem a impedir uma grande mobilização desse segmento.
Concluímos que é necessária a avaliação adequada do parênquima mamário de cada
paciente para que a melhor abordagem seja selecionada, levando a um resultado
duradouro11.
REFERÊNCIAS
1. Wise RJ. A preliminary report on a method of planning the
mammaplasty. Plast Reconstr Surg. 1956; 17:367-75. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-195605000-00004
2. Pitanguy I. Surgical treatment of breast hypertrophy. Br J Plast
Surg. 1967 jan; 20(1):78-85. PMID: 5339723
3. Ship AG, et al. Dual-pedicle dermoparenchymal mastopexy. Plast
Reconstr Surg. 1989; 83(2):281-90. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-198902000-00014
4. Strombeck JO. Mammaplasty: Report of a new technique based on the
two-pedicle procedure. Br J Plast Surg. 1961; 13:79. DOI: https://doi.org/10.1016/S0007-1226(60)80014-8
5. Dufourmentel C, Mouly R. Modification of "periwinkleshell operation"
for small ptotic breats. Plast Reconstr Surg. 1968; 41:523.
6. Sperli A. Mastoplastia pela técnica dos retalhos cruzados. Rev Soc
Bras Cir Plast. 1994; 42-4.
7. Hakme F, Gomes Filho BS, Muller PM, Sjostedt C. Técnica em "L" nas
ptoses mamárias com confecção de retalhos cruzados. Ver Bras Cir. 1983;
73:87-91.
8. Miró AL. Tratamento das ptoses mamárias com retalhos cruzados sem
prévia ressecção de pele. Ver Bras Cir Plást. 2000; 15(1):32-4.
9. Higdon KK, Grotting JC. Mastopexia. In: Neligan PC. Cirurgia
Plástica. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015. p. 119-51.
10. Schonauer F, Marlino S, Molea G. Criss Cross Mastopexy. J Plast
Reconstr Aesthet Surg. 2011; 64(1):e24-e5. doi:10.1016/j.bjps.2010.08.018. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.bjps.2010.08.018
11. Karoschitz SA. A new technique for mastopexy and reconstruction
mammaplasty: The Rolling bilateral flap technique. Adv Breast Cancer Res. 2016;
5:74-82. DOI: https://doi.org/10.4236/abcr.2016.52008
1. Hospital Universitário Cajuru, Curitiba, PR,
Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Paraná, PR, Brasil.
Endereço Autor: Leilane Droppa Appel
Avenida São José, 300 - Cristo Rei, Curitiba, PR, Brasil CEP 80.050-350.;
E-mail: ledroppa@yahoo.com.br