INTRODUÇÃO
A lipoenxertia mamária ganhou popularidade com a demonstração de sua segurança e
eficácia1. No entanto, o aumento primário
da mama com gordura é limitado em pacientes que desejam um aumento pequeno no
volume2. Apesar de meio século de avanços
tecnológicos, a taxa de revisão dos implantes mamários permanece alta, 24% aos 4
anos e 36% aos 10 anos3. Muitas revisões são
realizadas devido a problemas relacionados à cobertura do implante e não a falhas
relacionadas ao implante. As necessidades de reoperação na maioria das vezes são
secundárias a contratura capsular e cobertura inadequada, às vezes causando
visibilidade do implante, rippling. Uma das principais desvantagens
dos implantes mamários é sua aparência não natural quando o volume do tecido está
desequilibrado com o volume do implante4. O
aumento de mama composto, implante mamário mais enxerto de gordura, atinge uma maior
projeção mamária, mas devido ao enxerto de gordura na porção medial e superior,
resulta em uma forma anatômica mamária, mesmo com implantes redondos acima do
músculo e camufla as bordas do implante, reduzindo o risco posterior de
rippling4,5.
A lipoenxertia mamária foi recebida com maior entusiasmo desde 2008, quando a
moratória da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos de 1987 foi revertida6. Esse evento permitiu que os cirurgiões
passassem a conseguir planejar e tratar defeitos de partes moles mamárias, sem
necessidade de retalhos7-10. Embora muito desse trabalho inicial com a
gordura tenha se concentrado no aprimoramento do volume mamário, há uma limitação
natural à projeção alcançada apenas com a gordura, devido à sua natureza de baixa
coesividade. Fazendo a analogia com as “montanhas de areia”, não se consegue a
projeção da mama igual à utilização do implante e, ainda, com o aumento do volume
somente com enxerto de gordura, acaba por aumentar a base mamária4. Por meio da mamoplastia de aumento composta
se consegue manter uma forma anatômica da mama, mesmo evitando o plano submuscular
ou duplo plano, assim minimizando uma fonte maior de dor pós-operatória e risco de
animação ao contrair o músculo peitoral maior. Essa técnica trata eficientemente a
assimetria mamária, as malformações do tórax e melhora o aspecto artificial do
implante redondo em pacientes com pouca cobertura na porção medial da mama quando
colocados em plano supramuscular. No entanto, a principal crítica dessa técnica é
a
falta de uma revisão de longo prazo da estabilidade da gordura e dos resultados
estéticos2.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é descrever a sequência de planejamento e técnica cirúrgica
da equipe na mamoplastia de aumento composta, focando em minimizar complicações
pós-operatórias.
MÉTODO
Uma coorte retrospectiva entre 2017 e 2018 descrevendo a sequência de planejamento
e
execução de mamoplastia de aumento composta.
Planejamento do implante mamário: após ser definida a base mamária da
paciente, é discutido com ela por meio de imagens 3D de mamas com implante anatômico
e redondo qual formato de mama ela deseja, se a mesma prefere mamas com maior
projeção do polo superior ou se prefere um perfil natural. Por meio dessas
informações definimos o volume e projeção do implante. Iniciamos a marcação
delimitando a linha média e transição do esterno com implantação da mama no tórax,
deixando uma área de segurança sem descolamento de 1-1,5 cm de cada lado a partir
da
linha média. Com a paciente com os braços levantados em 45 graus se avalia a posição
que ficará a papila após a colocação do implante como descrito por Heden11; assim demarcamos 55% do diâmetro do
implante abaixo da papila e 45% acima12. A
incisão no sulco é de 4 cm, 1,5 cm para medial, 2,5 cm para lateral.
Planejamento do enxerto de gordura mamário: acima do limite superior
marcado do final do implante é adicionado um descolamento superior de 2-3 cm para
melhor acomodação do implante na loja, e então é realizada uma nova marca de 3-5 cm
no seu maior comprimento, área em que será realizado o enxerto de gordura com a
intensão de dar uma maior altura para “o implante”, transformando-o em uma forma
anatômica, além de uma melhor cobertura na porção medial da mama para reduzir a
distância intermamária e o risco de rippling, em formato crescente
o ponto mais baixo inicia na linha axilar anterior e finaliza na linha da papila na
lateral do osso esterno ipsilateral.
Retirada do enxerto: áreas preferidas são a infraumbilical, flancos,
culote e porção interna das coxas. Uma solução 1:300.000 associada a anestésico
local é infiltrada na proporção de 1:1. Lipoaspiração a 300 mmHg com cânula de 2 mm
com 12 furos de 2 mm13.
Preparo: utilizamos de preferência o sistema Puregraft, quando não
disponível centrifugação manual em um sistema fechado por 5 minutos.
Enxertia: seguimos as técnicas fundamentadas pelos estudos de Rubin, que
descrevem que o maior diâmetro de cânula para enxertia com risco baixo de necrose
central é 1,6 mm14. Nos estudos de Khouri,
aplica-se a gordura no subcutâneo em leque, fazendo trajetos com seringa de 3 mL,
percorrendo 4 cm por passada para reduzir ao máximo a possibilidade de necrose
central. No transcorrer da enxertia avaliamos a tensão do envelope mamário15. Se possível, realizamos uma hipercorreção
de 25-30% do volume que julgamos ideal, já adequando aos 25-30% de reabsorção tardia
de média com esse sistema16.
Técnica cirúrgica: infiltração ao redor da área planejada para
descolamento. Colocação de Tegaderm no complexo areolopapilar para proteção de
contaminação. Incisão no sulco mamário com preservação de um pequeno retalho de
Scarpa. Descolamento subfascial com cautério, preciso medial e lateral, justo para
o
diâmetro do implante; na porção cranial são descolados 3-5 cm para melhor acomodação
do implante na loja mamária. Enquanto o cirurgião principal realiza o descolamento
da loja mamária, o auxiliar realiza a lipoaspiração e preparo da gordura. Lavamos
a
loja com solução baseada na de Adams17, porém
sem bacitracina por não ser disponível no nosso meio. Sempre que possível utilizamos
Keller Funnel; e quando não é viável limpamos a incisão com Clorexidine aquoso antes
da colocação do implante. Com Mononylon 3.0 realizamos 3-5 pontos fixando o retalho
de Scarpa ao músculo peitoral ou reto abdominal dependo da altura do sulco e sua
relação com a musculatura. Após, é realizado fechamento em 3 planos.
Avaliação dos resultados: os casos foram avaliados por meio de revisão
de prontuário e fotos de pós-operatório com no mínimo 6 meses.
RESULTADOS
Foram revisadas as fotos e prontuários entre 2017 e 2018 resultando em 38 mamas
operadas por meio da técnica de mamoplastia de aumento composta. Não ocorreram
complicações nos casos avaliados. Pela avaliação fotográfica se evidenciou resultado
estético adequado. Mamas com formato anatômico e adequada projeção (Figura 1 e 2).
Figura 1 - Mamoplastia de aumento composta. Impante mamário, 275 mL, bilateral,
projeção alta, subfascial, incisão no sulco mamário, 70 g de enxerto em
cada mama.
Figura 1 - Mamoplastia de aumento composta. Impante mamário, 275 mL, bilateral,
projeção alta, subfascial, incisão no sulco mamário, 70 g de enxerto em
cada mama.
Figura 2 - Mamoplastia de aumento composta na mama assimétrica. Implante
mamário, 300 mL, bilateral, projeção alta, subfascial, incisão no sulco
mamário, 100 g de enxerto.
Figura 2 - Mamoplastia de aumento composta na mama assimétrica. Implante
mamário, 300 mL, bilateral, projeção alta, subfascial, incisão no sulco
mamário, 100 g de enxerto.
DISCUSSÃO
A mamoplastia de aumento está entre os procedimentos mais populares em cirurgia
estética. Entretanto, cada vez mais os pacientes buscam um resultado de aparência
natural, com medo de uma aparência estigmatizada. A lipoenxertia mamária tornou-se
extremamente popular. No entanto, como esse procedimento sozinho não conseguiu
atingir sozinho os volumes e forma mamária desejados pelas pacientes, a lipoenxertia
passou a ser realizada simultaneamente com um implante. Assim, obtém-se o aumento
mamário desejado com forma anatômica, particularmente na área pré-esternal e porção
superior mamária em pacientes magros4,5. Gordura é injetada
não para aumentar o tamanho, mas para melhorar o contorno e clivagem da mama,
especialmente em pacientes com o pinch test menor que 2 cm2. As pacientes, cada vez mais, buscam
recuperação mais rápida às suas atividades. Grande parte das pacientes hoje em dia
praticam esportes e não toleram a possibilidade de perder qualquer força muscular
após a colocação do implante mamário. Devido a essas duas situações, optamos por não
realizar a loja submuscular nesses casos. Para substituir a cobertura gerada pelo
peitoral maior no polo superior, optamos pelo enxerto de gordura. Acreditamos que
com o sistema de condensação de gordura Puregraft, minimizamos as possíveis
complicações de um enxerto de gordura, uma vez que é o sistema fechado disponível
com maior potencial de concentração de gordura disponível no mercado. Após
lipoaspirada, a gordura passa por duas malhas, onde ao final do processo fica
somente 30-50% da gordura inicial dependo da qualidade da gordura coletada. Assim,
temos uma gordura praticamente livre de óleo e sangue, sem nenhum contato com meio
externo, reduzindo o risco de reabsorção posterior, cistos e necrose gordurosa.
Realizamos uma enxertia criteriosa, baseada nas evidências disponíveis na literatura
para otimizar integração, manutenção do resultado e reduzir possibilidade de necrose
gordurosa. O enxerto de gordura, uma vez integrado, mantém-se sem atrofia,
permitindo um aumento da espessura do pinch test da paciente, dando
uma melhor cobertura, toque mais natural e visando reduzir o risco do
rippling no futuro. A abordagem subfascial nos permite que o
implante fique em uma loja mais justa, não faça tanta pressão na glândula mamária
e
que exista um tecido separando o implante da área onde será realizada a enxertia.
Nossos resultados iniciais estão de acordo com os estudos publicados de mamoplastia
de aumento composta, os quais evidenciaram resultados satisfatórios, polo superior
e
porção medial da mama com adequada cobertura, permitindo um resultado natural, sem
a
necessidade de utilizar implante anatômico, o que reduz o risco de reoperação por
rotação e o custo do implante. As complicações pós-operatórias descritas estão
dentro dos padrões das técnicas clássicas no tempo avaliado18.
CONCLUSÃO
Seguindo o planejamento e técnica proposta, é possível realizar mamoplastia de
aumento composta com baixa incidência de complicações e resultado estético
satisfatório.
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5. Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS,
Brasil.
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